O que o governo do PT fez por mim?
Aldenor Ferreira narra sua trajetória acadêmica e as conquistas durante os governos petistas

Ferreira Gabriel, Aldenor Ferreira
Publicado em: 19/03/2022 às 04:00 | Atualizado em: 18/03/2022 às 21:56
Na próxima segunda-feira, 21, farei aniversário e, refletindo sobre a vida na ocasião da finalização da sequência de textos que tratam de Lula e dos governos do PT, resolvi contar um pouco da minha trajetória acadêmica, uma trajetória beneficiada diretamente pelas políticas públicas dos governos petistas.
Eu nasci em uma cidade chamada Parintins, localizada em uma pequena ilha às margens do rio Amazonas, onde se realiza, todos os anos, um espetáculo de luzes e cores protagonizado pelos bois-bumbás Garantido e Caprichoso.
Nessa pequena ilha, até a década de 1990, não havia muitas perspectivas educacionais em nível superior para quem era de família camponesa pobre, como eu. O destino quase certo era a faina exaustiva na lavoura de mandioca, na pesca, no extrativismo, na pequena criação de gado, dentre outras atividades imperativas à sobrevivência.
Meu pai, um sujeito polivalente (os camponeses amazônicos têm de ser polivalentes, sob pena de não sobreviverem às dificuldades impostas pelas terras, florestas e águas), com muito esforço, conseguiu levar seus oito filhos para a cidade e colocá-los todos na escola.
Em 1998, ao finalizar o Ensino Médio, fui aprovado no vestibular da UFAM para cursar o bacharelado em Ciências Sociais. Esse curso transformou a minha vida em todos os sentidos, nunca mais saí dele e nem ele, de mim. No curso, “as palavras e as coisas” – fazendo referência ao filósofo Michel Foucault – ganharam novas significações e me tornei professor de sociologia ainda no percurso da graduação.
O espírito irrequieto e o amor pelo conhecimento me fizeram desejar ir mais longe. E fui. Na mesma instituição, UFAM, em 2007, fui aprovado na seleção do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA/UFAM). Fiz todo o curso com o auxílio da bolsa do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), que financia o trabalho de muitos cientistas no Brasil.
Concluí o mestrado em 2009 e a dissertação virou um livro, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). Todavia, sabe-se que em uma dissertação há certos limites teóricos e práticos, logo, eu já reconhecia que a pesquisa com os camponeses juteiros e malveiros precisava avançar a outro patamar, pois havia ainda muitas respostas para serem dadas referentes àquele objeto de estudo.
Foi, então, que decidi me inscrever no processo de seleção para o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Com a aprovação no processo seletivo, me mudei de Manaus para Campinas em 2011 e iniciei o curso sob orientação da professora doutora Sonia Bergamasco, da Faculdade de Engenharia Agrícola (FEAGRI). Nesse processo, tive como coorientador o professor Alfredo Homma, da Embrapa Amazônia Oriental.
No período de doutoramento dei continuidade às pesquisas iniciadas no mestrado, ou seja, à investigação sobre o trabalho dos camponeses trabalhadores da juta e da malva no Amazonas. Isso só foi possível graças à bolsa da FAPEAM, que me permitiu não apenas cursar os quatro anos do curso, como também realizar a pesquisa no estado do Amazonas, Pará e São Paulo.
Todavia, como é pré-requisito para uma tese de doutorado a originalidade, propus algo ousado e inédito no Brasil até aquele momento, em termos de tese de doutorado: realizar um estudo comparativo entre o Brasil e a Índia no que tange à produção das fibras vegetais de juta, pois a Índia é sua maior produtora mundial.
Para poder perseguir esse ousado objetivo, em 2013, por meio do Programa Institucional de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE), da CAPES, parti para Calcutá, “a casa da juta” na Índia. Meu estágio foi no Department of South & South East Asian Studies, University of Calcutta.
Concluí a tese em março de 2016, sendo aprovado com indicação de publicação. Mais tarde, para a minha satisfação, a tese foi indicada pelo Programa de Ciências Sociais para concorrer ao Prêmio Capes de melhores teses de doutorado.
Não venci o concurso da Capes, mas, por outro lado, recebi um prêmio tão importante quanto. Em junho de 2016 fui aprovado em concurso para o magistério superior da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), onde estou até o momento.
Fiz questão de contar toda essa história, pois é preciso reconhecer a verdade e dar crédito aos colaboradores. Em todas as etapas da minha formação acadêmica até a atuação profissional, “a mão do Estado” esteve presente. Para uma pessoa da minha classe social, isso só foi possível porque estava no poder um partido que se preocupava com a formação da classe trabalhadora.
Tenho certeza de que muitas pessoas foram beneficiadas pelas diversas políticas públicas para a educação, ciência e tecnologia implementadas ou ampliadas pelos governos do PT. De 2003 a 2016, os investimentos em educação foram os maiores da história do Brasil. Programas como o REUNI, o Ciência Sem Fronteiras, o Pronatec e outros, possibilitaram o acesso e a permanência de negros, indígenas, LGBTQIA+, enfim, da classe trabalhadora como um todo ao ensino superior e técnico.
Com a criação e/ou a ampliação das Universidade e Escolas Técnicas Federais, houve a absorção dos egressos ao mercado de trabalho. O número de mestres e doutores se ampliou significativamente no país, sendo também absorvidos pelo mercado de trabalho com a interiorização dos cursos de graduação. Todavia, esse processo foi bruscamente interrompido em 2016, a partir de um golpe jurídico-político.
Hoje o Brasil vive a antítese desse processo de incentivo à educação e à pesquisa. O governo Bolsonaro possui o pior investimento em ciência e tecnologia da história do Brasil. O que temos, na prática, é o desmonte criminoso do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, da CAPES, do CNPq e das pós-graduações no país. Trata-se de uma situação melancólica vivida por essas instituições, seus estudantes e todos os que aspiram construir um país melhor por meio da pesquisa.
Em resumo, podemos dizer que nos governos do PT as universidades e as escolas técnicas, com suas graduações e pós-graduações, eram para todos. Já na atual administração federal, o que se proporciona são falas vazias e ações de precarização que se voltam, como bem definiu o ministro da educação, à máxima: “a universidade não é para todo mundo”.
Portanto, caro(a) leitor(a), você que, de alguma forma, foi beneficiado(a) pelas políticas públicas dos governos do PT, seja qual for a área – saúde, educação, moradia, emprego, alimentação, entre outros –, em outubro de 2022, tem o dever moral de ajudar a reconstruir esse tempo de prosperidade e paz.
É o que almejamos e pelo que trabalhamos.
Sociólogo*.