Ministro do STF defende a bioeconomia para combater devastação na Amazônia

Diante de um empresariado preocupado com o aumento do desmatamento e grilagem na região, Luís Roberto Barroso destacou a necessidade de que o Brasil vire o jogo em relação à preservação da Amazônia

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Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 13/08/2020 às 18:52 | Atualizado em: 13/08/2020 às 18:52

Em videoconferência com integrantes do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso defendeu que eles usem mecanismo de financiamento internacional para desenvolver a bioeconomia na Amazônia.

Diante de um empresariado preocupado com o aumento do desmatamento e grilagem na região, Luís Roberto Barroso destacou a necessidade de que o Brasil vire o jogo em relação à preservação da Amazônia.

Segundo ele, é necessário que a iniciativa privada atue de forma correta na exploração econômica da região, independentemente de iniciativas governamentais.

O ministro diz que é necessário investimento em ciência para as economias primárias obterem acesso aos mercados a fim de competir internacionalmente.

Em parceria com a professora Patrícia Perrone Campos Mello, o ministro produziu artigo publicado na revista da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) sobre o tema.

O texto foi elaborado para servir de base à conferência que ocorreria em Quioto, no Japão, em abril passado (adiada em razão da pandemia).

Nele, os autores argumentam que os modelos de exploração da região fracassaram e não trouxeram mudança significativa no patamar econômico, social e humano da região, embora a devastação da floresta tenha chegado próxima a 20% da área total.

“Diante desse quadro, cientistas dedicados ao estudo da Amazônia têm procurado desenvolver novas ideias para velhos desafios, apostando na combinação da sociobiodiversidade com novas tecnologias”, defendem.
Bioeconomia

E prosseguem: “Uma dessas apostas é a bioeconomia, um modelo econômico que prioriza a sustentabilidade. Ela se funda em inovações no campo da tecnologia e das ciências biológicas, com vistas a diminuir a dependência de recursos não renováveis e a viabilizar processos produtivos e industriais de baixo carbono e baixo impacto ambiental.”

Segundo os autores, a bioeconomia da floresta consiste em utilizar o conhecimento propiciado pelas ciências, pela tecnologia, pela inovação e pelo planejamento estratégico para a elaboração de novos produtos farmacêuticos, cosméticos e alimentos, bem como para a pesquisa de novos materiais e soluções energéticas.

Eles citam como exemplos as plantas da Amazônia que contêm segredos bioquímicos, como novas moléculas, enzimas, antibióticos e fungicidas naturais, que podem ser sintetizados em laboratório e resultar em produtos de valor agregado.

Também destacam os frutos típicos da região, entre os quais o açaí e o cupuaçu.

“É nesse contexto que se concebe o conceito de Amazônia 4.0, que visa agregar às potencialidades da sociobiodiversidade amazônica – fauna, flora e conhecimentos tradicionais – as novas tecnologias e possibilidades da quarta revolução industrial.”

A ideia é transformar os recursos naturais em produtos de maior valor agregado, gerados e consumidos de forma sustentável.

“Todo esse processo deve ter a justa preocupação de trazer benefícios substanciais para as comunidades locais. Como intuitivo, tudo o que se expôs até aqui envolve educação, ciência, tecnologia, investimento e atração de recursos humanos para a região, vindos de outras partes do Brasil e também de grandes centros internacionais”, dizem.

Ajuda internacional

Destacam ainda que a participação internacional também pode ser um fator importante na contenção do desmatamento e na sustentabilidade da economia da Amazônia.

“Países desenvolvidos que destruíram suas próprias florestas e desejam a preservação da Amazônia devem contribuir financeiramente para tanto, através do aperfeiçoamento de mecanismos como o sistema de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Ambiental (REED+).”

Além disso, lembram que boa parte da produção agrícola, pecuária, madeireira e mineral da Amazônia destina-se ao mercado de consumo internacional.

Por fim, eles dizem que é um equívoco tratar a floresta amazônica como um empecilho ao desenvolvimento.

“A ignorância, a necessidade e a omissão estatal são os inimigos da Amazônia. A ciência, a inclusão social e a conscientização da sociedade serão a sua salvação.”

Foto: SCO/STF/arquivo

 

 

 

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