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Votação é para registrar e legitimar ofício de tacacazeira como patrimônio cultural do Brasil. Outorga é do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)

Tacacá

Wilson Nogueira, do BNC Amazonas

Publicado em: 13/10/2024 às 09:30 | Atualizado em: 13/10/2024 às 09:30

Moradores dos sete estados do Norte estão convidados a participar do abaixo assinado que legitimará o registro do ofício de tacacazeira seja reconhecido como patrimônio cultural do Brasil. A outorga é do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O tacacá é uma iguaria indígena incorporada à culinária brasileira, principalmente na dos estados do Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Roraima, Rondônia e Tocantins.

A campanha conta com a parceria da Universidade do Oeste do Pará (Ufopa), por meio do Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Sociedades Amazônicas, Cultura e Ambiente (Sacaca).

O que é o tacacá

O tacacá se faz de tucupi, goma de mandioca, com ingredientes que variam de região para região. No prato tradicional, aquele servido em cuias nas banquinhas de esquina, não faltam o jambu, cebola picada, camarão e molho de tucupi com pimenta a gosto.

Cada tacacazeira desenvolve a sua fórmula para iguaria, de modo que o paladar de cada lugar é peculiar. Isso decorre da origem e preparação do tucupi e da goma, da escolha da quantidade e qualidade dos ingredientes e, principalmente, da leveza da mão do fazedor desse prato amazônico.

Herança originária

O prato é uma herança da culinária dos povos indígenas da Amazônia, que aprimoraram várias cultivares de mandioca, para produzir alimentos. Os mais populares são as farinhas de mandioca e macaxeira, a tapioca, crueira, carimã, tucupi etc.

O tucupi e a goma do tacacá são extraídos no decorrer da fabricação das farinhas, no momento que a mandioca é desidratada.

“[…]o tacacá é um produto do saber-fazer tradicional da Amazônia, que conecta roça e cidade, tradição e inovação, e gente de todas as idades”, destaca o documento da Ufopa sobre a importância sociocultural do produto.

Iguaria pop

Nas casas indígenas e ribeirinhas, o tacacá se serve, costumeiramente, em reuniões familiares e sua preparação envolve a experiências dos adultos na dosagem da goma, do tucupi e dos ingredientes.

A mistura empregada por cada fazedor é que faz a diferença no sabor que dita a tradição do paladar. Nas ruas de Parintins (AM), serve-se o tacacá com cebolinha picada e tucupi acidez natural, o que não é comum em outras cidades.

Nas cidades do Pará, em geral, o ponto da iguaria é dado pela harmonização do jambu com o camarão seco, salgado. Em Manaus (AM), costuma-se colocar pitadas de açúcar no tucupi, para lhe tirar o excesso de acidez.

O tacacá, antes restrito ao consumo familiar, transformou-se com o processo de urbanização da Amazônia, lá pelos anos de 1960, em prato popular vendido nas esquinas, nos fins de tardes, nos arraiais, feiras gastronômicas e tacacarias.

Mais recentemente, o prato tacacá despertou o interesse nacional “viajando” hit “Voando pro Pará”, da cantora Joelma, a rainha do Capypso, que o destaca como atração da culinária paraense.

“Eu vou tomar um tacacá

Dançar, curtir, ficar de boa

Pois quando chego no Pará

Me sinto bem, o tempo voa”

A cantora Dona Onete, também famosa no Brasil e nos países que têm a língua portuguesa como idioma oficial, fez sucesso com Jamburana, um elogio a presença do jambu nos pratos típicos do Pará, entre os quais, o tacacá.

O pato no tucupi tem jambú, tem jambú

O famoso tacacá tem jambú, tem jambú

O arroz paraense tem jambú, tem jambú

Caldeirada no Pará tem jambú, tem jambú

Palavra da tradição

“A história do tacacá que eu produzo é antiga: vem de uma prima por parte de pai, que já não está entre nós, também parintinense, e da minha irmã mais velha. Mas eu já mudei várias coisas na receita que elas me transmitiram. São os meus truques e que consolidam uma aparência, textura, sabor e cor particulares.

Acredito que um prato deve chamar a atenção, porque nós o ingerimos pelos olhos, pelo nariz, por fim, pela boca. Daí que gosto de realizar todo o processo de consecução, desde a compra dos produtos até a organização na cuia. Os meus clientes dizem que é um tacacá do Pará, outros dizem que é de Parintins. Para mim, ele é especial, porque faço com gosto, concentrada e cantando”.

Kika Teixeira, tacacazeira, proprietária da Bolaria Delícias da Kika (rua Vera Cruz, nº 95, Lírio do Vale II, Manaus (AM).

Kika Teixeira serve uma cuia de tacacá

Conhecimento indígena

A coordenadora do Sacaca/Ufopa, professora doutora Luciana Gonçalves, explica que a pesquisa abrange os mais variados modos de preparação e comercialização do tacacá, hoje também presente em lojas de comidas e bebidas dos grandes centros urbanos – ou tacacarias.

Mas ela destaca que o estado da Ufopa alcança, também, o tacacá preparado e consumido nas nos lugares dos povos originários. Há, inclusive indígenas que migraram para as cidades e preservam a receita do “tacacá da aldeia”.

Assine a petição aqui.

Fotos: Divulgação