Os professores são militantes!
"O discurso da extrema direita nazifascista defendendo uma escola neutra é falso"

Neuton Correa
Publicado em: 06/11/2021 às 04:00 | Atualizado em: 06/11/2021 às 10:32
Aldenor Ferreira*
Nazifascistas brasileiros acusam os(as) professores(as), de todos os níveis da educação, de não serem neutros(as). Para esse segmento, todos(as) os(as) professores(as) são militantes de esquerda e apologistas a regimes comunistas.
Isso não é verdade!
Trata-se de uma acusação leviana, sem fundamento teórico e prático. Todavia, precisamos pensar sobre isso e nos questionar sobre o que de fato se pretende com essa acusação.
Particularmente, não vejo outro objetivo que não seja o da produção de não-liberdade.
A acusação de imparcialidade e de militância, a meu ver, é, na verdade, uma tentativa de calar os(as) docentes, de cercear seu direito de liberdade de cátedra e, com isso, impedir o desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo no ambiente da escola e da universidade, como mencionei na coluna da semana passada.
O que se quer, na verdade, é disciplinar, docilizar corpos e mentes, questões já muito bem analisadas por Michel Foucault nos textos presentes em Vigiar e punir e Microfísica do poder.
Para além da docilização, com a escola amordaçada e sem o livre exercício do pensamento, busca-se também a perpetuação de uma estrutura social patriarcal, perversa, autoritária e excludente.
Na verdade, o que os nazifascistas pretendem com projetos do tipo “Escola Sem Partido” é a produção de um modelo de educação e de escola que mantenha a classe trabalhadora e seus(suas) filhos(as) em uma posição subalterna.
Os “donos do poder”, para utilizar aqui uma expressão de Raimundo Faoro, desejam um modelo educacional que reduza os(as) filhos(as) dos(das) trabalhadores(as) a meros objetos a serem explorados por meio do trabalho precarizado, sem qualquer possibilidade de ascensão social.
A escola deve ser sem partido, neutra, sem ideologia, anunciam os cavaleiros da idade das trevas.
A partir disso, devido ao seu alto grau de imbecilidade e maldade, talvez muitos deles de fato não saibam que isso é filosoficamente, ontologicamente e epistemologicamente impossível. Outros talvez saibam, mas o proselitismo latente em seus corações pulsa forte demais para apontar as incongruências de sua própria corrente.
Tivessem eles lido os textos A objetividade do conhecimento nas Ciências Sociais, publicado em 1904 e A ciência como vocação, publicado em 1917, do sociólogo alemão Max Weber, saberiam que essa neutralidade almejada não existe.
Weber, ao tratar da questão da “neutralidade” axiológica na intepretação da ação social, de início já a apresenta entre aspas. Ele sabia, de pronto, que a construção dos objetos da reflexão passa pelo cálculo valorativo do sujeito que reflete sobre o tema em análise.
Logo, cabe afirmar que o discurso da extrema direita nazifascista defendendo uma escola neutra é falso. O que está latente nesse discurso são às disposições arcaicas da moral, bem como do espírito submisso ao mandonismo e ao patrimonialismo.
Valendo-se da ideia de bem versus mal – com o mal aliado a qualquer ideia progressista –, a “neutralidade” por eles pregada nada mais é do que aquilo que melhor convém aos seus interesses. Interesses esses que, como sabemos, respondem ao lucro, à ideologia da sociedade capitalista em que vivemos.
Na contramão disso, acredito ser impossível, de nossa parte, concordarmos com qualquer movimento político e ideológico que vá na direção do cerceamento da liberdade de cátedra, da restrição ou da eliminação do ambiente democrático e plural da escola.
A lógica por detrás desses discursos que pregam uma neutralidade, como dito, materializadas em projetos como o da escola sem partido, está assentada em uma ultrapassada e irracional moral elitista, antidemocrática e antipovo.
Parafraseando Weber, podemos dizer que uma possível neutralidade axiológica resultaria do trabalho de um(a) verdadeiro(a) professor(a), como aquele(a) que se põe de maneira irrestrita e apartidária a serviço da ciência. E, apesar de dizerem o contrário, é exatamente o que somos e o que fazemos, senhoras e senhores.
De fato, somos militantes mesmo, militantes da ciência, do conhecimento, apologistas da liberdade, da diversidade e da pluralidade.
Portanto, se a nossa prática política e pedagógica ameaça o status quo, significa que estamos no caminho certo, por isso, seguiremos!
*Sociólogo