A contradição de Arthur Lira frente ao debate parlamentar

Arthur Lira adota postura contraditória ao defender debates no Parlamento, mas aprovar urgências sem compromisso com o mérito, e sua defesa das emendas e PEC 9/23 levanta questões sobre transparência.

Diamantino Junior

Publicado em: 20/07/2024 às 10:41 | Atualizado em: 20/07/2024 às 10:41

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), tem adotado uma postura que suscita questionamentos quanto ao verdadeiro comprometimento com a seriedade das discussões parlamentares. Em uma declaração recente, Lira afirmou que propostas relacionadas a mudanças na legislação do aborto, liberação de armas ou drogas não passarão na Casa, embora considere necessário que esses temas sejam discutidos. A contradição surge quando, ao mesmo tempo, ele admite que muitos requerimentos de urgência são votados sem um real compromisso com o mérito das propostas.

Aborto

Um exemplo claro dessa falta de compromisso é o polêmico Projeto de Lei 1904/24, que equipara o aborto de gestação acima de 22 semanas ao homicídio, cuja urgência foi aprovada no mês passado.

Lira tentou justificar a aprovação urgente desse projeto alegando que o objetivo era debater a técnica de assistolia fetal, um procedimento clínico controverso.

No entanto, a urgência aprovada acabou abrangendo um tema muito mais amplo e sensível, gerando interpretações e versões que complicam ainda mais o debate.

Autonomia do Congresso

Lira defende a autonomia do Congresso na indicação de emendas, argumentando que os parlamentares têm uma visão mais minuciosa das necessidades locais. No entanto, sua crítica ao Executivo e a defesa do orçamento impositivo parecem mais uma tentativa de justificar a falta de transparência e o uso inadequado das chamadas “emendas Pix”.

Esses recursos, destinados diretamente a estados e municípios sem a necessidade de formalização prévia de convênios, carecem de um uso pré-definido, abrindo brechas para a falta de controle e fiscalização.

Dívidas dos Partidos e PEC 9/23

Outra postura controversa de Lira está relacionada à aprovação da PEC 9/23, que facilita o pagamento de dívidas dos partidos políticos.

Lira alega que não se trata de uma anistia, mas de uma correção de uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que impôs multas aos partidos fora do período legal.

Contudo, essa justificativa parece ignorar o impacto negativo dessa medida, que pode ser vista como um afrouxamento das regras de transparência e cumprimento das cotas de mulheres e negros.

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A postura adotada por Arthur Lira revela uma incoerência preocupante. Enquanto defende debates no Parlamento e a autonomia dos parlamentares, suas ações muitas vezes parecem descompromissadas com o mérito das propostas e a transparência necessária para um funcionamento ético e justo das instituições democráticas. Essa contradição não apenas enfraquece a confiança nas instituições, mas também coloca em risco a integridade do processo legislativo.

Foto: Mario Agra / Câmara dos Deputados