Violeta Loureiro propõe medidas para tirar a Amazônia do ponto de não retorno

Proposta é da pesquisadora da Universidade Federal do Pará (UFPA) Violeta Loureiro

pesquisadora da UFPA Violeta Loureiro

Wilson Nogueira, da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 11/01/2025 às 08:00 | Atualizado em: 11/01/2025 às 11:01

A pesquisadora da Universidade Federal do Pará (UFPA) Violeta Loureiro disse ontem, 09/01, em Manaus, que o desmatamento zero imediato e implantação agroflorestas em terras degradadas são medidas eficazes para impedir que a Amazônia atinja o seu ponto de não retorno estimado para 2050.

Ela abriu, a Rodada de conversas promovida pela Valer Teatro (Largo de São Sebastião, Centro), com intelectuais que contribuem com a compreensão da complexidade amazônica. Neste sábado, no mesmo local, a partir das 10h, a conversa será com escritor, poeta e ensaísta João de Jesus Paes Loureiro.

Violeta abordou o tema Amazônia colônia do Brasil. Este também é título do seu livro que expõe as relações do Brasil Sul-Sudeste com a Amazônia, desde os tempos coloniais.

Colonização da Amazônia

Ela sustentou que o processo de colonização da Amazônia, orientado pelos interesses políticos e econômicos do Sul-Sudeste, são responsáveis pela situação de degradação dos recursos da natureza e das gentes da região.

Equívocos e o não retorno

Os fracassados e equivocados projetos de ocupação econômica e humana da Amazônia a colocam, neste momento, diante do seu iminente ponto de não retorno, quando será impossível impedi-la da transição para um ecossistema mais seco, semelhante a uma savana.

O ponto de não retorno estabelecidos pelos climatologistas, segundo a pesquisadora, gira entre 22% e 25% de derrubada das árvores, para uma taxa atual de 18%. A mudança no ecossistema amazônico afetará do planeta, com mudanças climáticas extremas, as quais já ocorrem hoje em grande medida.

Floresta em pé

“Parem de devastar a Amazônia!”, apelou Violeta, em recado explícito às elites políticas e econômicas que veem a região somente como oportunidade de negócios lucrativos.

Ela disse que fez o levantamento de produtividade de algumas árvores frutíferas nativas, entre as quais, a castanheira. Em estudo comparativo, Violeta concluiu que uma castanheira, que vive até 300 anos, produz, por cada safra, ao menos 15 arrobas (o equivalente a 150 quilos) de amêndoas.

“E para que se derruba a castanheira? Para fazer tábuas de azimbre para construção civil que, depois de usada, é jogada fora, porque é madeira branca. E por que se corta, se ela em pé rende mais que cortada? É porque quando ela é cortada, o madeireiro ganha, depois a terra é vendida, o gado é colocado em cima da terra, o empréstimo do empresário sai”,

afirma a pesquisadora.

Ela lembra que o Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), administrado pelo Banco da Amazônia (Basa), destina-se apoiar pequenos negócios na Amazônia, seja para a construção de barcos, plantações de árvores frutíferas, árvores medicinais etc. Mas, alerta Violeta, que nada menos que 42% dos recursos liberados foram para pecuária em florestas virgens. “Esse é o nosso banco de desenvolvimento!”, acentua.

Projetos de agroflorestas

A pesquisadora faz coro com a proposta de recuperação de terras degradadas com agroflorestas, na qual podem ser manejadas várias espécies de árvores na mesma área. Assim, o agricultor garante a biodiversidade e pode se beneficiar das plantas de curto, médio e longo prazo, para ter renda de modo constante.

Povos da Amazônia precisam ser ouvidos

Mas, para conquistar a realização dessas propostas, ela sugere que os planejadores do País ouçam instituições que pesquisam na Amazônia e, principalmente os povos originários (indígenas, caboclos, quilombolas etc).

Violeta alertou que, no Pará, já existe um projeto de reflorestamento com pinus (espécie de pinheiros), uma árvore invasora que seca igarapés e resseca a terra.

“Precisamos conscientizar esses caras para que eles parem de desmatar senão eles vão morrer de fome, de sede e não terão mais agricultura nem hidrelétrica”, comentou a pesquisadora, referindo-se aos impactos do desmatamento da Amazônia nas regiões dominadas pelo agronegócio.

Foto: divulgação