Amazonenses e nortistas ‘limados’ da mesa diretora da Câmara
Nenhum deputado do Norte ou do Amazonas foi eleito para a mesa diretora da Câmara, que é dominada por parlamentares do Nordeste e Sudeste.

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 01/02/2025 às 20:33 | Atualizado em: 01/02/2025 às 20:36
Eleita com o apoio da maioria dos partidos, conquistando 444 dos 513 votos (86,54%), neste 1º de fevereiro de 2025, a mesa diretora, sob o comando do novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), não traz nenhum representante do Amazonas ou de qualquer estado da região Norte. Assim como os estados do Centro-Oeste não foram contemplados.
Em vez disso, dos 11 cargos disponíveis, cinco deles são do Nordeste, incluindo o presidente. Outras cinco vagas foram destinadas a deputados da região Sudeste e apenas um do Sul.
No entanto, no Senado foi diferente. As regiões mais pobres e menos favorecidas foram as mais contempladas na formação da mesa diretora: Norte ficou com cinco cargos, Nordeste, quatro, e o Centro-Oeste apenas um.
No caso do Norte, além do presidente Davi Alcolumbre, do Amapá, a mesa do Senado também elegeu o primeiro vice-presidente, Eduardo Gomes, do Tocantins, o segundo secretário, Confúcio Moura, de Rondônia, e os suplentes Chico Rodrigues e Mecias de Jesus, ambos do estado de Roraima.
Tais resultados, especialmente na Câmara dos Deputados, contrastam com dados e fatos de quatro anos atrás quando o Amazonas despontou na eleição da mesa diretora, levando o então estreante de mandato federal, o deputado Marcelo Ramos.

Fato extraordinário
Instado a falar sobre esse seu momento, em 2021, em comparação ao esvaziamento da bancada do Amazonas e do Norte na eleição da mesa de 2025, Ramos fez a seguinte análise:
“Sim, foi extraordinário o que aconteceu comigo. Um deputado de primeiro mandato do Norte, do Amazonas, ser vice-presidente da Câmara. Mas, acho que tem muito a ver com a característica do exercício do mandato, pois, quando virei deputado federal, dediquei-me à atividade parlamentar, fazer projetos de lei, discutir os temas, participar de reunião das comissões, dedicação aos debates nacionais, conhecer o regimento interno e entender o funcionamento da casa”.
E prosseguiu:
“Porém, eu paguei um preço por essa dedicação visto que me afastou da atividade do dia a dia da política na cidade, com as pessoas, até mesmo um pouco de assistencialismo. Por outro lado, nós temos deputados com essas características mais paroquiais, de cuidar do dia a dia das cidades, das demandas de prefeitos, das pessoas, do trabalho comunitário. Portanto, essa característica não permite que você tenha, com celeridade, um destaque nacional, principalmente sendo de um estado mais periférico”, disse o ex-deputado Marcelo Ramos.
Além do mais, o ex-deputado conta que foi muito prestigiado no início de seu mandato, dentro do partido, o PL (antes de Bolsonaro entrar).
Ramos lembra que três meses depois de iniciar o mandato, virou presidente da Comissão da Reforma da Previdência. Dessa forma, já conhecido, participava dos debates nacionais, falava com todos os líderes da casa. Daí, foi um passo para entrar na chapa de Arthur Lira e ser eleito 1º vice-presidente da Câmara.
Declínio
Porém, o declínio no prestígio político ocorreu quando começou a enfrentar o governo de Jair Bolsonaro e indiretamente o comando de Arthur Lira.
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Aí, o então presidente Bolsonaro resolveu entrar no PL e Marcelo Ramos decidiu deixar a legenda. Comprou briga com a direção do partido e perdeu o posto de 1º vice-presidente da Câmara. Para completar, nas eleições de 2022, não foi reeleito deputado federal.
Prejuízo ao Amazonas
Já em relação à composição da mesa diretora da Câmara, Marcelo Ramos classificou como um prejuízo enorme não ter nenhum parlamentar do Norte. Mas, disse ser sorte ter o senador Davi Alcolumbre, do Amapá, na presidência do Senado.
Líderes no Senado
Além do mais, Ramos citou as lideranças dos senadores Omar Aziz, que comanda o PSD de 15 membros, Eduardo Braga, líder do MDB, com 11 senadores. Além do senador Plínio Valério, novo líder do PSDB, que agora tem três representantes no Senado.
“Esses três senadores do Amazonas lideram 29 parlamentares, pouco mais de um terço do Senado (27). Isso é muito significativo, muito forte. O grande problema na Câmara é que a gente não ocupa muitos espaços estratégicos, justamente por conta das características dos nossos parlamentares. São deputados extremamente valorosos, dedicados nesse cuidado da política mais do dia a dia, mais localizada, comunitária e assistencial. É, portanto, uma política cujos resultados concretos vão mostrando que surte muito mais efeito do que o trabalho legislativo stricto sensu (sentido estrito), concluiu o ex-deputado federal Marcelo Ramos.
Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados