O jornalista e o robô bugado

Em seu artigo de hoje, Aldenor Ferreira faz uma reflexão de um diálogo entre um jornalista e um bolsonarista, que chamou de robô bugado

O jornalista e o robô bugado - Gilmal

Neuton Correa, Aldenor Ferreira*

Publicado em: 23/07/2022 às 02:12 | Atualizado em: 23/07/2022 às 02:12

Caros(as) leitores(as), compartilho hoje com vocês uma história real, mas que poderia ser bem definida como uma história de ficção, uma narrativa imaginária cujo título seria “O jornalista e o robô bugado”. 

A história começa assim: estava o jornalista passeando por sua cidade natal, a belíssima cidade de Parintins, Amazonas, quando foi abordado por um jovem que, de imediato, mostrou alegria ao rever o conterrâneo. 

O jovem assim exclamou: “oh, fulano! Quanto tempo, rapaz! Você está bem?”. Surpreso, o jornalista respondeu de forma positiva, dizendo que sim.

Aberto o canal de diálogo, o jovem prosseguiu e disse: “olha, fulano, eu sou muito fã do seu trabalho, te admiro muito mesmo, porém, você tem criticado muito o presidente Bolsonaro, isso não é legal”.

O jornalista então responde: “meu amigo, se você quer que eu fale bem do seu presidente, então me aponte o que ele fez de bom pelo Brasil nesses quase quatro anos de mandato”. 

O jovem respondeu: “ah, ele fez muita coisa sim”. 

O jornalista retrucou: “ok, tudo bem, mas me aponte uma grande realização”.

Diante da dificuldade do seu interlocutor em formular uma resposta plausível, o jornalista tentou ajudá-lo, fazendo um adendo à sua questão: “vou facilitar para você: vamos sair do cenário nacional e vir para o local, ok? Diga-me o que Bolsonaro fez por nossa cidade, por nossa querida Parintins”.

Nesse momento, o jovem começou a ficar inquieto e passou a utilizar a estratégia que todos os bolsonaristas utilizam quando confrontados, passou a atacar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizendo: “mas e o Lula, fez o quê? Ele só roubou”.

O jornalista então declara: “em Parintins, Lula fez o campus do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)”. “Também foi em seu governo que a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) foi beneficiada com verbas para expansão de cinco novos campi no interior do estado, sendo o de Parintins um deles”.

O jovem se limitou a dizer: “mas ele roubou! É um ladrão”.

Novamente, o jornalista coloca: “meu amigo, eu quero saber o que efetivamente Bolsonaro fez pela cidade de Parintins. Aponte-me apenas uma realização e convença-me a parar de criticá-lo”. 

O jovem, mais uma vez, não conseguiu apontar nenhuma obra de Bolsonaro na cidade e se limitou a repetir uma frase bastante conhecida e replicada de maneira acrítica pelos defensores do atual presidente: “Lula roubou, então é ladrão, só está livre porque foi agraciado pelo STF”.

Diante de mais uma resposta evasiva, o jornalista decidiu pôr fim ao diálogo e disse: “meu amigo, você é um caso perdido, não vou mais perder meu tempo contigo”. 

Pode parecer, caros(as) leitores(as), que esse diálogo é impossível ou exagerado, mas ele revela que, de fato, não há salvação para quem deseja continuar perdido. O jovem mostra que é impossível falar algo positivo de Bolsonaro, então, o que resta é atacar o único que é páreo para enfrentá-lo.

Uma boa campanha se sustenta no político que propaga, colocando seu candidato em foco e “vendendo” sua imagem ao apontar seus feitos. É impossível fazer algo do tipo com um homem que tem como maior feito eleitoreiro o fato de ter levado uma facada.

O nível de alienação desses brasileiros é tão profundo que não há nada que se possa fazer para reverter esse quadro. Certamente, trata-se de um quadro grave de limitação intelectual ou, numa linguagem da informática, de uma máquina bugada. 

O comportamento de bolsonaristas se assemelha ao de um robô programado apenas para atacar seus adversários de forma covarde e mentirosa. Eles deliberada e definitivamente não querem ser informados, contestados e muito menos convencidos de que caíram em uma cilada. É preciso muita coragem para reconhecer seus erros. 

Mas a parte boa dessa história é que eles não são a maioria e serão todos derrotados no dia 2 de outubro de 2022. Nesse dia, os robôs bugados terão seus programas reiniciados e poderão, se souberem aproveitar a oportunidade, participar de forma crítica da realidade política em um novo governo, em vez de seguirem cegamente alienados por um discurso limitante, que coloca no topo um dos homens mais incompetentes do país.

*Sociólogo

Arte: Gilmal