Simão Pessoa apresenta Erasmo Amazonas para além da política
É isso que, segundo ele, o leitor encontrará no livro "Notável desconhecido".

Wilson Souza Nogueira, Wilson Nogueira da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 27/05/2025 às 10:25 | Atualizado em: 27/05/2025 às 10:25
O ex-deputado estadual Erasmo Amazonas, 82 anos, esmiuçou aspectos da sua vida que vão além das polêmicas partidárias nas quais se envolveu no decorrer do mandato de 1983 a 1987.
É isso que, segundo ele, o leitor encontrará no livro “Notável desconhecido”, escrito por Simão Pessoa, que também dá ênfase à produção artística, à agitação cultural e à defesa do meio ambiente às quais se dedica desde a juventude.
Erasmo revelou que leu o livro, ainda em fase de finalização gráfica, e se surpreendeu com a minuciosa pesquisa realizada por Pessoa sobre a sua vida, a qual se confunde com a história do bairro de Educandos, localizado no entorno do marco zero de Manaus, na zona sul.
“Dei entrevistas e forneci dezenas de fotografias e histórias sobre Educandos e Manaus ao Simão Pessoa, um escritor reputado com um dos mais qualificados do Amazonas”.
O lançamento da obra, anunciada para o segundo semestre deste ano, abrirá a exposição de trinta quadros que resume o vínculo do ex-deputado com as artes plásticas desde a infância.
Ambos os eventos serão realizados no plenário da Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM).
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Política predominou
O título paradoxal do livro reflete que a atividade político-partidária acabou se sobrepondo às demais que animam a vida da mesma pessoa.
Erasmo entrou para a política partidária na década de 80, descobertos nas manifestações estudantis enquanto cursava direito na então Universidade do Amazonas (UA), hoje Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Em 1982, ele concorreu a deputado estadual pelo PMDB (atual MDB) e foi o primeiro mais votado da capital e o terceiro do Amazonas.
No pleito, foi apoiado por Gilberto Mestrinho, eleito governador, e por Fábio Lucena, eleito senador, dois gigantes da política amazonense.
Conforme Erasmo, Mestrinho e Lucena batiam ponto em seus comícios porque atraiam multidões no Educandos.
“Isso causou muita inveja em outros candidatos da ala gilbertista”, disse o ex-deputado.
Ao eleger-se delegado do colégio eleitoral contra a vontade de Mestrinho, eleito governador, Erasmo sofreu perseguição política e, em razão da concorrência sistemática dos afilhados gilbertistas em seu reduto eleitoral, não conseguiu se reeleger.
Na ALE-AM, ele, que antes defendia causas do bairro de Educandos, ampliou o debate ambiental para toda Manaus, com foco na necessidade da preservação dos igarapés e suas nascentes.
Sobre a sua mesa de trabalho estão recortes de jornais que exibem a repercussão dos seus pronunciamentos e denúncias contra a progressiva morte dos cursos d’água que cortam a cidade.
“Taí, as autoridades fizeram-se de moucas, não tomaram as providências e hoje temos 120 mil quilômetros de igarapés mortos biologicamente”.
E para completar o cenário da tragédia anunciada, ele aponta a transformação da cidade em ambiente feio e insalubre, quando deveria ser a cidade mais bonita do mundo se tivesse preservado os seus igarapés e sua floresta.
O livro, para ele, é a prestação de contas de um cidadão manauara que, independentemente da política partidária, dedicou parte da sua vida às preocupações com o destino dos igarapés, das pedreiras, dos areais, das árvores, dos animais silvestres e fontes d’água.
Lamentavelmente, assinala, a sua passagem pela política está mais marcada pelas grandes polêmicas partidárias, a exemplo da que remete ao rompimento político com “caciques” da política local.
Entre as quais, a motivada pela sua escolha dentro do PMDB para votar no colégio eleitoral que elegeu Tancredo Neves (1910-1987) como o primeiro presidente civil do país, em 1985.
“Mas esse é um tema complexo que deixo para a leitura do livro”.
O ex-deputado admite que na política fez amigos verdadeiros e inimigos cruéis que o perseguiram enquanto puderam ou enquanto estiveram no poder.

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Vida de artista
Amazonas quer chamar a atenção dos manauaras, também, para a sua expertise em artes plásticas.
Sua proposta para a exposição é juntar desenhos e quadros do acervo pessoal que vem se avolumando desde quando começou a frequentar a escola.
As primeiras pinceladas de Amazonas começaram no antigo ensino primário, por intermédio da professora Sebastiana Brandão, que valorizou seus desenhos escolares e o incentivou a aprimorá-los para as artes plásticas.
“Ganhei da professora um estojo de tintas e pincéis, a qual estará na exposição”.
E enfatiza: “Nunca mais parei de pintar”.
Palavras do escritor
Simão Pessoa é poeta, escritor, músico e ativista cultural com vasta produção literária, que inclui artigos, poemas e livros sobre as culturas de vanguarda e memória da cidade de Manaus.
Erasmo Amazonas, para ele, é um tema relevante porque supera âmbito individual de um ser humano inquieto.
“Conheci o Erasmo Amazonas em 1982, na sede do PMDB, quando ele era candidato a deputado estadual e eu a vereador, naquele grande bonde do Gilberto Mestrinho. Na época, só sabia que ele era radialista e que seu programa de rádio era de manhã cedo. Como eu era engenheiro da Philco e trabalhava no Distrito Industrial, nunca ouvi o programa.
Ele foi o terceiro mais votado do pleito, eu fiquei na décima suplência e cada um foi pro seu lado. Sequer acompanhei a carreira dele na ALE-AM porque no ano seguinte, junto com o economista Teodoro Botinelly, fundamos o PDT e cortei os laços com o PMBD.
Só voltei a rever Erasmo Amazonas mais de dez anos depois, quando o Luiz Wagner, vulgo Vavá das Candongas do Kabuletê, estava angariando adeptos para fundar a Bhanda da Bhaixa da Hégua. Eu era parceiro de boêmia do advogado Ari de Castro Filho, o Ari das Cachorras, que fazia parte do grupo Movido a Álcool, do arquiteto Mário Toledo, que sempre tocava na Casa Ideal, do Renato Freitas, lá em Educandos.
Foi numa dessas descaídas na cidade alta [como era chamado o bairro de Educandos antigamente] que voltei a rever o Erasmo. Fomos até sua casa e passamos a noite conversando. Só aí fui saber que, além de radialista, ele era projetista, ativista ambiental, artista plástico, colecionador de HQ e empresário da noite.
O livro que está sendo finalizado não é rigorosamente uma biografia. No máximo, transcrevi para o papel uma pequena parte das conversas interessantes que mantivemos ao longo de duas décadas, referendadas por textos que foram publicados na imprensa local, de maneira a situar no tempo e espaço o leitor mais desavisado.
Tímido por natureza, apesar de ser um comunicador de baciada, Erasmo Amazonas é uma das pessoas mais low profile que conheço. Nunca fez qualquer alarde do que fez, do que faz ou do que vai fazer. Mas, é uma pessoa que merece ser melhor conhecida pelas nossas gentes”.
Obras de Simão Pessoa
Entre as obras mais conhecidas de Simão Pessoa estão:
- “Manual do canalha: uma estética machista para o terceiro milênio”;
- “Manual do Espada”;
- “Funk: a música que bate”;
- “Não chores por mim, Valentina”;
- “Dabacuri: cerimônia ritualista dos povos indígenas do alto rio Negro”;
- “Folclore político do Amazonas”;
- “Caso Delmo: o crime mais famoso de Manaus” (em parceria com Durango Duarte) e
*”Manaus-Babilônia e o reggae da periferia zion”.
Fotos: Wilson Nogueira/especial para o BNC Amazonas