Expedição científica estuda prejuízo do mercúrio de garimpo no rio Madeira

Pesquisadores avaliam os efeitos do mercúrio do garimpo e microplásticos na qualidade da água do rio Madeira.

Diamantino Junior, da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 16/03/2025 às 11:53 | Atualizado em: 16/03/2025 às 11:53

O Programa de Monitoramento de Água, Ar e Solos do Amazonas (ProQAS/AM), com apoio do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), iniciou na manhã deste dia 15 de março uma nova expedição científica.

O barco de pesquisa Roberto dos Santos Vieira partiu do porto de Manaus para Humaitá Humaitá (a 590 quilômetros de Manaus), no rio Madeira.

Durante a expedição de 12 dias, a equipe científica vai investigar a qualidade da água e os impactos ambientais, com foco em microplásticos e mercúrio usado por garimpeiros na extração de ouro do leito do rio.

Além do Ipaam, o programa conta com o apoio da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), do Ministério Público (MP-AM), do Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM), da Secretaria de Meio Ambiente (Sema) e da empresa Atem.

O diretor-presidente do Ipaam, Gustavo Picanço, ressaltou a importância do programa para a proteção ambiental do Amazonas e o papel fundamental do instituto nesse processo.

“O Ipaam foi o parceiro inicial desse projeto e acreditou desde o início em uma proposta tão ousada quanto o monitoramento das bacias do Amazonas. Fomos os primeiros a apoiar essa iniciativa, contribuindo com a construção do barco e a concepção de parte dos equipamentos utilizados”.

Conforme Picanço, por meio da Gerência de Recursos Hídricos, o Ipaam utiliza os dados coletados por meio do programa para embasar parte do trabalho desenvolvido pela autarquia.

“Os dados auxiliam nossas ações de fiscalização e preservação dos recursos hídricos do estado. É um projeto estratégico, que envolve a colaboração de diversas instituições, e que tem grande relevância para o futuro da nossa região”.

O gerente de Recursos Hídricos do Ipaam e doutor em ciências do ambiente e sustentabilidade na Amazônia, Daniel Nava, detalhou o processo que acontecerá após a expedição no rio Madeira, destacando a importância das análises complementares que serão realizadas nas instituições parceiras.

“Ao final da expedição, as amostras coletadas serão analisadas nos laboratórios da UEA, que é nossa parceira, e também na Universidade de Harvard, que nos apoia nesta missão. Esses laboratórios são referências no estudo do mercúrio, um elemento altamente tóxico e perigoso, cuja contaminação pode trazer sérios riscos à saúde da população. O estudo aprofundado do mercúrio é essencial para compreendermos os impactos ambientais e de saúde pública na região amazônica”.

No comando do programa

O professor da UEA Sérgio Duvoisin Júnior, doutor em Físico-Química e coordenador do ProQAS/AM, destacou a relevância da expedição no Rio Madeira como parte do grande programa de monitoramento da bacia amazônica.

“Este é um grande programa criado dentro da UEA, especificamente no nosso grupo de pesquisa, o química aplicada à tecnologia. A expedição no rio Madeira, que começa hoje e vai durar cerca de 12 dias, faz parte de um trabalho mais amplo. Na ida, vamos colaborar com a pesquisadora Naiana Ramos, mestranda da Universidade de Genebra, que está investigando a presença de microplásticos na bacia do rio Negro, uma área de extrema importância”, disse Duvoisin.

Na volta, o pesquisador informou que será realizada a análise detalhada de 164 parâmetros de qualidade da água, com foco especial no problema do mercúrio.

“Temos uma parceria sólida com a Universidade de Harvard, e as amostras coletadas agora durante a campanha serão analisadas lá. Em abril, irei a Harvard para levar essas amostras e estudar as espécies de mercúrio não apenas na água, mas também nos sedimentos e nos peixes consumidos na bacia do rio Madeira”.

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Microplásticos em pauta

A pesquisadora Naiana Ramos, mestranda em ciências ambientais com especialização em água, está envolvida na pesquisa sobre microplásticos nos rios da região amazônica. Natural do Amazonas e residente na Suíça há nove anos, Naiana se dedica ao estudo dos impactos ambientais da poluição plástica nos ecossistemas aquáticos.

“Minha linha de pesquisa é na área de poluição e contaminação por microplástico nos rios do Amazonas. Vim falar sobre a importância de separar o lixo. Essa prática de triagem, reciclagem ou reutilização do lixo é muito importante porque o plástico vem pelo vento, vem pelo ar, e polui nossos rios. A conscientização de nós, seres humanos, em separar esse lixo é essencial, não só para o mundo, mas também porque, a partir dos rios, o plástico vai se decompor nos oceanos e mares. Portanto, é crucial praticarmos isso”, disse a pesquisadora.

Durante a expedição no rio Madeira, ela trabalhará com outros pesquisadores na coleta e análise de amostras de água, com o objetivo de entender a presença e os efeitos dos microplásticos nos rios da região e seu impacto no meio ambiente local.

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Perspectivas e recursos

O coordenador do programa destacou a importância da continuidade dos esforços de monitoramento nas bacias do estado e a necessidade de recursos para expandir o alcance do projeto. Segundo o professor, embora o programa já tenha alcançado a bacia do rio Negro e do rio Madeira, é necessário avançar para outras regiões e realizar o monitoramento de mais bacias.

“A gente está indo no mês que vem para a sexta campanha e, pela primeira vez, a gente está entrando na primeira perna do rio Solimões, que é de Manaus até Tefé. O rio Solimões é tão grande que depois a gente precisa de uma perna até Tefé, Tabatinga. Então, a gente tem bacias, por exemplo, do Purus, do Juruá, que nós não temos recursos ainda para fazer. Nós temos a equipe bem treinada para fazer”.

Após a conclusão das análises, os dados coletados pelo programa serão disponibilizados ao público, conforme o estabelecido no plano estadual de recursos hídricos.

Ao todo, 164 parâmetros de qualidade da água serão avaliados, e 30 desses parâmetros, que são essenciais para o acompanhamento dos recursos hídricos no estado, serão disponibilizados publicamente.

Foto: Moisés Henrique/Secom