O castigo agora chega a galope para Silas Câmara
Relator do processo pediu ontem a prisão de Silas Câmara e orientou o TSE a cassar o mandato do parlamentar

Neuton Corrêa, BNC AMAZONAS
Publicado em: 04/11/2022 às 06:38 | Atualizado em: 04/11/2022 às 06:38
Contumaz batedor de carteira de servidores de seu gabinete, conforme a Ação Penal 864 do STF, o deputado federal Silas Câmara (Republicanos) pode ter visto ontem seu castigo chegando a galope.
Para quem contou com as forças do além de ver o caso entrando e saindo da pauta de julgamento da corte há sete anos, agora pode ter visto a sorte mudando.
Para começar, enfim, o julgamento foi aberto. E, rigorosamente, começou contra Silas.
O deputado é acusado de crime de peculato, rachadinha, como ficou conhecido. Essa é a mesma acusação que pesa contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente Bolsonaro.
Esse crime funciona assim. O deputado contrata assessores, que já entram sabendo que terão que dividir o salário com o deputado.
Silas Câmara fez isso com o dinheiro de 17 assessores, no período de um ano, o que lhe rendeu à época, em seu primeiro dos sete mandatos, um saldo de cerca de R$ 250 mil.
A mostra de que o pastor Silas Câmara precisará de muita oração já foi dada pela subprocuradora da República, Lindôra Araújo, que concluiu:
O fato está exaustivamente comprovado nos autos. É que o deputado Silas Câmara implantou na estrutura do gabinete parlamentar uma maneira de agir. Com dinheiro público, depositado pela Câmara dos Deputados, e, para proveito próprio, o dinheiro era depositado na conta dos funcionários e estes repassavam o valor para o réu direta e indiretamente.
E contra os argumentos da defesa, que alegou que parte dinheiro era para pagamento de empréstimos feitos por Silas a juros abaixo do mercado e/ou para o pagamento de aluguel de salas, a procuradora clareou o entendimento.
“Esses inúmeros depósitos eram feitos em valores fracionados, a maioria deles no valor de R$ 1 mil com a finalidade de dificultar a identificação ou origem do dinheiro. Essa era uma clara tentativa de não chamar a atenção dos órgãos de fiscalização”.
Relator
No dia em que o jogo virou, Silas Câmara ainda teve que ouvir o relator do caso, ministro Luís Barroso, dizer:
“O acusado efetivamente se utilizou de seu mandato eletivo para desviar, em proveito próprio, parcela do dinheiro público que deveria ser empregado na remuneração de servidores nomeados em seu gabinete”.
Fator Bolsonaro fragilizado
Por enquanto, o julgamento está suspenso. Volta à análise no próximo dia 10, mas Silas já não conta mais com o fator Bolsonaro.
É que essa variável que pode ter lhe beneficiado, porque, caso fosse condenado, os parâmetros dessa decisão pesariam também contra o filho do presidente, agora perdeu força.
Acontece que Bolsonaro perdeu a eleição. Está fragilizado, apesar de ainda estar no poder.
Sorte e oração
Assim sendo, o deputado Silas Câmara precisará de muita sorte e muita oração para escapar dessa.
Do contrário, poderá ser condenado a prisão e até perder o mandato que obteve esse ano.
Isso pode acontecer porque esse é o voto do relator. E esse voto pode conduzir o entendimento de seus colegas na semana que vem.
Foto: Reprodução/Facebook