Governo firma acordo com portos privados rumo à ‘navegação verde’

Ministério dos Portos e Aeroportos diz que a pauta da transição energética é estratégica para políticas de sustentabilidade no setor portuário brasileiro

Governo firma acordo com portos privados rumo à ‘navegação verde’

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília  

Publicado em: 25/10/2024 às 17:29 | Atualizado em: 25/10/2024 às 17:55

A transição energética no setor de transportes, com o fim de mudar as fontes de energia dos combustíveis fósseis para energia limpa e sustentável, entra no foco do governo federal e a iniciativa privada.

Nesta quinta-feira (24), o Ministério de Portos e Aeroportos e a Associação de Terminais Portuários Privados (ATP) firmaram um acordo de cooperação técnica nesse sentido. Isto, para promover uma política de sustentabilidade e inovação no setor.

A declaração foi assinada durante o 11º Encontro ATP – Transição Energética no Transporte Marítimo, que ocorreu em Brasília. Representantes de portos privados do Amazonas estiveram presentes no encontro.

Com a assinatura do acordo, governo e a iniciativa privada concordam em compartilhar dados e informações para a construção da política de sustentabilidade. Com isso, as partes se comprometeram a colaborar na elaboração de estudos e relatórios técnicos sobre melhores práticas e inovações sustentáveis aplicáveis ao setor portuário.

O prazo de vigência do acordo de cooperação técnica será de dois anos, contados a partir da data de assinatura, podendo ser prorrogado pelo mesmo período com o uso de um termo aditivo.

Leia mais

Criação da secretaria de hidrovias é marco histórico à navegação na Amazônia

Descarbonização

Na visão do Ministério dos Portos, a descarbonização do transporte marítimo é prioridade no debate global. Atualmente, segundo o governo, o modal é responsável por 3% das emissões globais de Gases do Efeito Estufa (GEE) em todo o mundo.

Já a Associação de Terminais Portuários Privados destacou que a proposta do 11º Encontro ATP é discutir o tema com autoridades dos segmentos público e privado, mostrando as ameaças e oportunidades da transição energética para os terminais portuários brasileiros.

Em missão internacional na Europa, Costa Filho enviou mensagem de vídeo para o evento 11º Encontro ATP no qual declarou:

A descarbonização dos nossos portos, a priorização dos navios verdes e a agenda da sustentabilidade entraram na ordem do nosso governo. Vamos trabalhar juntos por isso”, disse o ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho.

Transição urgente

A secretária-executiva do MPor, Mariana Pescatori, destacou a urgência de trazer a transição energética no transporte marítimo para o centro do debate. Principalmente por conta dos efeitos das mudanças climáticas.

Desse modo, ela citou a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul e a forte estiagem na região Norte. Por isso, é preciso estar preparado com medidas efetivas, políticas públicas e planejamento para que os eventos climáticos não causem prejuízos tão grandes e necessitem de investimentos maiores do que o país está preparado.

Leia mais

Portos verdes

Pescatori também classificou essa nova política de transição energética como uma oportunidade de inovação e de novos negócios e não como uma ameaça aos portos. Afirmou que o futuro dos portos é verde.

“Um porto capaz de oferecer várias alternativas de energéticos verdes para os navios e embarcações de apoio portuário, tanto de longo curso, quanto de cabotagem”, explicou a secretária-executiva do Mpor.

Por sua vez, o diretor-geral da Agência Nacional de Transporte Aquaviário (Antaq), Eduardo Nery, informou que a Antaq está realizando estudos voltados para o diagnóstico da transição energética e como está a capacidade de suprimento de energia elétrica.

Por fim, o diretor-presidente da Associação de Terminais Portuários Privados (ATP), almirante Murilo Barbosa, destacou a importância do debate entre o governo e a iniciativa privada. E, ainda, reforçou o compromisso de continuar a trabalhar pelas oportunidades e inovação para uma transição energética no transporte marítimo.

Leia mais

Governador aponta importância de portos no rio Amazonas para ZFM

Gás natural

Ao responder questionamento do BNC sobre a transição energética no setor de transporte, o presidente da Associação Brasileira de Navegação Interior (Abani), o amazonense Dodó Carvalho, disse o seguinte:

“Especialmente na navegação interior, a transição mais perto ou mais viável, seja o uso do gás natural nas embarcações. Só que isso ainda depende da engenharia, dizer como nós vamos armazenar esse gás nessas embarcações. Então, acho que é um caminho ainda longo para a gente trilhar e chegar à renovação de frota voltada ao gás natural, que é o que nós temos bastante aqui na Amazônia”.

Energia solar

Outra alternativa, segundo Dodó Carvalho, para realizar a transição energética na navegação, hoje praticamente consumida por meio de combustível fóssil (gasolina, diesel), é o uso da energia solar.

No entanto, o presidente da Abani, embora reconheça a existência de pequenos movimentos em relação a essa alternativa energética, ainda é incipiente para a real necessidade.

“Portanto, não vejo, no curto prazo, essa transição acontecendo na navegação interior. Mais perto talvez seja mesmo o gás natural e esse mais perto para mim é pelo menos uns 10 anos para que a gente possa minimizar”.

Bicombustível

Dodó Carvalho ressalta, por fim, o uso do biocombustível. Ele cita exemplo da empresa Hermasa (Amaggi), que tem em um de seus comboios de transporte, de Porto Velho/RO a Itacoatiara/AM, um empurrador que só queima biocombustível, óleo vegetal.

Empurrador “Arlindo Cavalca”, da Hermasa (Amaggi) é a primeira embarcação do país totalmente movida a biodiesel B100

“Então, já temos alguma coisa nesse sentido. Mas ainda muito em campo experimental e com um preço fora da curva”, declarou o presidente Associação Brasileira de Navegação Interior.

Fotos: Divulgação