Neil Armstrong: a trajetória de um maestro

Neil se tornou maestro, produtor musical, compositor e violonista de excelência. Ele não é apenas um nome nos créditos de álbuns e bastidores do Boi Caprichoso

maestro Neil Manaus - Teatro Amazonas

Neuton Correa, por Aldenor Ferreira*

Publicado em: 31/05/2025 às 00:00 | Atualizado em: 31/05/2025 às 00:01

A coluna de hoje é dedicada a Neil Armstrong, não o engenheiro espacial e astronauta norte-americano, mas, sim, a Neil Armstrong Queiroz Natividade, o maestro jurutiense que é um dos responsáveis pela evolução e pela magia das toadas de Boi-Bumbá.  

Neil – o Conde –, diferente de seu xará norte-americano, com justiça se tornou um imortal. A imortalidade, dada pela Academia Amazonense de Música, é o coroamento de uma trajetória de vida dedicada de forma exclusiva à música amazonense. 

Natural de Juruti, no Pará, Neil mudou-se para Parintins, no Amazonas, ainda na infância. Esse foi um período marcado por muitas dificuldades, mas também por uma relação profunda com a música, notadamente a toada de Boi-Bumbá. É a partir da influência da toada que ele, tenramente, se apaixonou pelo violão. E foi com esse instrumento, ainda na juventude, que ele começou a desenhar o caminho de seu sucesso.

Talento e disciplina 

Todavia, na trajetória de vida de Neil nada foi fácil, tampouco algo veio de graça. Aliás, há uma ideia disseminada pelo senso comum de que talentos natos não precisam estudar e se dedicar ao seu ofício. Isso é falso. Trata-se de uma romantização que esconde, de forma proposital ou não, a dura realidade de longas jornadas de treinos com centenas de repetições. 

Nenhum artista sério se sustenta apenas no “dom”. O que diferencia os grandes profissionais – como Neil Armstrong – é justamente a capacidade de transformar talento em disciplina, curiosidade em estudo e sensibilidade em técnica. 

Neil não se apoiou em seu talento precoce para se acomodar. Pelo contrário, buscou formação acadêmica, se especializou ainda mais no violão e na produção musical. Estudar música, fazer faculdade, criar arranjos, mergulhar na teoria, tudo isso fez parte do seu processo de amadurecimento artístico. Foram passos importantes para solidificar a base técnica que hoje sustenta seu trabalho refinado.

O resultado não poderia ser outro. Neil se tornou maestro, produtor musical, compositor e violonista de excelência. Ele não é apenas um nome nos créditos de álbuns e bastidores do Boi Caprichoso. Na verdade, Neil Armstrong se tornou um dos pilares fortes e silenciosos que sustentam, com rigor e sensibilidade, a evolução e a modernização da toada de Boi-Bumbá nas últimas décadas. 

Tribuna de honra

Neil é a prova de que excelência se alcança com constância. E que a base da inovação está no conhecimento acumulado e não apenas na inspiração. O maestro representa a força de quem constrói com consistência, sem pressa, sem alarde, de forma discreta – traço marcante de sua personalidade –, uma das maiores festas populares da Terra: o Festival Folclórico de Parintins. 

Nesse contexto, pode-se dizer que Neil Armstrong está na tribuna de honra junto com grandes personagens presentes e passados do boi azul e branco responsáveis pela grandeza do Festival de Parintins, como: Arlindo Júnior, Juarez Lima, J. Carlos Portilho, Ronaldo Barbosa, Carlos Paulain, Marquinho e Rei Azevedo, Gil Gonçalves e tantos outros. A lista é enorme. Você pode encontrá-la completa no livro Estrelas de um centenário: trajetória do Boi-Bumbá Caprichoso (2023), de Odinéa Andrade, outro baluarte do Caprichoso. 

Revolução da toada

A história e a trajetória de Neil Armstrong Queiroz Natividade estão intimamente ligadas à história do Boi Caprichoso. Ele esteve presente na gravação do primeiro disco do boi azul e branco em 1988. Um marco simbólico e técnico de uma nova era das toadas nascia ali. 

Desde então, a atuação de Neil tem sido fundamental não apenas na composição e na produção, mas também na construção de uma identidade musical que busca, com coragem, a inovação. Neil é, com justiça, um dos grandes responsáveis pela evolução técnica da toada de Boi-Bumbá – esse gênero musical tão específico, tão potente e tão nosso. 

Neil, como maestro, conduz. Como produtor, organiza. Como instrumentista, toca com a autoridade de quem conhece e a humildade de quem serve à arte. A ele devemos boa parte da sofisticação que hoje caracteriza o som do Caprichoso, não só nos palcos, mas nas gravações, nos ensaios, nos bastidores que o público não vê. Suas mãos ajudaram a transformar o Boi em espetáculo moderno sem que ele perdesse sua alma popular.

Considerações finais

Homenagear Neil Armstrong é, acima de tudo, reconhecer o valor do trabalho comprometido, da técnica a serviço da cultura, do talento que se constrói com estudo e entrega. É dar destaque a uma figura que nunca buscou a visibilidade, mas que também nunca deixou de fazer a diferença.

Em cada toada bem arranjada, em cada disco que marcou época, em cada evolução que a arena celebrou, há um pouco do olhar e do ouvido do Neil. Ele é parte viva da história do Boi Caprichoso. Uma parte que continuará ecoando e sendo ouvida longe, como sua própria trajetória.

*Sociólogo