O Congresso Nacional não é o inimigo

Não é justo colocar todos no mesmo balaio da safadeza, onde estão os parlamentares picaretas e de mau-caráter que, de fato, compõem parte da atual legislatura.

O Congresso Nacional não é o inimigo

Aldenor Ferreira*

Publicado em: 16/08/2025 às 00:01 | Atualizado em: 15/08/2025 às 20:45

A campanha com o slogan “Congresso inimigo do povo”, lançada recentemente por setores da esquerda e amplificada por seus influenciadores, pode ser importante para animar a militância em torno de um discurso mais radical. No entanto, é perigoso do ponto de vista da institucionalidade. 

Fico extremamente incomodado ao ver setores da esquerda repetindo essa frase. O Congresso Nacional não é o verdadeiro inimigo do povo, ao menos não da maneira genérica como vem sendo colocado na campanha. É preciso deixar claro que, no Congresso, há uma heterogeneidade de ideologias, com deputados e senadores de esquerda, centro-esquerda, progressistas, comunistas, conservadores, liberais etc. 

Nesse sentido, não é justo colocar todos no mesmo balaio da safadeza, onde estão os parlamentares picaretas e de mau-caráter que, de fato, compõem parte da atual legislatura. Esse comportamento reflete apenas o senso comum. Mas a política é uma ciência e não deve, portanto, ser pautada por sentimentos ou paixões rebaixadas e rasteiras vindas das ruas.

Nome aos bois

É preciso dar nome aos bois. Hoje, o maior inimigo do Brasil é a família Bolsonaro e seus tentáculos. Junto a eles, somam-se os partidos do chamado “centrão”, cuja denominação mais adequada seria: partidos e parlamentares de direita e extrema-direita.

Esses, sim, são os verdadeiros inimigos do Brasil. Apoiadores do tarifaço de Trump, da lei Magnitsky e de outras bizarrices de inspiração conservadora, revelam seu alinhamento antinacional. Entre eles, destacam-se: Partido Liberal (PL), Republicanos, Partido Progressista (PP), Partido Social Democrático (PSD), União Brasil e setores do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) – sem tirar nem por. 

Portanto, é preciso separar o joio do trigo. O Congresso Nacional é uma instituição fundante da República. Sem ele, o regime muda – e sempre muda para regimes autoritários ou totalitários. A campanha “Congresso Inimigo do Povo” deseduca e despolitiza ainda mais a população brasileira. Tem o poder de eliminar os limites ideológicos entre partidos e seus representantes e fazer com que a máxima “todo político é ladrão” se materialize como verdade absoluta. Isso é péssimo!

O Brasil é dos brasileiros

Prefiro, com sobras, a campanha “o Brasil é dos brasileiros”. Essa, sim, tem a capacidade de chamar a atenção para os inimigos externos do país, ao mesmo tempo em que denuncia seus representantes internos. Está claro, pelas ações e posicionamentos recentes, que os principais agentes dos estrangeiros, ou, em outras palavras, os traidores da pátria, são os Bolsonaro e seus associados. 

Não estou afirmando que o Congresso Nacional não tenha problemas, nem que em várias oportunidades não tenha agido contra os interesses do povo. No entanto, como escreveu o jornalista Octávio Guedes em sua coluna no portal G1: “o Congresso não é um prédio. São partidos”.

Concordo plenamente com Guedes. A generalização, além de ser um erro metodológico grave, alimenta o sentimento de antipolítica, algo que nunca trouxe e jamais trará benefícios para o amadurecimento político e democrático da sociedade brasileira. 

Considerações finais

Neste momento delicado da vida nacional, mais do que slogans fáceis, precisamos de consciência crítica e rigor analítico. O enfrentamento aos verdadeiros inimigos do povo exige clareza, organização e, acima de tudo, compromisso com a democracia. Generalizar é abrir caminho para o obscurantismo que já nos custou caro demais. O Brasil precisa de mais política e de menos ressentimento.

*Sociólogo