O enigma de El Cono, pirâmide da Amazônia que intriga ciência e lendas
No coração da selva amazônica, na fronteira de Brasil e Peru, montanha inspira teorias que vão de civilizações perdidas a fenômenos geológicos.

Adrissia Pinheiro, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 09/05/2025 às 10:39 | Atualizado em: 09/05/2025 às 10:59
No extremo oeste da Amazônia, onde o Brasil encontra o Peru em meio à densa vegetação da Serra do Divisor, ergue-se uma montanha com forma tão simétrica que, à primeira vista, parece esculpida por mãos humanas.
O Cerro El Cono, com cerca de 400 metros de altura, é visível a quilômetros de distância e tem chamado a atenção de cientistas, exploradores e povos indígenas há séculos.
Para os habitantes da floresta, o monte não é apenas uma elevação qualquer — é um “apu andino”, um espírito ancestral que guarda a região e guia seus habitantes. Essa reverência é antiga, remontando ao período entre 500 e 1000 d.C., antes mesmo do surgimento do Império Inca.
Pirâmide ancestral ou obra da natureza?
A forma piramidal quase perfeita do El Cono alimenta uma teoria fascinante: e se não for uma montanha natural, mas sim uma pirâmide ancestral construída por uma civilização amazônica perdida?
Se comprovada, essa hipótese faria do El Cono a maior estrutura antiga da história, superando inclusive a grande pirâmide de Gizé.
No entanto, geólogos oferecem explicações mais plausíveis.
Alguns acreditam que a formação pode ser um vulcão extinto, ou um “tampão vulcânico” — o resquício endurecido de magma que não chegou à superfície.
Outros sugerem que seja uma intrusão ígnea, moldada por milhões de anos de erosão e forças tectônicas.
Nenhuma hipótese, até agora, foi confirmada por escavações detalhadas.
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O santuário escondido da Serra do Divisor

O Cerro El Cono fica dentro do Parque Nacional da Serra do Divisor, uma das áreas de maior biodiversidade da Amazônia, com mais de 837 mil hectares.
Ali vivem espécies ameaçadas, como a onça-pintada, o tatu-canastra e diversos primatas amazônicos.
Também habitam a região comunidades indígenas isoladas, como os nukinis, nauas e isconahuas, além de antigos seringueiros.
A região é remota e de difícil acesso, geralmente explorada por via fluvial a partir de Cruzeiro do Sul, no Acre. Essa dificuldade ajuda a proteger seus segredos, mas também desafia pesquisadores que desejam estudar o local com mais profundidade.
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Lenda, geologia e mistério
De acordo com a revista Planeta, o Cerro El Cono tem particularidades que o fazem único diante da imensidão amazônica. Veja:
📍 Localização
- º Parque Nacional da Serra do Divisor, fronteira entre o Acre (Brasil) e Ucayali (Peru);
- º Coordenadas aproximadas: -7.9630, -73.7822;
- º Visível a mais de quilômetros de distância, inclusive dos Andes em dias claros.
🏔 Características
- º Altura: aproximadamente 400 metros;
- º Formato: piramidal quase perfeito;
- º Isolamento: destaca-se em meio à floresta plana, sem conexão direta com outras formações montanhosas
🧭 Significado cultural
- º Considerado um “apu andino”: entidade espiritual protetora na tradição de povos indígenas do Peru, Bolívia e Equador;
- º Cultuado por comunidades locais desde antes do Império Inca (500–1000 d.C.).
🧩 Teorias sobre a origem
- º Hipótese arqueológica: possível pirâmide construída por civilização amazônica antiga; se comprovada, seria a maior estrutura antiga conhecida
- º Hipóteses geológicas:
– Vulcão extinto: cone vulcânico formado por acúmulo de materiais como lava e cinzas;
– Intrusão ígnea: formação resultante do resfriamento e solidificação do magma abaixo da superfície.
🌿 Biodiversidade e conservação
- º Localizado em área de alta biodiversidade, abrigando espécies como:
– Tatu-canastra (Priodontes maximus);
– Onça-pintada (Panthera onca);
– Diversas espécies de macacos amazônicos;
- º Parte do Parque Nacional da Serra do Divisor, criado em 2015 para preservar cerca de 1,3 milhão de hectares da floresta.
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Uma Amazônia que ainda surpreende
O Cerro El Cono não é apenas uma montanha: é um mistério vivo, um ponto de encontro entre ciência e mito, geologia e espiritualidade.
Ele representa o que a Amazônia tem de mais fascinante — uma vastidão ainda desconhecida, onde o passado e o presente se cruzam entre árvores centenárias e histórias ainda por desvendar.
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Fotos: Thomas Müller/SPDA/divulgação