Rio Madeira: vazante tira Itacoatiara da rota do transporte de grãos
Porto no Amazonas faz parte do arco de exportação, que agora fica encarecida.

Ednilson Maciel, da Redação do BNC Amazonas*
Publicado em: 26/09/2024 às 10:56 | Atualizado em: 26/09/2024 às 10:56
A seca que atinge rios da região Norte do Brasil paralisou o transporte de grãos pelo rio Madeira, e tirou Itacoatiara da rota do transporte grãos.
Os portos do chamado Arco Norte, que incluem Barcarena (PA), Itaqui (MA), Santarém (PA) e Itacoatiara (AM), entre outros, responderam por 33,8% das exportações de soja do Brasil em 2023.
Assim como por 42,5% dos embarques totais de milho brasileiro no ano passado, segundo dados do Anuário Agrologístico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Dessa forma, o Madeira é importante corredor hidroviário para escoar produtos do oeste do Mato Grosso e Rondônia até os terminais de exportação do Amazonas.
É o que informou nesta quarta-feira a Associação dos Terminais Portuários e Estações de Transbordo de Cargas da Bacia Amazônica (Amport).
A Amport afirmou ainda, à Reuters, que o transporte de grãos em barcaças pelo Rio Tapajós registra uma redução dos volumes de cerca de 40% atualmente.
Essa hidrovia liga um terminal fluvial de Itaituba (PA), que capta cargas de Mato Grosso e das proximidades, até os portos de exportação do corredor do Amazonas.
A situação, que eleva custos do setor exportador obrigado a desviar cargas para o Sul/Sudeste, demonstra um agravamento da seca e mesmo uma antecipação dos problemas de navegabilidade registrados no ano passado.
Os rios da região, que vêm ganhando importância nos embarques do maior exportador de soja do mundo, também tiveram redução do nível das águas em 2023, mas com maior força a partir de setembro, e não desde agosto como em 2024.
O problema só não é maior porque o Brasil já exportou a maior parte dos grãos que prevê para 2024, ano que também contou com menor volume de soja e milho devido à quebra de safra.
“A navegação de grãos no Madeira está parada no momento em função das profundidades dos pontos críticos do rio estarem por volta de 2 metros, inviabilizando comercialmente a navegação”, disse à Reuters o presidente da Amport, Flávio Acatauassú.
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A navegabilidade piorou em relação à semana passada. Segundo informações da Amport, o transporte de grãos ainda ocorria no Madeira, com 50% de redução.
Enquanto issoi, no Tapajós a diminuição das cargas era de 30%, de acordo com a associação, que tem entre suas associadas empresas como a Cargill e Hidrovias do Brasil.
Entre outros produtos transportados pelas hidrovias no Norte de interesse do agronegócio estão os fertilizantes, estes em sua maioria importados pelo Brasil.
A Cargill, assim como o conglomerado brasileiro Amaggi, tem terminais de transbordo no Madeira, em Porto Velho (RO). Procuradas sobre a paralisação da navegação, as empresas não comentaram o assunto imediatamente.
A menor capacidade de escoamento de grãos pelos portos do Norte tem tido impacto nos custos das empresas exportadoras, já que a exportação de produtos da região central do país por lá é mais barata do que a rota pelo Sul/Sudeste, afirmou nesta quarta-feira a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).
De acordo com a entidade que representa as principais tradings exportadoras do país, incluindo as multinacionais, o setor estava atento para a situação e não deve haver redução nos volumes globais previstos para os embarques do Brasil.
“Não deve haver perda nas exportações de grãos por conta da seca no Norte, pois as traders trabalham com um nível de precaução muito acentuado”, disse o diretor-geral da Anec, Sérgio Mendes, à Reuters, nesta quarta-feira.
*Com informações de Dinheiro Rural.
Foto: divulgação