Os professores estão morrendo
Caro(a) leitor(a), em uma rápida pesquisa em qualquer site de busca da Internet você encontrará dezenas de notícias sobre assassinatos de professores(as)

Mariane Veiga, por Aldenor Ferreira
Publicado em: 08/04/2023 às 13:51 | Atualizado em: 08/04/2023 às 14:06
Recebi, nesta semana, a notícia do cruel assassinato de um professor da rede estadual de educação do Amazonas. Imediatamente, lembrei de outro assassinato, o da professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos de idade, ocorrido dentro da Escola Estadual Thomázia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste da capital paulista.
O episódio desta escola se soma ao ocorrido na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti, em Aracruz, norte do Espírito Santo, no ano passado. Naquele ataque, realizado também por um adolescente, mas com arma de fogo, três pessoas morreram e outras 13 ficaram feridas. Uma das vítimas fatais foi a professora Maria da Penha Pereira de Melo Banhos, de 48 anos.
Caro(a) leitor(a), em uma rápida pesquisa em qualquer site de busca da Internet você encontrará dezenas de notícias sobre assassinatos de professores(as). No caso das docentes, ainda há o trágico componente do feminicídio.
Há décadas que a educação, e inevitavelmente a profissão docente, vem sendo desvalorizada em nosso país. Com efeito, não resta dúvida de que nos últimos seis anos atingimos o nível mais baixo de precarização, de desestímulo à carreira, de desvalorização da remuneração e de humilhação da nossa classe.
E, como desgraça pouca é bobagem, agora estamos sujeitos às chacinas. Nosso ambiente de trabalho não é mais seguro, corremos o risco de sermos assassinados por estudantes, pelos pais deles, por algum maluco da própria comunidade e até mesmo por agentes do próprio Estado.
Na esteira do atraso, no geral, a escola pública, da básica à de nível superior, mantém a mesma estrutura do século XIX, quer seja na sua arquitetura, na sua prática pedagógica ou na forma de administração das relações interpessoais.
As singularidades e especificidades do processo de modernização da sociedade brasileira deram aos professores responsabilidades que não lhes cabem. Em um espaço educacional, eles passaram a ser tudo. Tornaram-se, praticamente, os únicos responsáveis por toda a formação de uma criança, de um adolescente ou de um jovem.
Neste âmbito, professores(as) desempenham funções de educadores domésticos, psicólogos, assistentes sociais, tutores, protetores etc. Apesar de muitas vezes fazerem isso tudo de bom grado, não são estas as funções de um(a) mestre(a). Eles podem até auxiliar, mas, jamais, poderão assumir toda a responsabilidade.
Neste quadro, a Síndrome de Burnout nos assola. Algo que é relegado a segundo plano pelas autoridades competentes, mas, no fundo, tem-se uma verdadeira pandemia dessa síndrome nas escolas de educação básica de todo o Brasil. E nas universidades também.
A falta de motivação e as ausências no trabalho, traços característicos do absenteísmo, são gigantescas entre os professores. O quadro só piorou nos últimos anos. Até mesmo a liberdade de cátedra tentam nos tirar com acusações infames de doutrinação comunista.
Uma coisa é certa. De todas as formas e por diversos meios, os professores estão sendo dizimados neste país. Já haviam sido feridos na sua dignidade com a desvalorização de seus salários e carreira. Agora são atingidos fisicamente por meio de assassinatos.
Os professores estão morrendo, literalmente. A esperança é que o novo governo, que completa seus primeiros 100 dias de gestão – o único a tratar a educação como investimento e não como gasto –, traga esperança e renovação à carreira do(a) docente.
O autor é sociólogo.
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil