Médico de Maués atua no transplante do ‘Coração Valente’ e quer centro no AM
Silvano Baraúna defende a implantação de centro de transplante pediátrico no Amazonas

Wilson Nogueira, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 06/01/2025 às 23:56 | Atualizado em: 07/01/2025 às 06:18
O sucesso no transplante do coração do baiano Bento Gomes, de 2 anos, conhecido nas redes sociais por Bento “Coração Valente”, deve reacender o debate sobre a necessidade de criação de centros com essa especialidade por todo o Brasil.
Nascido com cardiopatia congênita, “Coração Valente” recebeu um coração novo do Hospital do Instituto do Coração (Hcor), em São Paulo, no último dia 29 de dezembro, e agora está convalescendo em Salvador, com o carinho dos familiares.
O menino nasceu com miocardiopatia dilatada do ventrículo esquerdo, problema que dificulta o bombeamento de sangue.
O transplante foi realizado pela equipe chefiada pelo professor doutor Marcelo Jatene, com participação da doutora Patrícia Oliveira e do doutor Silvano Baraúna.
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Mais hospitais de referência
Baraúna, cirurgião cardíaco amazonense nascido em Maués, disse que o Brasil precisa adotar política de estado que implante hospitais de referências no transplante de coração pediátrico, para que “mais corações valentes” tenham chance de viver plenamente.
Conforme o médico, o programa de transplante de órgãos do Brasil é referência internacional.
“Somos o país que mais transplanta e mais organizado em logística e capacitação profissional”.
Os centros de transplantes de coração de crianças, todavia, estão concentrados em São Paulo, acrescidos de unidades no Ceará (Hospital de Messejana, na zona metropolitana de Fortaleza); no Paraná (Hospital Pequeno Principe, de Curitiba); e em Porto Alegre (RS), no Instituto Universitário de Cardiologia.
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Amazonas
O cirurgião Baraúna disse lamentar que estados, como o Amazonas, ainda prescindam de política de saúde voltada para atender a crianças que necessitam de transplante de coração.
Para se ter uma ideia do estágio em que se encontra o Amazonas no item transplante de órgãos, Baraúna cita que, dos 26 tecidos humanos transplantáveis, o estado aparece no Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde, com atuação em apenas três: córnea, hepático e renal.
De acordo com o médico, Manaus possui serviços especializados em hemoterapia, em medicina tropical e urgência e emergência em traumatologia, mais o Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV/Universidade Federal do Amazonas) e o hospital Francisca Mendes, que também funcionam como centros formadores de especialistas em cirurgias cardíacas.
Essa estrutura contribui com a implantação de um programa de transportes de órgãos mais abrangente no Amazonas, mas as medidas que devem viabilizá-lo dependem da vontade política dos gestores.
“Profissionais capacitados a gente já tem. Caso seja precise aperfeiçoamento, temos centros capacitadores no Brasil que podem ser levados para o Amazonas”.
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Base para programa
Para Baraúna, o hospital Francisca Mendes tem base física, profissional e articulação suficiente para se transformar no centro formador e transplantador de coração pediátrico.
“Um olhar com carinho para a rede de complexidade do Amazonas seria decisivo para avalizar um programa de governo para essa especialidade”.
O cirurgião destacou ainda que a rapidez no atendimento de “Coração Valente” fortalece a campanha permanente de doação de órgãos no Brasil.
“Mais centros de referência irão contribuir com essa prática cidadã que salva pessoas”.
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Quem é Baraúna
O médico amazonense é egresso da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), fez a sua formação em cirurgia cardíaca no hospital Francisca Mendes e migrou para São Paulo com o propósito de aperfeiçoar-se no transplante de coração de crianças.
Ele atuou em Maués, em Parintins e Manaus, onde acumulou experiência no atendimento a populações rurais e urbanas.
Quem é “Coração Valente”
Bento Gomes nasceu em Santo Estevão (BA), prematuro, com defasagem de peso e cardiopatia congénita.
Em 2 de dezembro do ano passado foi internado no hospital Bela Vista, até ser transferido para o Hincor. Após 12 dias na UTI e 34 horas à espera de doadores compatíveis, chegou a sua vez.
A equipe que fez o procedimento considerou o transplante bem-sucedido diante da complexidade do quadro de saúde de Bento “Coração Valente”.
Seus pais, Júnior e Raila Gomes, usaram as redes sociais para expor a luta do filho pela vida e chamar a atenção dos gestores da saúde para a necessidade de mais hospitais especializados em transplantes de coração de crianças.
Foto: BNC Amazonas