Ministério lança guia da saúde nas mudanças climáticas
O guia lançado no começo do mês é uma adaptação ao contexto brasileiro do que foi elaborado pela Opas

Dassuem Nogueira, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 10/10/2024 às 19:48 | Atualizado em: 10/10/2024 às 20:07
Dado que a tendência é que as mudanças climáticas no planeta afetem cada vez mais a saúde da população mundial, o Ministério da Saúde acatou a recomendação da Organização Panamericana de Saúde (Opas) e está disponibilizando um guia intitulado “Mudanças climáticas para profissionais da saúde”.
O guia lançado no começo do mês é uma adaptação ao contexto brasileiro do que foi elaborado pela Opas. O trabalho foi feito pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, vinculada ao ministério.
O documento elenca as alterações fisiológicas mais suscetíveis às mudanças climáticas segundo o perfil epidemiológico da população brasileira.
Assim, analisa-se os principais problemas de saúde, suas tendências e fatores de risco associados às mudanças climáticas no Brasil.
São elas: alterações cardiovasculares, respiratórias, renais, oftalmológicas, cutâneas, gastrointestinais, neurológicas e adoecimento mental.
O guia ainda destina um capítulo sobre os riscos das mudanças climáticas na saúde materno-infantil e outro sobre proliferação de zoonoses e doenças de transmissão vetorial.
Aborda também os fatores que modulam o impacto das mudanças climáticas na saúde e em outro o impacto nos serviços de saúde.
Por fim, disponibiliza capítulos com orientações para pacientes e para a comunidade, dicas para enfrentar as mudanças climáticas e dicas para reduzir a exposição a eventos relacionados ao clima.

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Impactos na saúde
Segundo o documento “o impacto das mudanças climáticas na saúde depende claramente da intensidade ou da duração do evento climático ou da ocorrência concomitante de outros fenômenos semelhantes”.
Esse é o caso da região amazônica, com a poluição causada pelas queimadas, com limitações de diferentes bens de consumo e recursos durante a seca extrema, principalmente, acesso a alimentos e água, e o calor intenso durante o verão.
Além disso, o aumento do calor pode propiciar proliferação de vetores e às doenças por eles transmitidas, como os mosquitos responsáveis pela transmissão de dengue e malária, e causar doença renal crônica.
Contudo, tais impactos afetam de modo diferente a população dependendo das determinantes sociais de saúde a eles relacionados.
As determinantes sociais de saúde são os fatores sociais, políticos e econômicos que impactam a saúde. Dito de outro modo, são condições que determinam o modo como indivíduos, comunidades ou populações vivem, adoecem e morrem.
Por isso, alguns segmentos sociais estarão mais ou menos expostos aos impactos das mudanças climáticas na saúde, pois dependem, por exemplo, se vivem ou não em áreas sujeitas a inundações, se tem ou não acesso a ambientes com ar-condicionado.
Segundo o guia, os mais expostos no Brasil são:
• pessoas que vivem na pobreza;
• acamadas ou com mobilidade limitada;
• os que vivem em ilhas urbanas de calor;
• os que vivem em áreas propensas a alagamento;
• os que vivem em áreas costeiras sob risco de fenômenos meteorológicos extremos;
• os que não têm ar-condicionado em casa;
• os que não têm acesso a ambientes com ar-condicionado;
• os que vivem em cidades populosas;
• os que laboram em climas muito quentes;
• trabalhadores rurais;
• trabalhadores em atividades de grande esforço físico e expostos ao sol;
• pessoas com mais de um desses fatores de exposição.
O guia considera ainda maior e menor sensibilidade às mudanças climáticas para pessoas que são:
• crianças e idosos; gestantes;
• pessoas com um círculo social muito pequeno;
• com pouco condicionamento físico ou sobrepeso;
• com doenças crônicas;
• com transtorno do desenvolvimento intelectual;
• com adoecimento mental, principalmente as formas graves;
• usuários de medicamentos específicos;
• usuários de drogas ilícitas ou álcool;
• pessoas com vários desses fatores de sensibilidade.
Impactos nos serviços
O guia alerta para os prováveis impactos nos serviços de saúde relacionados aos desastres e eventos climáticos e meteorológicos extremos caso a tendência de agravamento da situação mundial não seja revertida.
Os prováveis efeitos são:
Incapacidade dos serviços de saúde de responder adequadamente ao constante aumento da demanda por atendimento devido aos efeitos das mudanças climáticas na saúde da população.
Quedas de energia devido a eventos climáticos extremos podem comprometer a prestação de serviços nas unidades de saúde.
Durante eventos climáticos extremos, o sistema de ar-condicionado das unidades de saúde pode parar de funcionar.
Certas unidades de saúde não são construídas para resistir a eventos relacionados às mudanças climáticas, como ventos fortes, calor interno excessivo ou inundações.
Foto: Rafael Nascimento/Ministério da Saúde