Já dura quase 24 horas o sequestro do boi Garantido
Antonio Andrade ainda tem uma escolha honrosa: pedir para sair. Ou, do contrário, será novamente escorraçado do boi
Neuton Corrêa, do BNC Amazonas
Publicado em: 20/06/2023 às 05:22 | Atualizado em: 20/06/2023 às 11:30
O boi-bumbá Garantido vai completar nesta manhã 24 horas sob sequestro.
O touro branco da Baixa de São José está confinado ilegalmente na Cidade Garantido desde ontem e só sai para disputar com o Caprichoso, no festival folclórico, se a diretoria receber hoje do Governo do Estado verba extra para ir à disputa.
O prazo para solução do impasse foi dado pelo presidente do bumbá, Antônio Andrade.
Os termos da chantagem estão documentados em ofício enviado pelo dirigente ao secretário de Estado da Cultura, Marcos Apolo Muniz.
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Insegurança
Mas o sequestro não causa insegurança apenas na parte de cima da ilha tupinambarana.
Empresas de transporte e agências de turismo que montaram viagens para o evento se questionavam horas após a ameaça sobre a realização do festival.
Porém, ele cobrou uma solução dos dirigentes e órgãos internos do próprio Garantido, que têm poder de deliberação e decisão sobre a agremiação.
Também apontou providência pela via judicial, provocado por órgãos públicos de controle e fiscalização, já que os bumbás recebem robustos financiamentos do Governo do Estado.
Nesse caso, poderia-se esperar uma reação de duas instâncias internas da organização da agremiação: dos conselhos de Ética e Fiscal do boi.
Silêncio e conivência
Eis aqui outro problema observado, ato contínuo ao sequestro do Garantido.
Quase 24 horas depois da chantagem, nenhum dos dois órgão emitiu, sequer, uma nota pública.
Isoladamente, entre os dirigentes, nenhuma voz se levanta até aqui contra o terror instituído.
Nem mesmo sócios que lançam pré-candidatura ao comando do bumbá se manifestaram clara e publicamente cobrando o fim do impasse.
Da mesma forma, apesar do terror afetar a economia do município, não se vê nenhuma posição das autoridades públicas constituídas de Parintins.
Nesse caso, faz-se um silêncio ensurdecedor.
Interesses locais e o receio de se envolver em uma festa carregada de paixões parecem imobilizar aqueles que poderiam também gritar contra o vexame estabelecido.
Sem credibilidade
Mas o pior da situação é que o protagonista da ameaça goza de pouca ou nenhuma confiança/credibilidade para liderar o que para ele pode ser barganha.
Antonio Andrade já foi expulso do quadro de sócios do Garantido por irregularidades em sua gestão, quando presidiu o bumbá entre 2001 e 2002.
Ficou assim, punido, por cerca de 15 anos, antes de voltar a ganhar o comando do Garantido.
Mas a desconfiança com o trabalho dele voltaria às cargas no ano passado, quando levou para o Bumbódromo um boi, literalmente, caindo aos pedaços.
A desorganização que se viu na arena viria a se agravar ainda no festival 2022, com artistas e dirigentes pedindo demissão coletiva. Somaram-se a isso trabalhadores da Cidade Garantido na frente da sede do bumbá cobrando o pagamento da mão de obra.
Sem serem ouvidos, eles incendiaram alegorias. Literalmente, tocaram fogo no boi.
Contudo, após receber socorro financeiro extraordinário para amenizar a crise, ao invés de cuidar da organização do bumbá para a arena, Antônio Andrade se mostrou preocupado com outra coisa.
Ele queria mesmo era se manter na presidência. Por isso, deu início a um golpe para esticar seu mandato por mais um ano. Houve grita na Cidade Garantido.
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Mas as tentativas de violar as regras de eleição no boi só foram frustradas para ele com decisões judiciais.
Ontem, novamente, Antônio Andrade, que é analista tributário da Receita Federal, voltou a aprontar.
Antes disso, ele já havia tentado vender ingressos e receber patrocínios antecipados do festival de 2024, que nem começou a ser preparado.
Ou seja: o presidente do Garantido está desmoralizado.
Mas ainda lhe resta uma escolha honrosa: pedir para sair, enquanto ainda não foi convidado a sair. Do contrário, novamente será escorraçado de seu posto.
Foto: Arquivo BNC, junho de 2018