Ong aponta que crianças indÃgenas morrem mais que o dobro das demais
Documento revela dados do perÃodo entre 2018 e 2022

Publicado em: 10/04/2024 Ã s 22:30 | Atualizado em: 10/04/2024 Ã s 23:54
De acordo com o relatório final de um estudo produzido pelo Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), divulgado nesta terça-feira (9), a taxa de mortalidade das crianças de até quatro anos entre indÃgenas no Brasil é mais que o dobro daquela registrada entre o restante da população infantil do paÃs.
A NCPI é uma organização não governamental que mobiliza pesquisadores de diferentes áreas e conta com a parceria de diferentes instituições cientÃficas.
O documento revelou os dados do perÃodo entre 2018 e 2022. No último ano dessa série, para cada mil nascidos vivos entre os indÃgenas, 34,7 crianças com até quatros anos morreram.
É uma taxa 2,44 vezes maior do que a registrada entre o restante da população brasileira. Considerando as crianças não indÃgenas, houve 14,2 mortes para cada mil nascidos vivos em 2022.
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Nos demais anos da série, a situação é similar: entre os indÃgenas a mortalidade foi sempre maior que o dobro. A menor diferença foi registrada em 2020. Neste ano, houve 29,6 mortes de crianças para cada mil nascidos vivos, o que é 2,4 vezes maior do que a taxa de 12,3 registrada para o restante da população.
Os dados revelam que os indÃgenas vivem cenário inadequado levando em conta as metas fixadas pela Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
Aprovada em assembleia realizada em 2015, com a participação de 193 paÃses, ela traz 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) para erradicar a pobreza e atingir em 2030 um mundo melhor para povos e nações.
No caso da mortalidade de crianças menores de cinco anos, a meta é reduzi-la para menos de 25 mortos por mil nascidos vivos. “Apesar de este patamar já ter sido alcançado pelas crianças não indÃgenas brasileiras, ele ainda é uma realidade distante da população indÃgena do paÃs”, registra o estudo.
Quando é feito o recorte pelas mortes neonatais, também se observa uma diferença significativa. Entre os indÃgenas, 12,4 bebês com até 27 dias morreram a cada mil nascidos vivos no ano de 2022. Essa taxa foi de 8 entre o restante da população.
Conforme a Agenda 2030, espera-se a redução da mortalidade neonatal para pelo menos 12 por mil nascidos vivo. Também nesse caso, a meta ainda não foi alcançada entre a população indÃgena.
Intitulado Desigualdades em saúde de crianças indÃgenas, o estudo produzido pelo NCPI foi o 12º de uma série que aborda temas relacionados com o desenvolvimento da primeira infância.
O novo trabalho contou com a participação de quatro pesquisadoras: Emilene de Sousa, socióloga e professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA); Márcia Machado, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC); Natacha Silva, nutricionista com atuação no Sistema Único de Saúde (SUS) envolvendo a atenção à saúde indÃgena em Rondônia; e Tayná Tabosa, fisioterapeuta e pesquisadora da UFC.
O estudo fez uso de informações públicas reunidas no Sistema de Informações sobre Mortalidade do Departamento de Informática do SUS (DataSUS). No levantamento das causas das mortes de indÃgenas com até os quatro anos ocorridas em 2022, chama atenção que as doenças respiratórias responderam por 18% e as doenças infeccciosas por 14%.
No restante da população dessa faixa etária, esses percentuais foram bem inferiores, respectivamente 7% e 6%. Além disso, as doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas ocasionaram 6% das mortes de crianças indÃgenas, taxa seis vezes maior do que o 1% registrado para as demais crianças.
Diante desses dados, as pesquisadoras apontam as enfermidades como um relevante fator de risco. “Em termos proporcionais, percebe-se que crianças indÃgenas morrem mais por doenças evitáveis do que as não indÃgenas”, escreveram.
De acordo com o Censo Demográfico 2022, há quase 1,7 milhão de indÃgenas no paÃs. A região Norte, onde há maior concentração, reúne 45% desse contingente. As pesquisadoras indicaram algumas dificuldades para melhorar os indicadores da saúde dessa população. Um deles é o acesso aos territórios, seja devido a longas distâncias ou falta de transporte adequado.
Também é citado o número insuficiente de profissionais de saúde e a falta de capacitação. Outro problema envolve as barreiras para obtenção de dados da saúde indÃgena, o que dificulta o planejamento das medidas no âmbito do SUS.
O estudo destaca ainda que há um aumento da exposição a doenças devido a agressões ao meio ambiente. As pesquisadoras observam que, diante da degradação, os indÃgenas acabam forçados a abandonar seus territórios por não encontrar mais alimentos.
Registram também que há situações em que eles são expulsos de suas terras por invasores, gerando situações que resultam na vulnerabilidade de sua saúde. Há ainda menção a uma pesquisa concluÃda em 2014 por cientistas da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Eles concluÃram que um aumento de 10% no desmatamento é capaz de ampliar em 3,3% a incidência de malária na Amazônia.
Fonte: Agência Brasil
Foto: reprodução/Agência Brasil