Cientista do Inpa diz que BR-319 aproxima Manaus do arco do desmatamento

A área de aproximadamente 500 mil km² concentra 80% do desmatamento na Amazônia

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 15/05/2025 às 19:46 | Atualizado em: 15/05/2025 às 19:48

O cientista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Philip Fearnside afirmou que o asfaltamento da BR-319 ligaria Manaus à região do arco do desmatamento, que vai do oeste do Maranhão e sul do Pará em direção ao oeste da Amazônia, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre.

A área de aproximadamente 500 mil km² concentra 80% do desmatamento na Amazônia.

Ao ser questionado pelo InfoAmazonia, o site de geojornalismo, sobre o governo do presidente Lula da Silva em relação ao meio ambiente, Fearnside disse que “certamente Lula é muito melhor que Bolsonaro em termos de meio ambiente, não há dúvidas sobre isso”.

Contudo, o pesquisador criticou o presidente por causa da sua posição em relação à estrada. Disse que Lula fez muitas coisas que levarão a mais desmatamento nas próximas décadas, como as estradas.

“Por exemplo, em 10 de setembro do ano passado, ele anunciou seu apoio ao projeto de reconstrução da rodovia BR-319, que ligaria Manaus, na Amazônia central, com o que chamamos de arco do desmatamento, onde 80% do desmatamento se concentra até agora. Isso permitiria que os desmatadores viajassem para diferentes locais e desmatassem a floresta tropical”, advertiu.

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Sustentabilidade

Sobre um plano de desenvolvimento sustentável para a BR-319, o cientista do Inpa diz que historicamente não se segue a um projeto dessa natureza.

“Pode haver um plano com muito esforço para ter governança, mas isso não significa que isso vai acontecer. Talvez daqui a décadas as coisas sejam diferentes, mas, de agora em diante, as decisões devem ser baseadas no que realmente é provável que aconteça, não no que você gostaria que acontecesse”, diz.

Na opinião dele, a BR-319 promovia o desmatamento mesmo ganhando a licença de instalação como modelo de estrada-parque, ou seja, projetada para conservar o meio ambiente.

“De fato, um dos relatórios de impacto ambiental da rodovia BR-319 usou o Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, como exemplo, mostrando um mapa do parque com essas estradas, onde milhões de turistas as visitam e ninguém corta as árvores. Mas esse é um mundo completamente diferente do caos na fronteira da Amazônia”, afirmou.

Foto: reprodução/YouTube