Os bancos e o desmatamento da Amazônia
Aldenor Ferreira destaca que os recursos públicos acabam destinados para atividades com graves irregularidades socioambientais.

Ednilson Maciel, por Aldenor Ferreira*
Publicado em: 26/10/2024 às 04:41 | Atualizado em: 26/10/2024 às 05:56
Bancos públicos e privados estão financiando o desmatamento da Amazônia. É o que aponta o relatório intitulado “Bancando a Extinção: bancos e investidores como sócios no desmatamento (2024)”, publicado pelo Greenpeace.
Nesse documento, a ONG ambiental mais importante do mundo detalha o fluxo de capital de instituições financeiras para setores como o agronegócio com o objetivo de financiar soja e carne bovina, bem como a extração de madeira na Amazônia. Principalmente por meio do crédito rural, os recursos públicos acabam destinados para atividades com graves irregularidades socioambientais.
No relatório do Greenpeace é possível perceber que, apesar dos discursos de compromisso com a questão da sustentabilidade econômica e ambiental dos empreendimentos financiados, comum a todas as instituições financeiras, muitas dessas instituições acabam impulsionando atividades que violam direitos humanos e ambientais de comunidades tradicionais e, no limite, contribuem para a crise climática brasileira e mundial.
Números preocupantes
De acordo com o relatório, entre 2018 e 2023, foram identificadas “10.074 propriedades inseridas parcialmente ou totalmente em Unidades de Conservação; 24 propriedades sobrepostas, parcial ou totalmente, a 7 terras indígenas; 21.692 imóveis sobrepostos a florestas públicas não destinadas; 798 imóveis financiados com embargo do Ibamae 29.502 propriedades com desmatamento no período analisado que obtiveram recursos do crédito rural”.
Nesse ponto, surgem questionamentos que qualquer pessoa com o mínimo de percepção e informação fará a si mesma. Como pode haver financiamento público ou privado de empreendimentos em Unidades de Conservação (UC) ou Terras Indígenas (TI)? O Estado e o mercado estariam financiando ações criminosas? Instituições financeiras estatais ou privadas não podem ser coautoras de crimes. Há uma legislação que precisa ser resguardada.
Essa verdade nos impulsiona a pensar que não há outra solução que não a adoção de critérios ambientais rigorosos nas políticas de crédito e investimento tanto de bancos públicos quanto de bancos privados. Como apontado no relatório, a falta de transparência no monitoramento e na prestação de contas sobre os impactos ambientais dos projetos financiados precisa ser urgentemente revista.
É preciso o entendimento de que a crise climática e a perda de biodiversidade são desafios globais. Ou seja, a responsabilidade de enfrentá-los deve ser compartilhada por todos os segmentos sociais, fato que inclui, necessariamente, os bancos. Eles também são peças-chave e estão inseridos no centro do debate sobre a preservação da Amazônia.
Nesse sentido, não podem ser apenas meros espectadores, atores invisíveis, mas ativos, no processo de desmatamento da floresta amazônica. Os financiamentos com critérios frouxos, pouco transparentes, muitas vezes nada republicanos, podem contribuir para a destruição ou para a preservação desse importante bioma.
Conclusão
O relatório do Greenpeace coloca o dedo em uma grave ferida da sociedade brasileira: o financiamento público e privado do desmatamento da Amazônia. Em qualquer viagem pelo interior da Amazônia é possível vermos a placa de bancos públicos e privados nas entradas de fazendas com aquelas famosas frases: “empreendimento financiado pelo banco X ou Y”. Porém, quando se observa o entorno, tudo é derrubada e queimada.
Estou de acordo ao que foi apontando no relatório do Greenpeace. Urge uma mudança drástica no processo de financiamento, fiscalização e monitoramento dos recursos públicos e privados destinados a empreendimentos na Amazônia, sob pena de haver a destruição total da floresta a partir de ações regiamente financiadas. ,
*O autor é sociólogo.