O laissez-faire nosso de cada dia e o direito à vida
Já adultos, aprendemos que a moral e a ética não são tão importantes quando o assunto é economia e o direito de ir e vir

Mariane Veiga, por Lúcio Carril
Publicado em: 28/01/2022 às 18:51 | Atualizado em: 28/01/2022 às 18:51
Nossos pais nos ensinaram desde cedo que não podemos fazer tudo que queremos. Há limites impostos pela ética, pela moral e pela lei.
Aí nós fomos crescendo e sendo formados e informados que somos seres livres para fazer o certo ou o errado, mas com o ônus da responsabilidade dos nossos atos. Ou seja, o errado, aquilo fora da lei, sem ética e contrário à moral, pode ser punido.
Já adultos, aprendemos que a moral e a ética não são tão importantes quando o assunto é economia e o direito de ir e vir.
O Sílvio Santos era camelô.
Viu só. Qualquer um pode ficar rico. O que vale é o esforço pessoal. É só trabalhar que se chega lá.
Em Cuba, ninguém pode sair de lá. Ninguém pode ir e vir. No Brasil e nos Estados Unidos pode. Na Inglaterra, também.
E assim fomos construídos na cantilena do liberalismo: laissez-faire, laissez passer (deixa fazer, deixa passar).
Mas ainda bem que o mundo não parou em Adam Smith, Stuart Mill e outros bispos do livre mercado.
Descobrimos que não somos livres porra nenhuma.
O liberalismo e sua versão atual, como doutrinas do capitalismo, vêm nos enganando para nos manter passivos e resignados, idiotizados, manipulados.
O trabalhador e a trabalhadora jamais ficarão ricos trabalhando. Quem enriquece é quem fica com o resultado do seu trabalho: os donos dos meios de produção (fábricas, indústrias, fazendas), dos bancos e empresas de serviços.
Quem tem direito de ir e vir é quem tem grana. O trabalhador e a trabalhadora não viajam nem de um bairro a outro se não tiverem o dinheiro da passagem. Para outra cidade, nem pensar.
Mas o liberalismo e o neoliberalismo não se contentam em nos enganar. A doutrina do mercado penetrou nas nossas vidas e o discurso da liberdade individual agora serve à morte. Seus arautos andam dizendo que não se vacinar contra Covid é um direito de qualquer ser humano.
Ora, nossos pais nos ensinaram o certo: o limite é a ética e a moral.
Não podemos colocar em risco a vida dos outros, só para seguir o laissez-faire do mercado, nos mantendo mais uma vez vítimas da enganação. Nós temos o dever ético e moral de tomar a vacina e salvar nossas vidas e a vida de todos.
O autor é sociólogo.
Foto: reprodução/ Blog Upis