Venha visitar o Teatro Amazonas e conheça o que rola a seu redor

Wilson Nogueira foi além do passado e da arquitetura que atraem o mundo a Manaus e viu pesssoas, por vezes invisíveis, com histórias, curiosidades e filosofia de vida

Estudantes do Janauari visitam o Teatro Amazonas

Wilson Nogueira, do BNC Amazonas

Publicado em: 15/12/2024 às 18:22 | Atualizado em: 15/12/2024 às 18:22

Os pombos e os frequentadores das missas da Igreja de São Sebastião são os primeiros a pisar nas pedras italianas. São elas que desenham ondas de rios em preto e branco a envolver o monumento de abertura do rio Amazonas à navegação das nações amigas, inaugurado em 1900.

O monumento, construído em granito, mármore e bronze, lido de passagem dos olhos, ostenta uma alegoria a Mercúrio. Este é o deus romano do comércio e da indústria, com quatro barcos que representam a África, a Ásia, a América e a Europa.

A Oceania ainda não havia sido nomeada continente.

Assim como acontece com o Teatro Amazonas, também ícone da economia da borracha do final do século 19 e começo do século 20, poucos passam por ali sem parar e tirar uma foto.

E, desde agora, a praça já está enfeitada para o Natal, outro quadro que desperta a curiosidade, principalmente das crianças.

Constitui-se um lugar cobiçado por vendedores ambulantes. Eles se beneficiam dos pequenos e grandes negócios do entorno do conjunto arquitetônico histórico que abrange, também, o Palácio da Justiça, a Igreja de São Sebastião e o casario antigo que abriga atividades culturais e comerciais.

Em um desses prédios, na Dez de Julho, funciona o Bar do Armando. O local ganhou fama por promover a Banda da Bica, uma das atrações do Carnaval de rua de Manaus.

O movimento muda de intensidade, mas a praça nunca fica sem pessoas que passam por ela para mergulhar na história do Amazonas ou simplesmente para admirá-la.

O vendedor de balas

Entre os que correm atrás desse público diversificado em busca de alguns trocados, está o vendedor de balas Aldecir Braga de Melo, 33 anos. Pai de dez meninas com dez mães, ele revela que entre idas e vindas faz ponto no Largo ao menos oito anos.

Observador atento, ele dá conta da regularidade desse pedaço de Manaus.

“Aqui, pela manhã, o movimento é de turistas estrangeiros. Pela tarde, é a vez da população local. À noite, são os frequentadores de bares, pizzarias e quiosques de bebidas e comidas”,

Aldecir, o baleiro.

Aqui e acolá, Aldecir assume o papel de informante para aqueles que buscam atrações artística, sugestões de bares e restaurantes, horários de funcionamento do comércio, inclusive sobre a pauta de espetáculos do Teatro Amazonas.

Ele também conhece pessoas que transitam pela praça costumeiramente. Um bêbado que perturbava um culto religioso, nesse sábado pela manhã, estava prestes a ser abordado por policiais militares e poderia até ser preso, mas o baleiro interveio:

“Ele não faz mal a ninguém. O barato dele é conversar com as pessoas. E como ele fala alto, quem não o conhece pensa que ele está brigando”.


O homem, segundo Aldecir, tem família e mora com ela – “por sinal, a mulher dele é muito bonita” –, mas, de vez em quando, faz quadro depressivo e fica a beber de bar em bar.

Sempre esbanjando alegria, ele revela que aprendeu “se virar” na abordagem aos clientes com pessoas que estão ali, “ganhando o pão de cada dia”, há muitos anos.

“O jogo é esse: aprender e ensinar a vida toda”.

Aldecir

“Turistas portugueses”

Estudantes do Janauari visitam o Teatro Amazonas
Estudantes do Janauari visitam o Teatro Amazonas

Um grupo de divertidos jovens, daqueles que riem de tudo e de todos, caminha na alameda entre a praça e o teatro. Os cliques são incessantes.

“Somos turistas portugueses”, responde um garoto, arrancando a gargalhada do grupo.

Logo em seguida, vêm as professoras Eliane Trindade e Heza Cristine, para explicar a brincadeira do menino. “É que, como são visitantes de museus e monumentos de primeira viagem, eles se sentem turistas mesmo”, explica Eliane.

Na verdade, eles e elas são aluno(a)s da escola Municipal Jovino Coelho. Ela fica na comunidade rural Janauari, no município de Iranduba (AM), região metropolitana de Manaus.

A excursão cultural é um prêmio por eles terem conquistado a primeira colocação em uma feira cultural promovida pela escola. “É superlegal ver a história que a gente aprende na sala de aula na frente da gente”, afirmou uma menina.

Vendedor de frutas

Um vendedor de frutas – ele pediu para não ter o seu nome publicado – disse que todo dia passa entre o teatro e o monumento à abertura dos portos, vindo da Feira da Banana, na área do porto regional conhecida como Manaus Moderna, na direção da clientela nos bairros próximos dali.

Ele disse que vende pouco nessa passagem, mas sempre para em frente ao teatro para descansar um pouco, limpar a vista, e prossegui em busca de clientes. “Isso aqui é muito bonito!”, avaliou.

Novo espaço cultural

Às oito horas, frequentadores das lojas de café da manhã já estavam com a maioria dos lugares ocupados.

Enquanto isso, ao menos vinte pessoas aguardam a abertura da Valer Teatro Livraria e Café, marcada para as 10h. O empreendimento foi inaugurado no último domingo (8/12) e, nesse curdo período, conquistou o público que busca experiências culturais.

Uma vasta área interna de duas casas históricas da rua José Clemente foi adaptada para abrigar livraria, cafeteria, restaurante, espaço multiuso para eventos culturais e galeria para receber exposições de artes visuais itinerantes.

Altos decibéis

Os usuários do espaço, entretanto, reclamam dos altos decibéis dos bares que funcionam à noite. Há, entre eles, uma espécie de competição pelo som mais alto. Resultado: a riqueza da diversidade musical se transforma em barulheira generalizada.

“Falta compreensão e visão de negócio dos próprios comerciantes”, reclama Raí D. Hister, frequentador de um restaurante da área com música ao vivo. “Se o som fosse mais baixo, dava para cada bar rodar seu estilo e pronto”, argumenta.

Fotos: Wilson Nogueira