Deputada diz que terras indígenas suprem 80% de chuvas ao agro

Célia Xakriabá denunciou que em Rondônia está sendo discutido um projeto de hidrelétrica que atinge 9 terras indígenas.

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 19/12/2024 às 17:34 | Atualizado em: 19/12/2024 às 17:34

Coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG) disse nesta quarta-feira (18), no plenário da Câmara dos Deputados, que o plano de transição energética não pode colocar em risco os povos originários da Amazônia.

Ela denunciou que em Rondônia está sendo discutido um projeto de hidrelétrica que vai atingir nove terras indígenas, inclusive dos povos isolados.

Para frear esse tipo de projeto na região, a deputada destacou o estudo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no qual revela que as terras indígenas na Amazônia influenciam as chuvas que abastecem 80% da área das atividades agropecuárias no país.

“Isso acontece por meio dos chamados ‘rios voadores”: a umidade reciclada nas florestas das terras indígenas amazônicas é transportada pela atmosfera e se torna chuva em outras regiões do Brasil”, diz a nota técnica da UFSC.

“A pesquisa revela que 80% da chuva na Amazônia são responsáveis por abastecer o agronegócio brasileiro em 57% e que, se esse território for bombardeado pelas usinas hidrelétricas”, defendeu.

Xakriabá, que se tornou a primeira indígena com o título de doutorado, disse que uma economia inteligente é uma economia que não está acima da vida.

De acordo com a pesquisa, a agricultura e a pecuária estão entre as atividades que mais consomem água no Brasil, ou seja, a chuva é condição fundamental para o exercício dessas atividades.

A renda econômica do setor agropecuário dos estados mais beneficiados por essa chuva totalizou, em 2021, R$338 bilhões, cerca de 57% da renda agropecuária nacional.
Além disso, dizem os pesquisadores, a participação da agricultura familiar no valor da produção total supera os 50% em vários estados influenciados.

“Ou seja: as chuvas provenientes dessas terras indígenas contribuem diretamente para a segurança alimentar nacional, já que grande parte da produção desses pequenos produtores é destinada ao mercado interno”, diz o estudo.

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Entenda

Os pesquisadores argumentam que o desmatamento e a degradação das florestas nas terras Indígenas causam a redução dessas chuvas e, com isso, acarretam riscos graves à segurança hídrica, alimentar, energética e econômica do país.

“A conservação dessas florestas é crucial não só para garantir a segurança hídrica e alimentar do país, mas também a cadeia produtiva do agronegócio e, portanto, a produção econômica de uma significativa parcela da economia nacional”, alegam.

Rondônia e Mato Grosso, por exemplo, figuram entre os nove estados mais influenciados por essa chuva, mas ao mesmo tempo estão entre os estados que mais desmataram florestas desde 1985.

Foto: divulgação