O ministro da Defesa prevaricou?

Não é de hoje que o ministro da Defesa de Lula pisa na bola ou reafirma sua personalidade de político reacionário

Mariane Veiga, por Lúcio Carril

Publicado em: 20/11/2024 às 15:35 | Atualizado em: 20/11/2024 às 16:37

Não pode passar despercebida a responsabilidade do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, na nomeação do tenente-coronel Hélio Ferreira Lima para comandar as forças especiais (“kids pretos”) do Comando Militar da Amazônia, o CMA, em Manaus.

Qualquer nomeação para exercer cargo de confiança no governo federal passa por rigoroso pente-fino e Hélio Ferreira de Lima já era velho conhecido, pois estava presente na reunião de “preparação” do golpe, em 2022, na casa de Braga Netto.

Ele só foi exonerado em fevereiro deste ano, quando foi alvo de operação da Polícia Federal.

Múcio sabia disso e mesmo assim o nomeou para comandar um pelotão de elite, treinado sob a doutrina do golpe e com forte suspeita de ter participado dos atos de 8 de janeiro de 2023.

Não é de hoje que o ministro da Defesa de Lula pisa na bola ou reafirma sua personalidade de político reacionário, nascido na Arena da ditadura militar.

Depois de defender a exploração mineral em terras indígenas, Múcio, em uma tremenda cara de pau, creditou aos militares não ter havido ruptura constitucional.

Agora, Múcio se pronunciou dizendo que as investigações dissiparão qualquer suspeita sobre as Forças Armadas, destacando que a conspiração desvendada pela operação Contragolpe foi de um grupo isolado.

É verdade que não era a instituição que operava o golpe, mas não é a primeira vez que militares, de altas parentes e em cargos de comando, protagonizam crimes contra a Constituição, mesmo com as Forças Armadas mantendo operante seus núcleos de espionagem.

Múcio precisa se explicar no governo sobre a nomeação de um militar comprovadamente golpista para comandar um pelotão tão perigoso para a democracia.

Isso tem cheiro, no mínimo, de prevaricação.

O autor é sociólogo.

Foto: Antonio Oliveira/Ministério da Defesa