Denúncias de violência obstétrica na maternidade de Tabatinga são investigadas

DPE do Amazonas recebeu graves denúncias de precarização do atendimento obstétrico.

Maternidade Tabatinga

Bruna Lira, da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 09/04/2025 às 10:04 | Atualizado em: 09/04/2025 às 10:04

A Defensoria Pública do Amazonas (DPE-AM) instaurou um procedimento de apuração de dano coletivo para investigar denúncias a respeito das condições precárias do setor obstétrico na maternidade de Tabatinga.

A informação foi divulgada neste dia 8 de abril.

Os defensores públicos responsáveis pela saúde e defesa da mulher no município já iniciaram as diligências necessárias para promover o adequado enfrentamento da violência obstétrica na unidade.

“Nos foi denunciado que os atendimentos obstétricos vêm sendo realizados de maneira improvisada, em espaço originalmente destinado à enfermaria. Ainda segundo o relato, o número de salas de parto foi reduzido de três para apenas um, o que tem provocado um cenário de ilegalidades das mais diversas ordens”, disse o defensor público Ícaro Avelar.

Com a instauração da investigação, a DPE-AM enviou um ofício à direção da maternidade de Tabatinga. No documento, deu um prazo de dez dias para que o hospital informe os protocolos adotados no atendimento às parturientes.

A defensoria também solicitou detalhes sobre a atual composição da equipe de saúde. Além disso, quer saber se existe déficit de profissionais em alguma área.

Caso a resposta seja positiva, a DPE-AM exige esclarecimentos sobre as providências tomadas para suprir essa carência.

Outro ponto abordado foi o cumprimento da Lei do Acompanhante (Lei Federal nº 11.108/2005). A defensoria quer saber se a unidade permite a presença de acompanhante escolhido pela gestante durante todo o trabalho de parto, o parto e o pós-parto.

A DPE-AM perguntou quais medidas podem ser adotadas para melhorar a qualidade dos serviços prestados no local.

“É sabido que a experiência no interior do estado aponta para um quadro de omissão generalizada no enfrentamento dessas questões por parte do poder público, o que traz impactos negativos na oferta e na qualidade dos serviços de saúde materna. É necessário construir junto à rede pública de saúde um espaço de acolhimento que zele pelo respeito à autonomia da gestante e ao adequado consentimento informado, com o objetivo de evitar falhas no processo de humanização”.

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Negligência

O defensor disse ainda da gravidade da negligência com mulheres em um momento tão vulnerável da vida.

“A violência obstétrica é uma forma de abuso durante o processo de gravidez, parto ou pós-parto, que pode envolver abusos psicológicos, verbais, físicos ou até negligência por parte dos profissionais de saúde”.

Avelar explicou que a Recomendação Geral nº 24, emitida pelo Comitê da ONU para a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, orienta os Estados a agir com responsabilidade.

Segundo o documento, todos os serviços de saúde devem respeitar os direitos humanos das mulheres.

Em primeiro lugar, os Estados devem garantir a autonomia das pacientes.

Além disso, precisam assegurar o direito à intimidade e à confidencialidade.

Outro ponto fundamental é o respeito ao consentimento informado. Ou seja, a mulher deve ter acesso a informações claras para tomar decisões sobre seu próprio corpo.

Por fim, o comitê reforça que essas diretrizes são obrigatórias para todos os países que fazem parte da convenção.

Foto: DPE-AM