População do Brasil tem menor crescimento em 150 anos

Desde o Censo de 1960, a taxa de crescimento vem caindo de forma contínua, mas nunca antes havia sido tão baixa

Diamantino Junior

Publicado em: 05/01/2023 às 11:19 | Atualizado em: 05/01/2023 às 11:25

O Brasil tem 208 milhões de habitantes, segundo a prévia do Censo 2022. Em média, a população cresceu apenas 0,7% ao ano desde o último recenseamento, em 2010. É o menor aumento populacional já registrado pelo país — a série histórica começa em 1872.

Os dados refletem a queda no número de nascimentos. Ainda nascem mais pessoas do que morrem no Brasil, mas a diferença é cada vez menor. O resultado é o envelhecimento da população brasileira, o que gera impactos na força de trabalho, na saúde e na previdência. Dentro de uma ou duas décadas, o país deve começar a diminuir.

O que os dados mostram?

A população do Brasil subiu de 191 milhões, em 2010, para 208 milhões, em 2022, de acordo com a prévia do Censo;

Usando os dados, o UOL calculou que a média anual de crescimento no período foi de 0,7%;

Desde o Censo de 1960, a taxa de crescimento vem caindo de forma contínua, mas nunca antes havia sido tão baixa;

Os dados oficiais do Censo estão previstos para março, mas a informação de que o crescimento da população brasileira é o menor já registrado não vai mudar — seria preciso que a população ficasse acima de 219 milhões, o que é impossível considerando todos os cálculos do IBGE;

A prévia aponta que a população do Nordeste é a que menos cresceu no país –metade da média nacional. É improvável que esse quadro mude até os resultados finais do Censo, porque a diferença em relação a outras regiões é muito grande. Além disso, o Nordeste é o local do país onde o recenseamento está mais avançado;

Um grande número de cidades diminuiu de tamanho. Na prévia do Censo, a proporção chega a 40% dos municípios, mas os dados podem mudar na versão final.

Por que o crescimento da população está em queda?

O fator principal é a queda na taxa de natalidade. Para manter o tamanho da população no longo prazo, é necessário, no mínimo, uma média de 2 filhos por mulher. Em 2010, o número já estava abaixo desse patamar: 1,9. O Censo 2022 deve apresentar um resultado ainda menor.

A pandemia de covid-19 contribuiu para que o ritmo de crescimento caísse ainda mais, devido à alta na mortalidade. O Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) estima que, entre 2020 e 2022, um milhão de pessoas morreram a mais do que a média dos anos anteriores. Na conta, estão as mortes pela covid-19, mas também as que podem ter ocorrido pela redução dos atendimentos médicos durante a pandemia.

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Também na pandemia, o número de nascimentos, que já estava em queda, caiu ainda mais — por motivos comportamentais, como o adiamento da gravidez e o isolamento social.

No caso específico do Nordeste, há ainda efeitos da migração para outras regiões. A versão final do Censo vai permitir entender melhor essas dinâmicas demográficas.

Como os dados foram calculados?

A prévia da população municipal em 2022 foi divulgada pelo IBGE em 28 de dezembro, para que o TCU (Tribunal de Contas da União) possa calcular a distribuição do orçamento federal para cada cidade.

A previsão era que os dados já trouxessem o resultado final do Censo 2022. Mas a conclusão do recenseamento foi adiada para o início de 2023.

Por isso, o IBGE optou por usar as informações já coletadas pelo Censo (179 milhões de pessoas, o que equivale a 86% do total estimado) e realizar operações estatísticas para calcular o restante.

O resultado é muito mais preciso do que a estimativa populacional do IBGE para 2021, que chegou a 213 milhões de pessoas — feita com base no Censo de 2010, com mais de uma década de defasagem, e sem levar em conta os efeitos da pandemia.

Ou seja, a população brasileira não diminuiu de 2021 para 2022. O que ocorre é que os dados de 2022 são melhores, porque são baseados em um Censo atual em fase avançada.

Leia mais na matéria de Amanda Rossi no UOL

 Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil