Empresa cultural amplia ação para formação de público em Manaus

O espaço tem salas para aulas de piano, violão, guitarra, bateria, canto e shows

Empresa cultural amplia ação para formação de público em Manaus

Wilson Nogueira, da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 24/04/2025 às 05:43 | Atualizado em: 24/04/2025 às 05:43

A Casa Som Amazônia (rua Neves de Fontoura, 138, Adrianópolis), inaugurada há cinco anos para ensinar música, tornou-se, também, formadora de público para as artes em Manaus.

Seus fundadores, a musicista Ellen Fernandes e o artista Anderson Farias, a criaram com foco na música como geradoras de transformação social e como fatores de melhoria da qualidade de vida da sociedade.

Ela é graduada em ciências sociais pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e mestra em música pela USP (Universidade de São Paulo) e ele é formado em música pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

Ellen disse acreditar que sua experiência cultural e a do sócio empurraram o empreendimento para o crescimento rápido.

Ao retornar de São Paulo, onde também foi professora de música e cantora, Ellen disse que percebeu a inexistência de uma escola voltada para o ensino da música com pedagogia por meio da prática.

Ela revelou que foi impactada e motivada a empreender no segmento, também, por incursões em comunidades indígenas amazônicas.

“Percebi como se capta conhecimento musical. É ali: repetindo e experimentando. Vi que isso potencializa a criação musical. Depois vem a teoria, as regras. A casa tem essa pegada pedagógica”.

O primeiro endereço da casa foi no bairro Parque 10 de Novembro, com Ellen ensinando canto e Anderson ministrando aulas de piano.

Há mais de um ano no novo endereço, o espaço tem salas para aulas de piano, violão, guitarra, bateria, canto e shows.

Neste começo de ano, ao menos 170 pessoas por mês passam pela escola em busca de seus cursos e outras atividades culturais. Esse número deve duplicar no segundo semestre, conforme eles

Com isso, aumentou o número de professores para atender aos alunos, universo que cresce a cada ano.

No novo endereço da casa – estima Ellen – passaram ao menos 500 pessoas, entre eventos, shows e aulas. A maioria delas busca a música como melhoria da qualidade de vida.

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Processo pedagógico

“Elas são mais sensíveis ao explorar o calendário cultural da cidade, porque percebem o caminhar de um músico, como se aprende a música. Essas pessoas passam a ter um olhar diferenciado para o trabalho do músico, que dedica uma vida toda para aprender um instrumento, para produzir um trabalho musical e apresentá-lo ao público”,

disse Ellen.

Dessa forma, segundo Ellen, é que a casa contribui com a formação de público, porque se o músico não se torna um profissional, certamente formará uma plateia sensível para a cultura como um todo.

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Música regional

A produção, a divulgação e o incentivo do consumo de ritmos regionais também estão no radar da escola.

Em enquete realizada durante a visita de alunos de escola pública, a musicista conferiu que, entre 25 deles, apenas um conseguiu citar os nomes de cinco artistas que fazem música ou outra atividade artística no Amazonas.

Isso reverbera, na opinião dela, a ausência de artistas que valorizam os ritmos regionais, como o beiradão, a toada de boi-bumbá, o gamba de Maués, o marabaixo, o carimbó, a cirandada etc., na pauta cultural amazonense.

Ellen acentuou que percebeu essa carência no período em que passou fora de Manaus, convivendo com artistas de vários lugares do Brasil. Tanto assim, que produziu, em 2020, o CD “Batelão”, com letra e música que abrigam ritmos regionais em seu arranjo.

Para fortalecer o seu braço social, a empresa obteve verba do edital Programa Funarte de Apoio a Ações Continuadas 2023 – Espaços Artísticos da Fundação Nacional da Arte (Funarte), com o qual pôde amplificar a presença da música e dos artistas regionais nas atividades culturais desenvolvidas pela própria escola.

Com esse recurso, um anexo da casa foi equipado com cadeiras, palco e iluminação para as apresentações de espetáculos dos artistas internos e externos.

Além de uma plataforma on-line a ser entregue ainda no primeiro semestre deste ano.

Entre as ações do projeto financiado pela Funarte, a casa abriu vagas, por meio de seleção, para 20 talentos para a música. Mais de 100 pessoas se inscreveram, entre as quais, candidatas de Manaus, Acre e Porto Velho.

Os selecionados passaram um ano em aulas e, agora, umas estão trabalhando na casa como professores e professoras e outras desenvolvem shows para rentabilizar sua arte.

“Estamos no momento de divulgação dos resultados desse projeto para a sociedade. Por isso, tanto vamos às escolas quanto recebemos alunos no nosso espaço. Uma simples conversa com os alunos pode despertá-los às atividades artísticas. Uma escola do ensino fundamental que visitamos quer, agora, formar um coral. Isso é muito gratificante”, disse a musicista.

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Empresa privada

Ellen explica que a Casa Som Amazônia é uma empresa privada que presta serviços no segmento musical.

Por isso, recursos para a sua manutenção vêm dos cursos e das atividades artísticas, também, para o público externo.

De acordo com ela, a empresa atua em três linhas: educação musical, mentoria e divulgação social.

Na primeira está o ensino da música; a segunda mentoria prepara o artista para conquistar espaço no mercado de trabalho; e a divulgação, que cria pontes com a sociedade.

“A casa começou com o ensino da música, mas recebemos pessoas que querem passar no vestibular, músicos que querem se informar sobre direitos autorias, administração de carreira. Em resumo: qual é o caminho que devo seguir para ter um retorno financeiro, afinal são todos profissionais em busca de mercado de trabalho”.

Ademais, a artista disse que a casa é, também, mais uma opção de estágio profissional para graduados em música da Ufam e da UEA, e uma janela para o mercado de trabalho.

“A casa é muito mais complexa do que se possa imaginar”, afirmou Ellen.

Fotos: divulgação