Os mortos gritam: Bolsonaro, fora!
"A avaliação negativa do presidente na condução da pandemia, revelada pela pesquisa, também dá voz aos que partiram"

Neuton Correa, Aldenor Ferreira*
Publicado em: 18/03/2021 às 18:31 | Atualizado em: 19/03/2021 às 14:21
Como assim, os mortos gritam e pedem a saída do presidente? Isso mesmo, os mortos por Covid19 no Brasil, do túmulo, estão dando um recado ao atual presidente brasileiro.
A recente pesquisa do Instituto Datafolha mostra queda na avaliação positiva do presidente. Os números revelam que, pela primeira vez, no curso da pandemia, os que avaliaram como ruim ou péssima a atuação do presidente atingiu 54%. A avaliação de ótima ou boa, que sempre se manteve na casa dos 30%, em média, desta vez caiu aos constrangedores 22%.
Outra questão importante que a pesquisa pontua, que também é ruim para o presidente, é a resposta da seguinte pergunta: Quem é o principal culpado pela situação na pandemia? De acordo com a pesquisa, para 43% dos entrevistados, a culpa é de Bolsonaro.
O país vive a maior crise sanitária de sua história, com média de mortos diárias agora acima de 3 mil. O drama se renova a cada manhã, a cada dia, um novo recorde de mortes. Trata-se de uma verdadeira tragédia humanitária.
A avaliação negativa do presidente na condução da pandemia, revelada pela pesquisa, também dá voz aos que partiram.
É como se o sangue de 284.775 vítimas da doença clamasse por justiça.
Dá para ouvir todas essas vozes, assim como deu para ouvir o silêncio no estádio Maracanã quando o Brasil foi surpreendentemente derrotado pelo Uruguai na copa de 1950.
A insatisfação e a indignação dos vivos estão aumentando.
Não poderia ser diferente. Afinal, não é fácil conviver com o luto, não é fácil de uma hora para outra se achar órfão de pai e mãe. Não é fácil, de uma hora para outra, ser o único sobrevivente da sua família. Os verdadeiramente vivos, que acreditam na ciência e nos cuidados profiláticos indicados pelas autoridades sanitárias, não irão se conformar com tantas perdas.
Talvez para os que ainda respiram, mas já estão mortos por dentro, enterrados no negacionismo e na falta de empatia, esses números não importem tanto. Talvez eles argumentem que o número de mortes está superestimado, que há sensacionalismo e que o presidente ou qualquer outra autoridade do país não tem culpa de nada.
Contudo, os mortos, lá do túmulo, não deixarão em paz governantes negacionistas e suas claques. De lá, eles gritarão e exigirão reparos.
Nós, os vivos, ouviremos e veremos a materialização disso. Como? Por meio das pesquisas de desempenho e popularidade dos governantes. Os verdadeiramente vivos gritarão uníssonos: Bolsonaro, fora!! E não apenas ele, mas todos os negacionistas da política e da ciência.
Réquiem.
*Sociólogo
Foto: Alan Santos/Presidência, em 7/09/2019