Por que não Márcia Siqueira? Por que não uma mulher?

É do universo machista branco, colonizador, que a mulher não pode ir à guerra, muito menos liderar batalhas. Mas, porém, pode ser uma conori

Márcia Siqueira

Por Neuton Corrêa, do BNC Amazonas

Publicado em: 06/03/2025 às 09:13 | Atualizado em: 06/03/2025 às 09:24

A dois dias do Dia Internacional da Mulher, o Garantido pode entrar para história se colocar em prática o discurso vanguarda que domina a disputa do Festival Folclórica de Parintins.

Isso pode acontecer no estalar dos dedos. No entanto, a tradição, o costume e a cultura machista podem impedir a decisão.

O Boi da Baixa de São José está em crise no seu item 2, levantador de toadas. 

David Assayag constrangeu a direção do bumbá no Carnaval de Parintins, cantando uma toada do Caprichoso. Nesse mesmo evento, Sebastião Júnior teve um comportamento condenado pelos diretores.

Vacância no item 2

Assim sendo, os dois estão em vias de perder contrato com a agremiação.

É aqui que pode ser a hora da verdade para o Garantido. Pode ser a virada do discurso à prática, da superação de um obstáculo que impede o brilho da voz da mulher na história dos bumbás.

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Machismo no samba

Isso não é coisa exclusiva dos bois de Parintins. Nos carnavais do Rio de Janeiro e São Paulo, em quatro dias de desfiles, não se ouviu nenhuma voz feminina como puxadora de samba.

Os intérpretes, homens, guardam o posto como uma reserva de mercado. Da mesma forma, as escolas legitimam o preconceito.

Por sua vez, o Garantido possui uma levantadora de toadas, considerada uma das vozes mais afinadas dos bumbás, que poderia superar a crise e fazer com que o boi entre para a história como o primeiro a permitir uma voz de mulher disputando o quesito.

Este nome é da cantora Márcia Siqueira. Ela já é dos quadros de vozes do bumbá. Tem o carinho da galera. Falta apenas a luz dos fatos limpar a sombra que encobre o olhar dos dirigentes bovinos. 

Assim, o Garantido reverteria sua crise, criaria fato novo e ganharia os focos dos espíritos que entendem que a mulher pode fazer tudo que um homem faz.

Discurso feminista na toada

O Boi da Baixa de São José possui uma toada que inspira essa exigência nos tempos atuais. Essa música se chama “É força de mulher” (2022), de Rubens Alves.

Mas quem melhor compôs a liberdade da mulher foi o atual presidente do boi, o jornalista Fred Góes, que também é compositor.

No ano passado, juntamente com Inaldo Medeiros, ele compôs Libertárias Guerreiras. A letra fala da batalha da tuxaua conori contra o homem branco, no rio Amazonas.

Conori comanda as ycamyabas, que estão montadas, segundo a letra, em bichos do fundo do rio.

Ou seja a composição de Fred Góes é uma exaltação da força de guerra das mulheres no pensamento indígena. 

Mas é do universo machista branco, colonizador, que a mulher não pode ir à guerra, muito menos liderar batalhas.

Então, Garantido deixe agora uma mulher comandar essa batalha.

Foto: BNC/#toadas