Gilmar Mendes diz que país era governado por ‘gente do porão’

Gilmar Mendes não poupou ataques aos grupos suspeitos de tramar uma ruptura no país.

STF manda liberar 85 presas para dar espaço às golpistas do DF

Diamantino Junior

Publicado em: 03/02/2023 às 12:42 | Atualizado em: 03/02/2023 às 12:43

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes reagiu às denúncias feitas pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES), que ligou o ex-presidente Jair Bolsonaro mais uma vez a uma ideia de um golpe.

“O que mostra é que a gente estava sendo governado por uma gente do porão […] Vamos esperar o resultado das investigações, mas essas pessoas se comunicaram”, disse.

Mendes está em Lisboa para a conferência realizada pelo Lide, ao lado do ministro Ricardo Lewandowski. Os ministros Alexandre de Moraes e Luis Roberto Barroso também farão discursos, mas por videoconferência.

Há dois meses, quando a mesma conferência foi organizada em Nova York, bolsonaristas atacaram os ministros diante do local onde a reunião ocorria. Agora, em Lisboa, a segurança foi amplamente reforçada.

Gilmar Mendes não poupou ataques aos grupos suspeitos de tramar uma ruptura no país. “Esse é um dado da realidade. Pessoas da milícia do Rio de Janeiro, com contato na política internacional, isso é o que resulta quando vemos a nominata desses personagens”, afirmou Gilmar Mendes, antes do início da conferência.

“Estávamos lidando com gente do porão”, insistiu. “Descemos na escala da degradação política”, concluiu o ministro.

Em entrevista ao jornal português Expresso, Gilmar Mendes ainda falou nesta sexta-feira que Bolsonaro flertou com o autoritarismo.

Ao tomar a palavra durante seu discurso, Gilmar Mendes destacou ainda a necessidade de que as investigações apontem quem ocupava o topo da pirâmide de um grupo de disseminação de desinformação. Para ele, é necessário saber o que ganhavam, politicamente ou financeiramente.

Zumbis consumidores de desinformação

Ele ainda destacou a existência de uma elite política que alimentava “zumbis consumidores de desinformação”.

Em sua avaliação, investigar isso é importante para ter boa qualidade democrática e para que nunca mais sejamos “pária internacional”. Para ele, em 2023, o Brasil vive uma nova etapa de sua história.

Mendes ainda fez uma defesa das instituições. “A democracia não é a vontade da maioria. Mas compromissos com nova gerações. Instituições servem para garantir nossa sobrevivência e sirva para conter impulsos ditatoriais”.

Leia mais

Após ameaçar o presidente Lula, Wallace é suspenso pelo COB

Em outro discurso, o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandovsky insistiu que é hora de “enfrentar o déficit democrático”. “O Brasil sobreviveu ao 8 de janeiro, quando as sedes dos poderes foram destruídas. Mas a democracia é resiliente e sobreviveu aos ataques antidemocráticos”, afirmou.

Para ele, as instituições tem resistido “galhardamente aos desafios” . Ele ainda qualificou as tentativas de golpe em 8 de janeiro de “acontecimentos sombrios de e uma turba enfurecida”.

Sua opinião, porém, é que isso acabou “fortalecendo a democracia” e que a união dos três poderes e governadores foi “inédito e mostra a pujança das instituições”.

Bolsonaro autorizou?

O senador Marcos do Val, em coletiva de imprensa na quinta-feira, detalhou um plano supostamente articulado pelo ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) para grampear o ministro Alexandre de Moraes. A meta seria constrangê-lo e, eventualmente, promover um golpe.

Do Val detalhou ainda uma reunião com o Jair Bolsonaro. O senador contou como ocorreu o encontro entre ele, o ex-presidente e Daniel Silveira.

“Na hora eu disse o seguinte: ‘não vou dar a resposta agora, vou pensar sobre isso’, porque eu já estava pensando que eu precisava reportar isso pro ministro [Alexandre de Moraes]”, narrou o senador. “Ele [Bolsonaro] falou ‘tá bom, nós aguardamos’. Só isso”, relatou Do Val.

Questionado se a resposta de Bolsonaro não indicaria que ele endossou o plano de golpe, Do Val disse que isso teria que ser perguntado ao próprio ex-presidente.

Leia mais na coluna do Jamil Chade no UOL