Os generais golpistas de Bolsonaro que comandaram Exército na Amazônia

Generais do Exército, incluindo ex-comandantes do CMA, são investigados por envolvimento na tentativa de golpe de 2023. Operação revela uso de posições estratégicas.

Diamantino Junior

Publicado em: 21/11/2024 às 18:04 | Atualizado em: 21/11/2024 às 18:04

A Operação Tempus Veritatis, deflagrada pela Polícia Federal (PF), trouxe à tona o envolvimento de figuras de alta patente do Exército Brasileiro na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023. Entre os 16 militares investigados, destacam-se generais que ocuparam postos estratégicos no Comando Militar da Amazônia (CMA) e em outras posições de comando, evidenciando o impacto potencial de suas ações na estabilidade institucional do país.

CMA: epicentro do poder militar na Amazônia

Dois dos investigados comandaram o CMA, uma das estruturas mais relevantes para a defesa da Amazônia e a atuação do Exército na região.

O general da reserva Augusto Heleno Ribeiro Pereira, que chefiou o CMA entre 2007 e 2009, é talvez o nome mais conhecido.

Durante o governo Bolsonaro, Heleno ocupou o cargo de ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), onde foi revelada a existência de um esquema paralelo de espionagem.

Outro nome de destaque é o general da reserva Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, que liderou o CMA entre 2020 e 2021, antes de assumir o Comando de Operações Terrestres (Coter).

O Coter é uma posição-chave no Exército, com influência direta sobre tropas em todo o território nacional.

Seu envolvimento na visita ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, em 2022, também levanta suspeitas sobre suas ações nos bastidores da tentativa de golpe.

Conexões com o poder e tradição familiar

A investigação também atinge o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ex-Ministro da Defesa e ex-Comandante da Força Terrestre, que comandou a 16ª Brigada de Infantaria de Selva, em Tefé, entre 2012 e 2014. Sua presença na lista de investigados reforça a gravidade das acusações que pairam sobre figuras de alta patente.

Outro nome citado na investigação é o do general Nilton Rodrigues, comandante da 2ª Brigada de Infantaria de Selva, em São Gabriel da Cachoeira, interior do Amazonas.

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O caso também traz à tona o papel de famílias tradicionais no Exército.

O general Estevam Theophilo pertence à família Cals Theophilo, conhecida por sua longa história militar. Uma curiosidade histórica sobre os Theophilo é o privilégio concedido por Dom Pedro II a seus integrantes chamados “Manoel Theophilo”, autorizados a usar barba em homenagem à participação heroica de um antepassado barbado na Guerra do Paraguai.

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O impacto do alto comando na tentativa de golpe

A presença de generais do CMA e de outros altos postos entre os investigados evidencia como a tentativa de golpe contou com apoio logístico e estratégico de militares experientes.

A investigação da Polícia Federal busca esclarecer até que ponto esses oficiais utilizaram sua influência para desestabilizar a ordem democrática, demonstrando como as Forças Armadas, em alguns setores, podem ter se tornado instrumentos de ambições antidemocráticas.

A Operação Tempus Veritatis marca um momento decisivo para a relação entre civis e militares no Brasil, destacando a necessidade de reforçar o controle institucional sobre as Forças Armadas e garantir que elas cumpram seu papel constitucional sem interferir na política.

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Foto: fotospúblicas