Lula barra qualquer ato sobre golpe militar de 1964
Em recente entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, da RedeTV, Lula disse que não queria remoer o passado e precisava fazer o país avançar.

Diamantino Junior
Publicado em: 09/03/2024 às 16:50 | Atualizado em: 09/03/2024 às 16:55
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou a seus ministros e a todo o governo que não realizem quaisquer ações, cerimônias, discursos ou produzam peças comemorativas por ocasião do aniversário em comemoração aos 60 anos do golpe militar.
Lula não quer criar novas tensões com o Exército e isso continua sendo uma questão importante no quartel, embora a atual geração das Forças Armadas seja diferente daquela época. Mas alguns comandantes iniciaram esforços para impedir a posse do petista, numa ação liderada por Jair Bolsonaro.
Lula esteve diretamente envolvido nessas negociações que visavam impedir protestos relacionados ao golpe de 1964.
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O Correio Braziliense apurou que, na tarde da última quinta-feira (7/3), o presidente discutiu o assunto com o Ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, no Palácio do Planalto.
O Ministério tem uma extensa programação planejada para lembrar o dia, que foi tema de reportagem do Correio em janeiro deste ano, mas que agora está sendo totalmente revisado por conta da presidência.
O Palácio do Planalto disse que não comentaria o assunto. A assessoria do Ministério dos Direitos Humanos nega que tenha ocorrido encontro entre Almeida e Lula.
O Ministério da Justiça chegou a anunciar no ano passado, sob a direção do então ministro da Justiça Flávio Dino, a construção do Museu da Memória e da Verdade, que será inaugurado no dia 31 de março, projeto seria financiado com recursos do Ministério, mas não será reiniciado até novo aviso.
O anúncio foi feito no Chile, no 50º aniversário do golpe que derrubou Salvador Allende. Em Santiago, as autoridades brasileiras – como Dino e Silvio Almeida – se manifestaram. Mas o imperativo aqui é evitar o tema 1964.
No governo, essa diretriz presidencial é considerada uma “ordem expressa” de Lula.”
A posição do presidente também é entendida no Planalto como o “outro lado” da história: se os militares, com a declaração do ministro da Defesa, José Múcio, não publicarão nota sobre a chamada “ordem do dia” comemorativa do 31 de março, por parte da população o procedimento será o mesmo, apesar desta diretriz do governo o governo enfrentar críticas de familiares e vítimas da ditadura.
Em recente entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, da RedeTV, Lula disse que não queria remoer o passado e precisava fazer o país avançar. E disse estar muito preocupado com a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.
“O que não sei é como continuar a história, continuar a análise, mantê-la atualizada, ou seja, é uma parte da história brasileira que ainda não temos informações suficientes, porque ainda estamos lá. As pessoas estão perdidas porque algumas pessoas não estão qualificadas. Mas, na realidade, não vou focar nisso e vou tentar fazer este país avançar”, acrescentou.
A decisão de Lula de evitar organizar e falar sobre o 60º aniversário da derrubada do regime afetou muitos programas estabelecidos em diversas áreas do governo. Por exemplo, o Comitê de Anistia organizou uma agenda para ouvir casos simbólicos, em um evento que se chamará “Não Repetirei Esta Semana”, evento que pelo menos com esse nome será encerrado.
A decisão recebida por Lula é um sinal de que a Comissão de Mortes e Desaparecidos Políticos, extinta no final do governo Jair Bolsonaro, dificilmente será reconstruída. A declaração com essa previsão ficou pronta e ficou na mesa do presidente por quase um ano, aguardando sua assinatura.
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Foto: Ricardo Stuckert/PR