Papa Francisco deixa marca histórica em defesa do meio ambiente e de vulneráveis
Pontífice uniu fé, justiça social e ecologia ao defender florestas, povos tradicionais e vítimas das mudanças climáticas.

Adrissia Pinheiro, por Marcellus Campelo*
Publicado em: 23/04/2025 às 12:04 | Atualizado em: 23/04/2025 às 12:04
O mundo se despede de um líder espiritual que transcendeu fronteiras religiosas e políticas. O papa Francisco faz a sua passagem, deixando um legado profundo de amor à criação, ajuda aos menos favorecidos e compromisso com a dignidade humana. Sua voz ecoou em defesa das florestas ameaçadas, das comunidades mais vulneráveis, das periferias esquecidas e também inspirou políticas públicas onde esses desafios são vividos de forma intensa e diária.
O papa se destacou pela postura progressista e profundamente ética sobre essas questões. A encíclica Laudato Si’, expressão em italiano antigo (do dialeto de São Francisco de Assis) que significa “Louvado sejas”, foi um marco histórico que redefiniu o olhar da Igreja e do mundo sobre o meio ambiente.
Publicada durante o seu pontificado, nela ele introduz o conceito de ecologia integral, unindo meio ambiente, economia, sociedade e espiritualidade.
Critica o consumo excessivo, a cultura do descarte, a degradação ambiental e o descaso com os pobres, que são os mais afetados pelas mudanças climáticas.
Francisco reforça, na encíclica, o sentido de que proteger o meio ambiente é também cuidar das pessoas, sobretudo as mais vulneráveis. Mais do que um apelo ecológico, tornou-se um ato em defesa do que ele chama de Casa Comum, o planeta Terra.
Durante o Sínodo da Amazônia (2019), o papa Francisco deu voz a líderes indígenas e povos tradicionais, mostrando a importância da região para o equilíbrio do planeta.
Condenou a exploração predatória da floresta e destacou o papel do bioma amazônico na luta contra a crise climática. Enfatizou o cuidado com a Amazônia como um dever moral e coletivo.
Pulmão do planeta e lar de povos originários, a Amazônia foi constantemente mencionada por ele como símbolo de resistência, mas também de urgência.
O seu discurso encontra eco entre os que lutam em defesa da região e dos povos que nela habitam, entre os que consideram prioridade a inclusão desse público na oferta de saneamento básico, habitação digna e infraestrutura sustentável. Entre os que têm em mente que levar infraestrutura de qualidade para todos é uma forma de reduzir desigualdades sociais, garantir melhores condições de vida.
Sistemas de esgoto e drenagem urbana, água potável, moradias populares e espaços públicos requalificados, sabemos bem disso, ajudam a transformar a realidade de famílias que vivem em áreas de risco, algo que o papa não só lutava, como considerava missão de todos os cristãos e cidadãos.
Na defesa do meio ambiente, o pontífice também propunha que o desenvolvimento não fosse inimigo da natureza. Incentivou governos, empresas e a sociedade civil a adotarem formas de desenvolvimento mais sustentáveis.
Criticou o modelo econômico baseado no lucro acima da vida e estimulou a adoção de políticas públicas voltadas ao saneamento, energia limpa, mobilidade e habitação digna. Incentivou a educação ambiental como ferramenta de transformação social.
O papa nos deixa, mas sua mensagem permanece viva, em cada ação, cada gesto que tenha como propósito a promoção da justiça social, o cuidado, a fraternidade. Que seu legado continue inspirando governantes, gestores e cidadãos que trabalham para transformar realidades. Que os valores por ele amplamente defendidos estejam sempre a nos guiar – a promoção da dignidade humana, o compromisso com a justiça social e o cuidado com a Casa Comum.
*O autor é engenheiro civil, especialista em Saneamento Básico e em Governança e Inovação Pública; exerce, atualmente, os cargos de secretário de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano – Sedurb e da Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE.
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Foto: divulgação