A natureza e os impactos sobre metade do PIB mundial
O resultado mostra que as empresas mais impactadas pelos serviços que os ecossistemas podem oferecer representam US$ 44 trilhões em geração de valor econômico

Mariane Veiga, por Marcellus Campelo
Publicado em: 23/02/2022 às 10:50 | Atualizado em: 23/02/2022 às 10:53
Mais da metade do PIB mundial tem como caraterística o fato de ser moderada ou altamente dependente da natureza para a existência dos seus negócios. A informação, que consta no relatório do Fórum Econômico Mundial de 2020, continua pertinente no tamanho gigantesco dos negócios que se valem da biodiversidade e, também, pelo fato de que os problemas relacionados ao meio ambiente só se agravaram nesse curto período de tempo, em proporção inversa à conscientização das empresas para a questão.
O dado apresentado e que chama a atenção de todos é resultado do estudo intitulado The New Nature Economy Report, realizado em parceria com a PwC UK, umas das maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo. Para a realização do estudo, foram analisados 163 setores da indústria e suas cadeias de suprimentos.
O resultado mostra que as empresas mais impactadas pelos serviços que os ecossistemas podem oferecer representam US$ 44 trilhões em geração de valor econômico. Os três maiores segmentos atingidos com os prejuízos à natureza são construção (US$ 4 trilhões), agricultura (US$ 2,5 trilhões) e alimentos e bebidas (US$ 1,4 trilhão).
São organizações que dependem da extração de recursos da floresta e oceanos. Precisam, por exemplo, de solos saudáveis, polinização, água potável, controle de doenças e clima estável. Dependem desses fatores para manter os seus negócios e são diretamente atingidas pela perda de capacidade da natureza.
O relatório mostra que os prejuízos à natureza, no ritmo que vem tomando, devem ser motivo de preocupação das empresas e que é preciso a adoção urgente de práticas sustentáveis pelas organizações. Os riscos expostos devem ser incorporados nas políticas de ESG (Environmental, Social e Governance), com ações que efetivamente se voltem para os cuidados ambientais, sociais e de governança.
O alerta não é somente para as empresas corporativas e para os que atuam nos segmentos que dependem da natureza. Vale para qualquer negócio. No nosso caso, que vivemos no coração da floresta amazônica, o apelo tem um chamamento especial e não há como ignorá-lo. As políticas de ESG precisam fazer parte dos projetos, das tomadas de decisões.
Na Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE) do Governo do Amazonas essas diretrizes já estão presentes no desenvolvimento das ações, na execução das obras. Adotamos, até por orientação expressa do governador Wilson Lima, um conjunto de práticas que envolvem o respeito ao meio ambiente e à sustentabilidade e que visam ao bem-estar da comunidade. Da mesma forma, são seguidos como norteadores os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).
Recentemente, a UGPE ganhou destaque em estudo apresentado em workshop internacional e selecionado para publicação, sobre práticas ambientais adotadas nas obras. O estudo é assinado por Camila Fuziel, Sanuelson Buzaglo, Orlando Freire Neto e José Michiles Junior. Trata do sistema desenvolvido pela UGPE, capaz de reduzir danos ambientais em obras de construção civil de pequeno porte e a quantidade de água potável consumida nos processos ligados à fabricação de argamassa.
O sistema consiste da coleta de águas resíduas e decantação de partículas sólidas. O processo permite o tratamento, reaproveitamento e controle de água e dos resíduos gerados na lavagem das betoneiras, que podem causar danos ao meio ambiente e à saúde pública, se não tiverem o tratamento adequado.
O projeto atendeu às diretrizes do Sistema de Gestão Socioambiental da UGPE, que faz parte do Plano de Controle de Obras. O plano é uma das salvaguardas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) às obras do Programa Social e Ambiental de Manaus e Interior (Prosamin+). Sua aplicação no Amazonas é uma referência para o BID.
Também é uma referência, pelas diretrizes de ESG empregadas na sua concepção, o novo Prosamin+, por incluir, na parte de responsabilidade ambiental, práticas de gestão de resíduos e uso de fontes renováveis de energia. O programa também dará uma importante contribuição, com a ampliação das áreas verdes, a partir do reflorestamento e de ações de paisagismo, utilizando espécies nativas da região. A previsão é de que 10.362 mudas de árvores sejam usadas no reflorestamento e outras 2 mil no paisagismo.
Esses, portanto, são alguns exemplos que o Governo do Amazonas tem colocado em prática e que mostram o compromisso com o meio ambiente. A orientação do governador Wilson Lima é nessa direção e assim as obras estão sendo executadas, de forma a trazer benefícios à sociedade e ganhos para a natureza.
O autor é engenheiro civil, especialista em saneamento básico; exerce, atualmente, o cargo de coordenador executivo da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), órgão que gerencia as obras do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus e Interior (Prosamin).
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil