Dossiê lista 54 crimes potenciais cometidos por Bolsonaro

Levantamento inédito do projeto Capivara mostra crimes eleitorais, na pandemia de covid, de corrupção, de ódio e por aí vai

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 12/02/2024 às 16:49 | Atualizado em: 12/02/2024 às 17:14

Após ser alvo da operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal (PF) realizada na última quinta-feira (8), na qual teve o passaporte apreendido, o ex-presidente Jair Bolsonaro assiste, agora, a divulgação do maior e mais completo levantamento de suas condutas potencialmente criminosas.

Denominado “Dossiê Bolsonaro”, o levantamento inédito, produzido pelo projeto Capivara, lista, categoriza e tipifica as diversas falas, ações e condutas potencialmente criminosas do principal líder da extrema-direita brasileira, Jair Messias Bolsonaro.

Ao todo são 54 tipos de crimes, que teriam sido cometidos por Bolsonaro, antes, durante e depois do seu governo. Tais crimes foram classificados em: eleitorais (17), crimes na pandemia (11), de corrupção (15) e crimes de ódio.

Entre os crimes eleitorais estão os ataques às urnas eletrônicas, as articulações e mobilizações para a realização de golpe de Estado, ação coordenada de campanha eleitoral paralela à campanha oficial e distribuição de recursos públicos no período eleitoral, como a isenção fiscal do salário dos pastores.

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Infrações na pandemia

Por outro lado, os crimes ocorridos na pandemia de covid-19, listados inclusive pela CPI do Senado, que teve o senador do Amazonas Omar Aziz (PSD) como relator, o Dossiê Bolsonaro aponta: epidemia com resultado de morte, infração de medida sanitária preventiva, incitação ao crime, emprego irregular de verbas públicas, e charlatanismo, no caso da defesa ferrenha e compra de medicamentos sem eficácia para covid-19, como incluindo cloroquina, azitromicina e Tamiflu.

Ainda nessa tipificação de crime, que teriam ocorrido na pandemia, o Dossiê Bolsonaro traz à tona o “genocídio de indígenas” e crime contra a humanidade.

“A forma como o governo federal conduziu a política indigenista, antes e durante a pandemia de covid-19, teria se mostrado apta a destruir total ou parcialmente esses grupos, bem como a causar intenso sofrimento e desaparecimento de importantes referências culturais”, afirmam os autores do dossiê.

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Corrupção

No quesito corrupção, o coletivo independente do projeto Capivara lista pelo menos 15 crimes que o ex-presidente teria cometido.

Entre eles: contratação de funcionários fantasmas, desvio de salários de assessores e funcionários públicos, joias da Arábia Saudita, associação com milícias, interferência na Polícia Federal.

Lista ainda a criação e articulação do orçamento secreto, compra de caminhões com 800% de superfaturamento, ocultação de patrimônio e roubo de cofre, superfaturamento em compra de combustíveis e ainda os 51 imóveis comprados em dinheiro vivo.

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Crimes de ódio

As frases e manifestações de incitação à violência e discriminação do ex-presidente Bolsonaro, desde quando era deputado federal, na campanha e eleitoral e durante o seu governo, são listadas no dossiê como “crimes de ódio”.

Entre elas estão:

“Não estupro porque você não merece”, pronunciada em 2003, em discussão com a colega deputada Maria do Rosário no salão verde da Câmara.

“Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco, e meus filhos foram muito bem-educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o teu”.

Essa fala ocorreu em 28 de março de 2011, em uma entrevista de Bolsonaro, que associou o namoro com mulheres negras à promiscuidade ao ser perguntado o que faria se seu filho se apaixonasse por uma mulher negra.

“Eu sou a favor da tortura, tu sabe disso!”, em entrevista à TV Câmara, em 1999, Jair Bolsonaro declara publicamente ser favorável ao crime de tortura.

“Minha vontade é encher tua boca com uma porrada!”. O presidente Jair Bolsonaro afirmou a um jornalista, em 2020.

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Justiça

De acordo com o coletivo do projeto Capivara, o Dossiê Bolsonaro foi produzido com a finalidade de criar um registro sólido e duradouro da trajetória política do ex-presidente com informações verificáveis a respeito de suas atitudes e discursos em temas fundamentais à população e à democracia brasileira.

Confiamos que a Justiça do país apurará com o devido rigor todas as dezenas de ocorrências listadas”, afirmam os autores do levantamento.

O projeto Capivara é um coletivo independente dedicado a investigar os “podres” da extrema-direita no Brasil e mobilizar a população para cobrar por Justiça.

Cinemateca

Na página eletrônica onde está o Dossiê Bolsonaro, consta ainda o tópico “Cinemateca do Jair”, trazendo 12 cartazes com paródias de fimes conhecidos e que relaciona às ações do ex-presidente da República.

Dossiê Bolsonaro, na íntegra.

Foto: Alan Santos/Presidência da República