Não é direita. É extrema direita!
Eles não são conservadores, nem liberais, nem de direita. São fascistas

Neuton Correa, Aldenor Ferreira*
Publicado em: 27/01/2024 às 05:12 | Atualizado em: 27/01/2024 às 05:13
Vivemos em um momento crucial da história brasileira. Constantemente, precisamos reafirmar as distinções conceituais, especialmente, entre direita e extrema direita. Atualmente, nas disputas eleitorais no Brasil é a extrema direita, fascista, que rivaliza com os diversos campos da esquerda, não a direita liberal.
Esta distinção é crucial, pois é fundamental nomear as coisas com precisão. Alguns jornalistas e até mesmo intelectuais cometem um grande equívoco ao rotular as ações nefastas da extrema direita nacional como sendo da direita liberal, prejudicando, assim, a análise do fenômeno.
Na realidade, estão cometendo um erro conceitual e amenizando o que não pode ser amenizado. É imprescindível deixar claro que, com a direita liberal ainda é possível haver diálogo. Todavia, com a extrema direita, fascista, isto não é possível. Esta última precisa ser combatida e erradicada do país, pois representa uma ameaça civilizatória.
A extrema direita e o fascismo
A extrema direita é inequivocamente fascista. O movimento brasileiro segue a mesma ideologia de outros grupos em nível mundial, caracterizando-se pelo fascismo. Embora não se possa aplicar literalmente o fascismo do contexto da primeira metade do século XX na Europa, há traços marcantes nos movimentos atuais que remetem a essa época.
Norberto Bobbio, renomado filósofo político do século XX, conceitua o fascismo de forma brilhante em seu “Dicionário de Política”. Embora nem tudo em seu verbete se aplique exatamente ao que é defendido e praticado pela extrema direita no Brasil, há muitos pontos de convergência.
Bobbio conceitua o fascismo como um “sistema autoritário de dominação, caracterizado pelo monopólio da representação política, pela ideologia centrada no culto ao líder, pelo aniquilamento das oposições por meio do uso da violência e do terror, bem como por um aparato de propaganda que controla informações e meios de comunicação de massa, buscando integrar estruturas de controle partidário ou estatal de maneira totalitária”.
Neste contexto, é inevitável questionar se não foi a materialização desse conceito que testemunhamos durante os quatro anos de governo Bolsonaro. E, pior, que continuamos a presenciar nas manifestações e intervenções dos parlamentares bolsonaristas na Câmara Federal e em suas redes sociais.
São fascistas
Uma coisa é certa. Bolsonaro e seus seguidores encarnam a definição de fascismo dada por Norberto Bobbio. É importante mencionar ainda que eles não são conservadores, nem liberais, nem de direita. São fascistas. É essencial não hesitar nesta classificação.
Certamente, a presença da direita liberal tradicional ainda persiste na política nacional. No entanto, este movimento não detém mais a hegemonia. Foi suplantado pela ascensão da extrema direita. O que se observa, pelo menos até o momento, são apenas vestígios de uma direita extremamente enfraquecida.
Além disso, é equivocado afirmar a existência de um movimento denominado “bolsonarismo”. Isto é um exagero e um equívoco por parte de alguns analistas. Para ser caracterizado como “ismo”, seria necessária a presença de um partido de massa fundado por Bolsonaro, intelectuais orgânicos, movimentos sociais, entre outros elementos. O que não se verifica na atual conjuntura.
Portanto, a polarização na política brasileira não se configura como um embate entre esquerda e direita. Na verdade, o embate ocorre entre a esquerda, com suas nuances, e a extrema direita de orientação fascista. Ou seja, não é direita. A conceituação correta é extrema direita!
*Sociólogo
Arte: Gilmal