Período de cheia traz preocupação para famílias que vivem em áreas de risco
Mal saímos de uma cheia histórica vivida esse ano, com a cota do rio atingindo a marca de 30,02 metros, em 16 de junho, e já começamos a nos preparar para o que está por vir

Mariane Veiga, por Marcellus Campello*
Publicado em: 15/12/2021 às 12:20 | Atualizado em: 15/12/2021 às 12:42
A subida do Rio Negro iniciou no dia 06 de novembro. Dessa data até esta quarta-feira, 15 de dezembro, o rio já subiu 281 centímetros, atingindo a cota de 22,26 metros. No ano passado, nesse mesmo período, a cota estava em 19,13 metros.
Mal saímos de uma cheia histórica vivida esse ano, com a cota do rio atingindo a marca de 30,02 metros, em 16 de junho, e já começamos a nos preparar para o que está por vir.
Os números citados acima, com base nos dados do Serviço de Monitoramento do Porto de Manaus, são preocupantes, porque ainda estamos longe do pico da cheia, que acontece normalmente entre o final de maio e a primeira quinzena de junho.
São indicadores que devem ser levados em conta, embora essa não seja uma matemática exata, porque o nível de subida das águas depende de vários fatores. De qualquer forma, todos estão em alerta.
O período de cheia é especialmente preocupante para as famílias que moram em locais com risco de alagamento e desabamento, como eram as áreas que sofreram intervenção do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus e Interior (Prosamin), nas zonas sul, oeste e centro oeste de Manaus.
Executado pelo Governo do Amazonas em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Prosamin é um programa gerenciado pela Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE) e que já beneficiou, até o momento, 600 mil pessoas em Manaus.
Ao todo, com o Prosamin, cerca de 78 mil pessoas saíram de áreas de risco, à beira dos igarapés, e foram reassentadas pelo Governo do Estado em parques residenciais construídos através do programa ou outras soluções de reposição de moradia. Dentre elas, as opções de indenização, bônus moradia e auxílio moradia, definidos conforme o perfil do imóvel cadastrado e da família.
Na nova fase do programa, como Prosamin+, as obras alcançarão a zona leste, uma das mais carentes de infraestrutura em Manaus. As melhorias, nas zonas sul e leste, vão atingir os bairros do Japiim, Coroado, Distrito Industrial e Armando Mendes, com obras de saneamento básico, urbanismo, habitação e recuperação ambiental dos canais de igarapés. Serão mais 60 mil pessoas diretamente beneficiadas, 12,9 mil reassentadas.
O relato das famílias já contempladas com moradia segura é de alívio. Gente que viu casas desabarem, que teve medo com as chuvas intensas e que agora pode viver e criar os filhos com um pouco mais de tranquilidade e dignidade.
A retirada das famílias dessas áreas não é de responsabilidade direta do Governo do Estado, mas a contribuição é essencial para resolver um problema crônico, de muitos anos. E tem sido feita por meio do diálogo franco entre Defesa Civil do Estado e Prefeitura.
As áreas onde houve intervenção do programa não foram atingidas pela cheia recorde deste ano, demonstrando muito claramente a importância das obras realizadas, não somente para as famílias removidas das zonas de risco, o que por si só já é um ganho enorme, mas também pelos efeitos ambientais.
As alagações, na maioria das vezes, ocorrem por causa do acúmulo de resíduos descartados de maneira totalmente incorreta, nos rios e igarapés, obstruindo os sistemas de drenagem das águas pluviais. Ao serem reassentadas em parques residenciais construídos pelo Governo do Estado, as famílias passam a ter acesso a saneamento básico, com rede de esgoto e sistema de abastecimento de água, além de coleta de lixo, serviço realizado pela Prefeitura.
Também participam de ações voltadas à educação ambiental. Com muito diálogo e orientação profissional, são estimuladas a enxergar com mais clareza a importância da preservação do meio ambiente, como fator determinante para a saúde e qualidade de vida. E, igualmente, a importância do respeito na convivência com os vizinhos e na preservação dos espaços e equipamentos públicos instalados para o lazer de todos.
A tônica do programa, não poderia ser diferente, é a transformação de vidas. Todos, com pequenas e grandes ações, ajudando a construir uma nova história.
*O autor é engenheiro civil, especialista em saneamento básico; exerce, atualmente, o cargo de coordenador executivo da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), órgão que gerencia as obras do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus e Interior (Prosamin).
Foto: Ronaldo Siqueira