Agronegócio desbanca ZFM e eleva PIB do Norte a segundo do país
Consultoria prevê produção recorde de soja, com aumento da área plantada. Região foi responsável por 22% de abates de carne bovina

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 03/11/2023 às 15:31 | Atualizado em: 07/11/2023 às 18:39
O crescimento da região Norte surpreendeu no segundo trimestre de 2023. E, no ano, só deve ficar atrás do Centro-Oeste, estima a consultoria econômica 4intelligence.
Dessa forma, de acordo com reportagem do jornal Valor Econômico, foi principalmente o agronegócio que puxou o PIB (produto interno bruto) da região para cima.
Nesse período, a região Norte apresentou, de acordo com a 4i, o segundo maior crescimento agropecuário para o período de abril a junho: 4%, ante o primeiro trimestre, feito o ajuste sazonal, e atrás do Sudeste, com crescimento de 6,6%.
Sobre o Norte, a 4i destaca a previsão de produção recorde de soja, com aumento da área plantada, e o fato de a região ter sido responsável por 22% do total de abates de carne bovina.
“A força do agro conta parte importante da história da atividade no Norte, mas não é só isso. O aumento da renda disponível das famílias também costuma ser bom para estados como o Amazonas”, disse Mauro Sá, professor do departamento de economia e análise da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
A agropecuária, por exemplo, puxa todas as regiões, mas as magnitudes são diferentes. “O Centro-Oeste é o mais beneficiado, mas o Norte também tem área plantada significativa, além do Sul. Já no Sudeste, mesmo que a região tenha uma produção agrícola relevante, a participação no seu PIB é pequena”.
Indústria e serviço
Por outro lado, a 4i nota que o aumento de 2,6% do PIB do Norte no segundo trimestre foi puxado pelo setor de serviços, com avanço de 3%, sendo o comércio responsável por 6,6%.
Na pesquisa mensal do IBGE para a produção industrial, a região Norte é representada por Amazonas e Pará. Neles, a indústria como um todo sobe 6% e 2,1%, respectivamente, no ano até agosto, na contramão da média da indústria brasileira, que recua 0,3%, em relação ao mesmo período de 2022.
Mas, enquanto no Amazonas a indústria de transformação avança 6,5%, a extrativa recua 1,1%. No Pará, ocorre o inverso: a indústria de transformação cai 3,9%, e a extrativa avança 3,2%.
Em períodos de expansão econômica do Brasil, a dinâmica do polo industrial amazônico tende a se beneficiar, diz Sá.
“Isso ocorre apesar das incertezas com a reforma tributária, que deixam os investimentos em compasso de espera”, pondera, em referência às dúvidas que pairavam a respeito da tributação na Zona Franca de Manaus.

Destaques regionais
No Pará, a grande influência é da indústria extrativa de minério de ferro.
Segundo Bruno Lavieri, economista-chefe e cofundador da 4intelligence, no PIB do segundo trimestre, a região Norte teve um crescimento de 2% da indústria geral, mas foi puxado pelo crescimento de 4,5% do Pará.
Já o Amapá tem uma dinâmica econômica mais ligada à extração mineral, enquanto Tocantins e Rondônia se assemelham mais ao Centro-Oeste, por causa da expansão agrícola, diz Sá. “O Acre também tem características nesse sentido”, afirma o economista
Para 2024, a 4i espera um crescimento mais homogêneo entre as regiões brasileiras, com a saída “desse cenário de fatores atípicos”, diz Lavieri, em referência ao desempenho excepcional da agropecuária neste ano.
PIB nacional
No segundo trimestre, o PIB do Brasil cresceu 0,9%, em relação aos três meses imediatamente anteriores. Mas a 4intelligence calcula que o PIB do Norte avançou 2,6%, à frente do Nordeste (2,3%) e do Sudeste (0,4%).
Por outro lado, a região Sul registrou queda de 0,8%, e o Centro-Oeste, contração de 3,3%, estima a 4i, ambos influenciados pela relativa acomodação da agropecuária após o boom do primeiro trimestre.
Para o ano, a previsão da 4i é que o PIB do Brasil cresça 3,2%, no entanto, o Norte deve avançar 4,8%, atrás apenas do Centro-Oeste, que cresceria 4,9%.
O Sul e o Nordeste também apresentariam resultado acima da média nacional, com crescimentos de 4,1% e 3,9%, respectivamente. Em contrapartida, o Sudeste deve registrar desempenho inferior, de 2,2%.
“Os números mostram quão heterogêneo é o comportamento das regiões e essa assimetria tem a ver com as dinâmicas setoriais”, disse Bruno Lavieri, economista-chefe e cofundador da 4intelligence.
Sérgio Vale, da MB Associados, estima que o Centro-Oeste deve crescer 64% entre 2020 e 2033, e o Norte, 54%. Nordeste e Sul avançariam 41% cada um, e o Sudeste, 32%.
“Em 2020, a soma dos PIB do Norte e do Centro-Oeste equivaliam ao do Nordeste, mas, em 30 anos, a soma dos PIB das duas regiões deverá ser quase o dobro do PIB nordestino”.
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Efeito El Niño
Por outro lado, a seca extrema e o fenômeno climático El Niño colocam “um pouco de apreensão” com a parte agrícola do Norte, principalmente na região do chamado Matopiba, que inclui Tocantis, disse Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Segundo ele, as condições climáticas adversas também podem atrapalhar a indústria.
Em um horizonte mais de longo prazo, o Centro-Oeste deve continuar sendo a região de maior crescimento, segundo Vale. Mas, a região Norte também pode se beneficiar, apesar dos desafios de curto prazo.

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Foto: CNA/Wenderson Araujo/Trilux