Onde a dor é mais doída
"É que em épocas de marasmo econômico a miséria alheia não gera dinheiro"

Aguinaldo Rodrigues, por Thomaz Antônio Barbosa*
Publicado em: 03/04/2020 às 17:52 | Atualizado em: 03/04/2020 às 17:52
A situação dos migrantes nessa época de coronavírus é ainda mais degradante. Os órgãos do governo de proteção a essas populações estão fechados.
As agências ligadas aos direitos humanos e às Nações Unidas estão de bico calado, sem nenhuma manifestação em defesa dos residentes e refugiados em território nacional.
Prefeituras, organizações de ajuda humanitária estão silenciadas. É que em épocas de marasmo econômico a miséria alheia não gera dinheiro.
Os defensores do discurso do voluntariado – porém bem remunerado – se escondem nas cavernas para voltar à caçada somente em épocas das vacas gordas, tutelando o fluxo migratório, alavancando suas receitas.
As portas estão fechadas para o migrante, ninguém se importa, sobretudo com venezuelanos e haitianos despejados de onde residem para morar na rua, para a indigência completa. A rodoviária da cidade é a oferta da casa.
Quem está na sua terra natal, sofre, porém nos braços dos seus. Aos que estão distantes, sozinhos, nas sarjetas, no frio, no relento, na mais profunda solidão, no estado mais lastimável de abandonado, a dor é maior.
Portanto, a hora de ajudar, principalmente por quem devia, é agora!
O problema do migrante em solo nacional é nosso, é politica de governo e não se trata de nenhum favor acolher quem está produzindo intercambiando de conhecimento, acentuando o multiculturalismo, miscigenando, redesenhando o planeta.
E sabe quem ganha com isso? O país que recebe capital intelectual de qualidade e barato que, por pura ignorância e sentimentos menores, não sabe aproveitar.
Não existem barreiras para tratar seres humanos com um pouco de dignidade, pelo menos não deveria existir. As fronteiras são invisíveis, somos todos aruaques.
As ruas de Manaus estão repletas de médicos estrangeiros desempregados, assim como São Paulo e Nova York, é fato.
Todavia nas vilas do interior do Brasil as pessoas estão morrendo por falta desses profissionais. E assim são os enfermeiros, agrônomos, os técnicos experientes em petróleo, professores poliglotas em uma cidade, especificamente a nossa, que tanto se relaciona comercialmente com o exterior.
Porém, quem vai se importar com estrangeiros espalhados mundo a fora, haja vista que o presidente da república do nosso país não se preocupa nem com os nacionais?
Banaliza a doença vergonhosamente, culpa a população pelo desgaste econômico decorrente da prevenção e insiste em não decretar o pagamento do beneficio aprovado pelo Congresso aos necessitados.
Na realidade nesse jogo de culpas e negligências o migrante engorda o bolso de governos e entidades, porém o seu jamais, e cada dia mais esquálido, sonhando o futuro, perambula em busca da sobrevivência pelas ruas das capitais.
…Deus criou o paraíso e o homem as fronteiras.
*O autor, apresentador do programa “Conversa Franca”, no BNC Amazonas, é contador, formado em ciências contábeis pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), MBA em marketing pela Universidade Gama Filho e mestrando em ciências empresariais na UFP/Porto, em Portugal.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil