Centrão foge do bolsonarismo e se alinha a Lula por ministérios
Grupo sinaliza movimento em direção ao governo Lula, com PP e Republicanos negociando mais espaço no Executivo em troca de apoio político.

Diamantino Junior
Publicado em: 31/01/2025 às 16:05 | Atualizado em: 31/01/2025 às 16:05
O chamado “centrão” é um bloco informal de partidos políticos brasileiros que se caracteriza por sua flexibilidade ideológica e pragmatismo na relação com o governo. Diferente de grupos com posicionamentos claramente alinhados à esquerda ou à direita, o centrão costuma apoiar a administração vigente em troca de espaços no governo, como ministérios e cargos estratégicos, além da liberação de recursos para suas bases eleitorais.
A atuação do grupo na política nacional tem sido historicamente marcada por sua capacidade de adaptação às mudanças no poder.
Durante o governo Jair Bolsonaro (PL), o grupo se aproximou do bolsonarismo e garantiu forte influência sobre o Executivo, especialmente por meio do controle da Câmara dos Deputados, sob a liderança de Arthur Lira (PP-AL).
Agora, com Lula (PT) na presidência, há sinais claros de que o centrão ensaia um novo movimento em direção ao Planalto.
Jantar sinaliza mudança
Na última segunda-feira (27/1), um jantar em Brasília reuniu figuras de diferentes espectros políticos – de petistas a aliados de Bolsonaro –, mas com um elemento em comum: a presença do Centrão.
O evento homenageou o deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB), cotado para suceder Arthur Lira na presidência da Câmara.
Em seu discurso, Motta defendeu que o grupo não representa “ausência de posição”, mas sim “ausência de preconceitos” ao avaliar propostas de governo.
As falas de Motta e de Lira foram interpretadas como um aviso de que o Centrão pode estar se reaproximando do governo Lula.
A presença de ministros petistas no encontro reforçou essa percepção, assim como as negociações em andamento para a ampliação do espaço do Republicanos e do PP na Esplanada dos Ministérios.
PP e Republicanos querem mais
Atualmente, o PP ocupa apenas o Ministério do Esporte, comandado por André Fufuca. No entanto, o partido avalia um maior alinhamento com o Planalto, especialmente diante da necessidade de garantir mais recursos para seus parlamentares.
Um dos principais entraves para essa aproximação era a resistência do senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP e ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro.
Nos últimos anos, Ciro manteve uma postura crítica ao governo petista e defendeu o ex-presidente.
No entanto, após a atuação de Bolsonaro e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), contra candidatos do PP nas eleições municipais, o senador começou a dar sinais de abertura ao diálogo com Lula.
Em um artigo publicado recentemente, Ciro afirmou que “o centro nunca foi de esquerda ou de direita, mas sempre foi e é conservador”, sugerindo que o próprio Lula teria se deslocado ao centro para governar.
Além disso, evitou ataques diretos ao governo e ressaltou que não defende uma postura de oposição radical, mas sim de crítica responsável.
Lula busca nova base
Diante da desconfiança sobre o apoio de partidos como PSD e União Brasil para 2026, o governo Lula tem investido na construção de um novo “núcleo duro” na Câmara, que incluiria Republicanos, PP e MDB.
Para viabilizar essa estratégia, articula-se uma reforma ministerial que poderia contemplar esses partidos com cargos mais estratégicos.
Entre as possibilidades em estudo está a troca do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, por um nome do Republicanos, como Silvio Costa Filho, atual ministro de Portos e Aeroportos.
Além disso, o líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões, também surge como uma opção para assumir a articulação política do governo.
O pragmatismo do centrão
Embora Ciro Nogueira negue que o PP esteja se aproximando do governo, ele reconhece que não há interesse em uma oposição baseada no “quanto pior, melhor”.
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A posição reflete a essência do centrão: um grupo que evita se fechar a um único espectro ideológico e que se movimenta conforme a conjuntura política, sempre em busca de influência e recursos para sua base.
Dessa forma, o jantar da última segunda-feira foi mais do que uma simples homenagem a Hugo Motta – foi um sinal de que o centrão, mais uma vez, pode ser peça-chave na governabilidade do país.
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Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputado