O superego dos patifes e a paz dos cemitérios
"No mundo dos patifes, os símbolos e os seus significados assumem a grande eloquência de acordo com os seus interesses, diz o autor deste artigo. Leia, nas palavras do jornalista Walmir de Albuquerque Barbosa

Por Walmir de Albuquerque Barbosa*
Publicado em: 25/07/2025 às 13:18 | Atualizado em: 25/07/2025 às 13:22
Os jornais, os telejornais, as redes sociais, os botecos, as rodas de conversa, todos estão agitados com o “tarifaço” e com a ação dos nossos calabares; e denuncia-se pouco as desigualdades e as tiranias.
Não temos notícias do espírito crítico nas universidades, dos movimentos estudantis, exceto o ocorrido no congresso da UNE (no Brasil), com a presença do presidente da República, gerando memes e até um funk que está rodando na internet, fazendo troça de um tal filho mimado que pede ao Trump para não deixar prenderem seu pai.
Que teses foram defendidas nesse congresso, outrora muito importante? Quais os planos de luta da classe estudantil, que é o futuro?
Também não temos conhecimento de notas contundentes das organizações da sociedade civil, que se manifestam por tudo, desde maus-tratos aos animais até a qualidade das águas propícias ao acasalamento das baleias, mas nada disseram sobre o genocídio em Gaza, deixando sozinhas as 100 ongs que denunciam o uso da fome como crime de guerra na Palestina.
Por sinal, não sei se é miragem, mas as últimas imagens de TV da faixa de Gaza dão conta de uma vasta região onde já foi feita a limpeza étnica e a limpeza dos escombros da guerra; o terreno parece pronto para o início da reconstrução. Seria aquela reconstrução com os ditos resorts propostos por Netanyahu e Trump para transformar o Oriente Médio numa área “maravilhosa”, tão logo se concretize a vitória completa de Israel sobre os palestinos?
Entretanto, isso não indigna grande parte dos coletivos do “mundo livre”.
São raras as manifestações dos prêmios Nobel, de direita ou esquerda, relacionados com os acontecimentos catastróficos e os crimes contra a humanidade em geral, exceto a de um economista norte-americano sobre as taxas do governo Trump que levarão as economias do mundo à morte.
Está de pé, ainda, a solitária insistência da África do Sul denunciando o genocídio em Gaza ao Tribunal de Haia, tendo, agora, o governo brasileiro como coadjuvante.
Essa paz dos cemitérios atormenta os que sempre gostaram do burburinho político, da inquietação, do contraditório, apostando na esperança da superação da guerra, da qual todos os povos em conflito precisam.
Já se fala num grande divã para a humanidade, cuja parte recusa se deitar ao lado dos oprimidos e famintos, dos feridos das guerras, sujos da poeira da terra e das bombas que foram jogadas contra si, contra a sua história e o seu destino.
Parece que o mundo está mesmo precisando de psiquiatras competentes ou mesmo de um batalhão de analistas que ajudem a conter o superego dos xerifes do mundo e dos seus filhotes patifes, explodido em suas malignidades.
Em sendo verdadeira a concepção lacaniana de que o superego “é a agência antiética, a estigmatização da nossa traição ética”, o que imaginar do superego de um patife, traidor da humanidade?
Seu espírito despojado de sentimentos próprios dos seres humanos é bem-dotado de monstruosidades, cujos atos não degradam seus sentimentos, de si ou dos outros, mas, dependendo da posição que ocupa nos poderes institucionais, regozija-se no maior gozo quando atinge a uma multidão, reforçando a sua iniquidade.
No mundo dos patifes, os símbolos e os seus significados assumem a grande eloquência de acordo com os seus interesses: o significado de semelhante, de pátria, de família, de poder e outros, não se descolam de suas convicções narcísicas e conveniências.
O lamentável é a proliferação de lideranças políticas em todo o mundo dotadas desses desvios psíquicos. Entre nós, brasileiros, onde a extrema direita vem ganhando terreno, com símbolos e significados variados, já deitaram verbo e ganharam muitas almas.
Exemplos não faltam, note-se o espetáculo no Congresso Nacional brasileiro: lideranças parlamentares de extrema direita, primeiro cercando e apoiando seu líder máximo e, depois, reunidas em “cenáculo” para conspirar e transgredir as normas da casa e a lei, distorcendo os fatos e dando a eles significados opostos a seu “real”.
A linguagem esdrúxula transborda a ética, denota o desrespeito à liberdade de expressão, à representação política do povo, à ética parlamentar e a tudo que possa credenciá-los como pessoas revestidas de dignidade e de moralidade!
*O autor é jornalista profissional.
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