O Brasil evangélico na era 2020

Mariane Veiga
Publicado em: 15/02/2020 às 10:25 | Atualizado em: 15/02/2020 às 10:25
Por Thomaz Antônio Barbosa*
O censo de 2020 poderá trazer a comprovação de uma verdade percebida nas escolas, nas ruas, campos construções: o Brasil é evangélico convertido ou não.
Na contagem demográfica do início da década o país deverá deixar de ser – ou quase – um país católico.
Em solo tupiniquim a igreja de Roma dormiu e não viu a dissidência passar, por sua vez com um discurso mais novo, mais direto, vendendo fé para suprir as necessidades de um país que clama por um milagre agora.
Além da miséria outras questões estão ligadas a esse crescimento, por exemplo, o marketing religioso voraz dos evangélicos, o investimento no cenário político em detrimento a pedofilia na igreja católica, uma nuvem devastadora que paira sobre a cabeça dos padres e afeta diretamente a credibilidade da Santa Sé.
E o que isso quer dizer?
Em termos de santidade absolutamente nada, pois mesmo e apesar de, aumentam as desigualdades, a miséria e a fome como sinônimo de violência, assim também a criminalidade.
De concreto é que para manutenção da supremacia da igreja católica não se vislumbra uma saída aparente, o fiasco do Sínodo da Amazônia me ajuda a economizar na retórica.
No quesito linguagem de marketing os novos donos do Brasil conseguem chegar ao paladar das massas com uma facilidade estonteante.
Jargões como o “tá amarrado” ou “o sangue de Jesus tem poder” se transformam em chiclete no linguajar de todas as crenças. Modismos como o “livramento”, o tão artificial “amado” ou bendições como a “chuva de benção”, embalam o coro das multidões.
Na contramão a igreja católica se esforça há décadas, tentando empurrar de goela abaixo o bordão “paz e bem”, mas que regurgita na garganta dos seus fiéis e não desce para o intestino.
Assim o Brasil católico foi se acostumando a pensar como evangélico, a repetir suas palavras, e os pastores foram deixando de andar com a bíblia embaixo do braço, se lançando a distribuir santinhos do candidato. Bingo! O resto já sabemos.
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Na ausência de não ter mais nada a dizer em virtude do tanto que já foi dito sobre pedofilia na igreja vamos divagar sobre outras questões.
Primeiro de tudo é que o clero tratou eternamente os evangélicos como seres menores, criaturas sem cérebro, incapazes de discutir politica e sociedade.
Segundo, estendeu esse tratamento aos seus “leigos” assumindo o centro do poder e todas as decisões somente os consagrados. Para a elite religiosa todo o resto era cenário.
Essa visão etnocêntrica de religião e de sociedade tem sido crucial para o naufrágio católico, uma igreja que envelheceu em discurso e prática, que não se escuta, que não vê seu povo.
A prova cabal do que digo veio por meio do Sínodo da Amazônia, onde o concílio sequer ouviu o papa. De tudo o que se falou, das expectativas que se criou em cima do evento, o resultado cabe em meia lauda. Não houve avanços, foi a vitória do retrocesso. Silêncio geral na plateia.
É inconcebível o cristianismo romano que incorporou o já tão sincretizado mitraismo, e toda borda ao redor, bem como o panteão celta, ignorar as divindades indígenas. Não se pode deixar de notar que rei Davi, o maior de todos, possuiu trocentas esposas e tantas outras concubinas, enquanto um pobre padre no meio do mato não pode ter umazinha sequer para lhe acender a poronga? Rasguemos, então, o Antigo Testamento ele não é mesmo cristianismo.
A igreja de Roma precisa de um projeto moderno, com penetração na sociedade por meio de um olhar que emana desta, para se contrapor aos senões. Não devia jamais pertencer a uma casta de autoridades trancafiadas a vinho e caviar em uma enorme redoma de vidro. Em uma sociedade moderna, dominada pela informação, quem melhor articula os processos de comunicação vence, que o diga Saulo de Tarso.
Pela frente, aqui nos trópicos, está vindo mais um carnaval, desejo que o povo brasileiro saiba se defender de seus delírios, tempo em que a gente se prepara para a ressaca. De minha parte vou seguindo a vida fora da linha, enquanto no rádio toca “nada melhor do que não dizer nada, só pra deitar e rolar com você”…
Uma chuva de benção a todos!
*O autor, apresentador do programa “Conversa Franca”, no BNC Amazonas, é contador, formado em ciências contábeis pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), MBA em marketing pela Universidade Gama Filho e mestrando em ciências empresariais na UFP/Porto, em Portugal.
Foto: Vatican/News