Fracasso do PT em Manaus elege Sinésio Campos ‘bode expiatório’

Presidente estadual tem dois pedidos de expulsão do partido.

Fracasso do PT em Manaus elege Sinésio Campos 'bode expiatório'

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 30/10/2024 às 16:55 | Atualizado em: 30/10/2024 às 17:59

O desempenho pífio do Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições de 2024, especialmente em Manaus, já tem o seu “bode expiatório”.

Trata-se do único deputado estadual da legenda nos últimos 25 anos: o professor Sinésio Campos. Também presidente do diretório estadual, ele é deputado no Amazonas desde 1999.

Desse modo, Campos conquistou oito mandatos consecutivos para a Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM).

Agora, o petista enfrenta dois pedidos de afastamento da direção estadual.

Além disso, sua reeleição para um terceiro mandato à frente do PT do Amazonas está praticamente descartada.

Embora ainda tenha poder e voto entre os membros do diretório estadual (delegados), o deputado petista não pode mais se reeleger, segundo informaram fontes do partido.

As conversas sobre o processo de eleição direta no PT nacional, estadual e municipal começam agora, em novembro.

E as eleições de novos dirigentes são em 2025.

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Sem chance

“A sucessão do Sinésio é automática, inevitável e irreversível. Não tem chance nenhuma de ele continuar como presidente pelos últimos acontecimentos, Por exemplo, por ter abraçado O União Brasil e outras candidaturas de direita. Mas, também, por defender pautas como garimpo ilegal, desmatamento, desapropriação de terras indígenas e de quilombolas na região de Silves”, disse um integrante do PT.

E prosseguiu:

“Além disso, falou mal do combate aos incêndios e chamou Marina Silva de inoperante, uma ministra do governo Lula. Ele bateu de frente com o governo federal, bateu de frente com a direção do partido, delegados e membros do PT, como o defensor público Carlos Almeida”, disse o integrante do PT, que pediu anonimato.

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Acusações

Assim sendo, nas eleições municipais deste ano, Campos foi acusado de não caminhar ao lado do candidato do PT a prefeito de Manaus, Marcelo Ramos.

O ex-deputado federal, recém-chegado ao partido, depois de passar pelo PCdoB, PSB, PSD e até pelo PL, ficou na quinta posição do pleito. Ramos obteve apenas 66.528 votos, o equivalente a 6%.

Dessa forma, reunindo um dos piores desempenhos do partido em Manaus, no estado e em todo o país, e ainda a falta de empenho na candidatura da federação Brasil da Esperança (PT-PCdoB-PV), Campos ainda enfrenta dois pedidos de expulsão, tanto dos quadros petistas quanto da direção estadual.

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Rumo à extrema direita

Além do mais, os bastidores da política apontaram que o presidente estadual do PT apoiou, por fora, a candidatura do colega deputado estadual Roberto Cidade (União Brasil).

E ainda de fazer parte do grupo do governador Wilson Lima (União Brasil), para onde pretendia levar a legenda.

Os petistas adversários de Campos pediram investigação, junto à direção nacional do PT, para checar e saber qual o grau de comprometimento do parlamentar com a extrema direita do Amazonas.

Crime eleitoral

Em 10 de outubro deste ano, a executiva municipal do PT pediu afastamento de Campos

A decisão ocorreu após a Polícia Federal apreender R$ 20 mil em espécie com uma de suas assessoras, em um voo para Benjamin Constant, onde o parlamentar disse manter sua base política.

Isso teria ocorrido no dia 3 de outubro, pois, três dias antes da votação do primeiro turno.

Campos teria admitido ser o dono de parte do dinheiro, alegando que era para “custear despesas de assessores” em Benjamim Constant.

Por conta disso, o diretório municipal do PT, presidido por Valdemir Santana, aprovou o afastamento de Campos por 10 votos a favor, 2 contrários e 1 abstenção.

O afastamento foi proposto pelo grupo liderado pelo único vereador petista eleito, José Ricardo Wendling, adversário interno de Campos.

O pedido de afastamento foi enviado ao diretório nacional do PT.

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Sem competência

Em resposta, a direção estadual do PT (Sinésio Campos) disse que o diretório municipal (Valdemir Santana) é desprovido de competência para afastar qualquer membro da executiva estadual.

Portanto, o pedido de afastamento é uma usurpação de competência, que atropela o estatuto partidário, segundo Campos.

Além disso, a ação revelaria interesse no desgaste, perseguição política interna e a antecipação das eleições do PT, conforme o deputado.

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Com relação aos R$ 20 mil encontrados pela Polícia Federal nas eleições, a nota de esclarecimento do presidente do PT Amazonas diz o seguinte:

“A apreensão de R$ 20 mil, quando aguardava na sala de espera a autorização para decolar ao município de Tabatinga e, posteriormente, seguiria de lancha a Benjamin Constant, Atalaia do Norte e outros municípios, já foi esclarecido, tanto na superintendência da Polícia Federal quanto à sociedade amazonense”.

Do mesmo modo, diz a nota, que a origem do dinheiro é lícita, fruto de seu salário como deputado e serviria para custear despesas de sua viagem e de seus três assessores: despesas com transporte, alimentação, hospedagem e outros.

Cargo mantido

Por fim, o documento informa que o presidente estadual do PT continua no cargo e põe seu mandato de deputado estadual a serviço da sociedade e da luta dos trabalhadores e trabalhadoras amazonenses.

“Todavia, repugnamos posturas descabidas e fantasiosas que queiram atentar contra o Partido dos Trabalhadores, seus militantes e dirigentes”.

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Segundo pedido

Em outro pedido, o defensor público Carlos Almeida Filho (ex-vice-governador do Amazonas, primeiro mandato de Wilson Lima – 2019-2022), agora membro do PT, também pediu a “cabeça” de Campos da direção do partido.

Isso porque o parlamentar petista subscreveu a aprovação, na Assembleia Legislativa do Amazonas, do projeto de lei 972/2023, que criminaliza moradores de ocupações Irregulares.

A proposta é da deputada estadual Débora Menezes, do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro e do candidato derrotado em Manaus, Alberto Neto.

Sob análise

O pedido de Carlos Almeida foi enviado para à presidência da comissão executiva nacional do PT, em Brasília. Até o momento a direção nacional não se pronunciou.

Do mesmo modo, Campos, não se manifestou sobre esse segundo pedido de afastamento do comando do partido no estado.

Foto: divulgação