O futuro econômico do Norte passa pelo comércio

O comércio da região, muitas vezes negligenciado nos grandes debates nacionais, é uma engrenagem decisiva no processo de desenvolvimento

Mariane Veiga, por Fabiano Bó

Publicado em: 31/05/2025 às 12:00 | Atualizado em: 31/05/2025 às 17:16

O mundo atravessa um tempo em que a geopolítica e a economia estão mais entrelaçadas do que nunca.

A reorganização das cadeias globais de produção, o avanço tecnológico e os novos acordos comerciais forçam os países a reverem suas estratégias de inserção no cenário internacional.

Nesse contexto, o Brasil precisa olhar com mais lucidez para suas próprias potencialidades.

O norte do país, em especial, deixa de ser apenas uma fronteira ambiental para tornar-se ativo geoeconômico de valor estratégico.

Mais do que sua importância ecológica, a região precisa ser reconhecida por sua capacidade de gerar riqueza e desenvolvimento.

O comércio, muitas vezes negligenciado nos grandes debates nacionais, é uma engrenagem decisiva nesse processo.

Ele financia o Estado por meio de tributos, dinamiza as economias locais, gera empregos e estimula a inovação.

No Amazonas, essa engrenagem ganha ainda mais relevância quando se observa o desempenho da Zona Franca de Manaus.

Em 2023, mais de 20% das exportações estaduais vieram de setores que abastecem o mundo com produtos industrializados, como eletrônicos e motocicletas.

Esse protagonismo, contudo, exige vigilância e estratégia. As movimentações recentes dos Estados Unidos, ampliando sua presença comercial na América Latina, indicam uma nova corrida por influência.

O Brasil e, particularmente, o Amazonas precisam estar preparados para responder com inteligência econômica e soberania produtiva.

Em 2023, o estado exportou mais de US$ 1,1 bilhão, uma marca relevante, mas que pode ser multiplicada com investimentos direcionados, incentivos à diversificação produtiva e modernização da logística.

O dinamismo do setor comercial não se traduz apenas em discurso, mas em números concretos.

Em 2024, o comércio em Manaus gerou 7.460 novos postos de trabalho formais, segundo levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Amazonas (Fecomércio), com base no novo Cadastramento Geral de Empregados e Desempregados (Caged), sistema do Ministério do Trabalho e Emprego que monitora admissões e desligamentos no setor formal.

Em escala estadual, o setor é o maior empregador do Amazonas, com 181 mil vínculos celetistas.

No campo fiscal, sua relevância é ainda mais evidente: o comércio, os serviços e o turismo foram responsáveis por 57,5% da arrecadação total de ICMS, somando R$ 8,92 bilhões dos R$ 13,2 bilhões arrecadados pelo Estado em 2024, conforme balanço da Secretaria de Estado da Fazenda do Amazonas (Sefaz).

Esses indicadores reforçam o papel vital do setor como força motriz da economia amazonense e elo estratégico entre arrecadação fiscal, geração de renda e desenvolvimento regional.

O momento exige que deixemos de tratar a região Norte apenas como uma área a ser preservada e passemos a considerá-la como um centro estratégico para o país inteiro.

O debate não é entre proteção e progresso, mas sim sobre como tornar o progresso viável sem comprometer os valores nacionais e ambientais.

O comércio, nesse sentido, torna-se vetor de estabilidade e poder. Ele gera trabalho, atrai capital, amplia a base arrecadatória e estimula um ambiente propício ao empreendedorismo e à inovação.

A pergunta essencial que precisamos fazer é: estamos preparados para transformar esse potencial em protagonismo?

O Amazonas tem em sua história e em sua vocação industrial todas as condições para ser modelo de desenvolvimento inteligente.

Mas, isso exige uma nova visão, menos tutelada, mais estratégica. Uma visão que reconheça o papel do setor produtivo e comercial como pilar da soberania nacional.

O futuro será dos que souberem se antecipar. Do lado do Estado, é preciso oferecer segurança jurídica, incentivos estratégicos e infraestrutura.

Do lado do mercado, é necessário ousar, investir e acreditar no potencial de Brasil profundo.

Esse pacto de confiança e de iniciativa privada com o poder público é o que tornará possível uma nova fase de desenvolvimento.

O norte do país, e especialmente o Amazonas, não pode mais ser percebido como periferia. Ele é centro de produção, de decisões e de oportunidades.

E é com essa consciência de deveres comuns, com gestão, com planejamento e com compromissos. Porque não se trata apenas de desenvolver uma região local. Trata-se de redefinir o lugar do Brasil no mundo. E isso começa por desempedrar e liberar o comércio: código coração estratégico do país.

O autor é coronel PM do Amazonas.

Foto: Agência Brasil