Duas cidades do Norte lideram repasses de emendas em 5 anos
São Luiz do Anauá e Macapá estão entre os municípios que mais receberam emendas parlamentares no período.

Diamantino Junior
Publicado em: 14/02/2025 às 15:32 | Atualizado em: 14/02/2025 às 15:32
Com apenas 7.777 habitantes, o município de São Luiz do Anauá, em Roraima, recebeu mais de R$ 126 milhões em emendas parlamentares nos últimos cinco anos, o que equivale a aproximadamente R$ 16,2 mil por morador.
Já a capital do Amapá, Macapá, lidera o ranking de valores totais, com mais de R$ 610 milhões destinados por meio de indicações do Congresso Nacional.
Esses repasses evidenciam a força dos grupos políticos na distribuição da verba pública e levantam questionamentos sobre critérios e transparência na destinação dos recursos.
Nos últimos cinco anos, governos estaduais, prefeituras, fornecedoras de tratores e caminhões, além de ONGs, foram os principais beneficiários dos R$ 150 bilhões distribuídos em emendas parlamentares.
Deste montante, mais de R$ 103 bilhões foram destinados diretamente aos municípios, reforçando a importância do mecanismo na execução de políticas públicas e obras locais.
A força política por trás dos repasses
O volume de recursos destinados a Macapá pode ser explicado pela influência de dois importantes nomes do Legislativo: o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), e o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT).
O apoio desses parlamentares garantiu repasses expressivos para a capital amapaense, consolidando sua posição como maior beneficiada no período.
Por outro lado, São Luiz do Anauá, apesar de seu pequeno porte, tornou-se um dos municípios com maior valor per capita recebido em emendas.
A verba supera em mais de duas vezes o orçamento anual previsto da cidade para 2025, que é de R$ 51,9 milhões.
Os recursos impulsionaram ações e obras, mas também geraram questionamentos sobre a concentração desses valores em cidades de menor porte.
Empresas e ONGs no centro das discussões
A distribuição das emendas também favoreceu empresas fornecedoras de maquinários e veículos. A chinesa XCMG, por exemplo, recebeu mais de R$ 800 milhões desde 2020 para fornecer retroescavadeiras, tratores e outros equipamentos.
Essas máquinas foram adquiridas principalmente pela estatal Codevasf e doadas a municípios e entidades escolhidas pelos parlamentares, muitas vezes sem critérios claros.
As ONGs também figuram entre as grandes beneficiadas. A Con-tato, por exemplo, recebeu mais de R$ 137 milhões, sendo alvo de auditorias que apontaram deficiências nos planos de trabalho e falta de transparência na execução dos valores indicados.
A Fiotec, vinculada à Fiocruz, lidera o ranking, com R$ 464,4 milhões recebidos, grande parte destinada ao combate à pandemia de Covid-19.
STF e a transparência na destinação das verbas
O embate entre Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a transparência das emendas levou a bloqueios temporários na distribuição dos recursos em 2024.
O ministro Flávio Dino determinou auditorias da Controladoria-Geral da União (CGU) para avaliar repasses feitos a entidades sem fins lucrativos, reforçando a necessidade de maior controle sobre o destino do dinheiro público.
Com o aumento do controle orçamentário pelo Congresso, muitos órgãos públicos passaram a depender das emendas parlamentares para cobrir despesas de rotina.
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Em 2024, 74% dos recursos discricionários do Ministério dos Esportes, por exemplo, vieram dessas indicações.
A destinação das verbas levanta debates sobre o impacto dessas transferências na gestão pública, evidenciando tanto a relevância das emendas para estados e municípios quanto os desafios de garantir sua aplicação de forma transparente e eficiente.
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