Morre indígena que colocou facão no rosto do então presidente da Eletronorte

Ela tinha 19 anos quando fez o ato de resistência contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte

Morre indígena que aos 19 anos colocou facão no rosto do então presidente da Eletronorte

Da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 10/08/2024 às 15:45 | Atualizado em: 10/08/2024 às 15:46

A liderança indígena da terra Las Casas, Tuíre Kayapó (foto), morreu aos 54 anos, na manhã deste sábado (10), no Pará, após lutar contra um câncer de colo de útero.

Dessa maneira, a notícia foi confirmada pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) kaiapó do Pará.

Tuíre ficou conhecida em 1989, durante o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu. Ela tinha 19 anos, quando em um ato de resistência contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, pressionou um facão contra o rosto do então presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes.

Após o episódio, a imagem ganhou repercussão mundial. Dessa forma, o projeto da hidrelétrica no rio Xingu, inicialmente chamado de Kararaô, foi interrompido e posteriormente renomeado para Belo Monte.

A obra foi adiada 22 anos, mas a batalha indígena foi perdida. É que em 2011, o Ibama concedeu a licença para que a construção da usina fosse iniciada.

Assim, a Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa) divulgou nota de pesar lamentando a perda e destacando o legado de luta, coragem e determinação deixado por Tuíre.

“Sua passagem para outra dimensão nos deixa um vazio imenso, mas também uma responsabilidade ainda maior de continuar sua luta. Seguiremos firmes com a força e o exemplo que você nos deixou, Tuíre”, destacou.

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Nota da Funai

Em nota oficial, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) expressou profundo pesar pelo falecimento de Tuíre, lembrada pela força, coragem e por ter marcado a história do país em seu ato de resistência.

“O gesto de Tuíre, colocando-se diretamente diante de decisões que afetavam sua terra e seu povo, representou um ato de resistência que permanecerá para sempre na memória daqueles que lutam por justiça”, disse.

Integrante do povo mebêngôkre, Tuíre nasceu em 1970, no território kayapó, na aldeia kokraimoro, às margens do rio Xingu, no estado do Pará.

Foi uma das primeiras ativistas indígenas mulheres e protagonizou muitas outras manifestações em defesa da floresta, dos territórios e direitos indígenas.

Em uma das suas últimas declarações públicas, Tuíre convocou o país para lutar junto contra o marco temporal.

*Com informações da Agência Brasil.

Foto: divulgação/Mídia Ninja