Operação mira policiais do Amazonas suspeitos de formar milícia
Ação neste 29 de julho mira agentes da segurança pública acusados de roubo e extorsão.

Da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 29/07/2025 às 08:14 | Atualizado em: 29/07/2025 às 08:14
O Ministério Público do Amazonas (MP‑AM), por meio da Promotoria de Controle Externo da Atividade Policial e Segurança Pública, deflagrou neste dia 29 de julho a operação Militia, que investiga a atuação de policiais militares e civis suspeitos de integrar milícia envolvida em crimes como roubo e extorsão.
A ação resultou em prisões e apreensões e faz parte de uma sequência de episódios que expõem falhas graves nas instituições de segurança do estado.
Casos anteriores com envolvimento da polícia
Massacre do rio Abacaxis (agosto de 2020):
Um dos mais graves episódios envolvendo a Polícia Militar do Amazonas ocorreu entre 3 e 5 de agosto de 2020, nas comunidades ribeirinhas e indígenas entre Nova Olinda do Norte e Borba, na região do rio Abacaxis, sob o pretexto de uma operação contra o narcotráfico.
Relatos da Polícia Federal evidenciam que aproximadamente 60 policiais militares, com rostos cobertos por balaclavas, invadiram casas, torturaram famílias e suas crianças, dispararam metralhadoras e deixaram ao menos oito mortos, além de desaparecimentos e violência disseminada .
A investigação apontou que a ação ocorreu como retaliação pela morte de dois policiais e ferimentos em outros dois, ocorridos dias antes, e foi comandada pelo então secretário de Segurança Pública Louismar Bonates e o coronel Ayrton Norte, comandante-geral da PM na época .
Após três anos de investigação da Polícia Federal, 13 militares foram indiciados por homicídio qualificado, sequestro, ocultação e destruição de cadáver, tortura e constituição de milícia privada.
Em maio deste ano, a Justiça Federal tornou réus 11 policiais militares em três ações penais distintas, incluindo as mortes de indígenas e ribeirinhos, sequestro e tortura .
Comunidades continuam traumatizadas até hoje. Organizações de direitos humanos denunciavam demora na apuração do caso e interrupções constantes nas investigações, com seis delegados da PF já substituídos e questionamentos sobre interferências políticas .
Em 2024, o MPF entrou com ação civil pedindo indenização de R$ 20 milhões por danos morais coletivos a vítimas indígenas e ribeirinhas do massacre .
Leia mais
PF investiga em Nova Olinda crimes da PM de 2020 no rio Abacaxis
Outros episódios com policiais
Abusos sexuais na delegacia de Santo Antônio do Içá, em que mulher indígena denunciou sofrer abusos sexuais por nove meses dentro da delegacia, resultando em investigação da corregedoria estadual.
Seis policiais do Amazonas estão presos.
Desaparecimento de jovens na zona leste de Manaus (abril de 2025) — quatro policiais militares presos, investigados por execuções sumárias e ocultação de cadáveres.
Leia mais
Justiça torna policiais réus por suspeita de chacina em Manaus
Chacina em Manaus: 16 policiais da Rocam são soltos e vão a júri
Indígena é estuprada por policiais do Amazonas em delegacia
Operação Militia
A nova ação do MP‑AM surge num contexto marcado por denúncias repetidas de vínculos entre policiais e grupos criminosos, abusos sexuais, execuções, tortura, desaparecimentos e conivência com o tráfico de drogas.
Especialistas alertam que a repetição desses padrões sugere crise profunda na segurança pública estadual.
A expectativa é que a operação Militia não apenas identifique os envolvidos, mas também pressione por reformas institucionais, mais transparência e rigor nas apurações.
Foto: divulgação/PMAM